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A pouca atenção dada ao ensino técnico e tecnológico no país nos últimos 15 anos tem reflexos não apenas nas salas de aula, que sofrem com o déficit de professores e o improviso. O mercado de trabalho enfrenta dificuldades para recrutar profissionais da área, tanto pela carência de mão de obra em alguns setores quanto pela falta de capacitação dos egressos, que não conseguem atender às exigências das empresas.

De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) no Paraná, Sônia Gurgel, uma medida tomada pelo governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso em 1996, que dissociou o ensino técnico do ensino médio, contribuiu para que muitos estudantes desistissem de abraçar as carreiras técnicas. Em 2004, a integração voltou a ser possível, mas, durante esse período, quando muitas escolas técnicas foram fechadas, a demanda foi reprimida e os reflexos são sentidos até hoje por educadores e empresários.

A primeira das consequências, de acordo com Sônia, foi a menor oferta de profissionais. Hoje, não é raro encontrar recrutadores de RH que afirmem ter dificuldades para preencher vagas nas áreas tradicionais como as engenharias (elétrica e mecânica, por exemplo). Como resultado, os salários costumam ser elevados, o que, segundo ela, é um atrativo para os recém-formados, mas um risco para as empresas. "O empregador acaba perdendo a referência salarial e encarecendo o produto, o que faz com que ele perca a competitividade para o produto que vem de fora", diz Sônia, que afirma que muitos empresários já começam a importar profissionais do exterior que atuem nas áreas técnicas.

Uma alternativa que começa a ser estudada, de acordo com a psicóloga e analista de recrutamento do Grupo SIP Lucélia Rufino do Nascimento, é contratar profissionais pouco capacitados e treiná-los depois. "As empresas acabam flexibilizando, pois é melhor do que ficar sem mão de obra, mas também sai mais caro." Segundo Lucélia, há dificuldades para encontrar profissionais das áreas de logística, informática, administrativo e financeiro, além das engenharias.

Retorno

Criado com o objetivo de proporcionar formação profissional de forma mais rápida do que a proporcionada pelas graduações tradicionais, os cursos técnicos e tecnológicos começam a ser novamente valorizados no país, especialmente após a expansão da área promovida pelo governo Lula.

Para quem "arriscou" e investiu nesses cursos, o retorno costuma ser garantido, como é o caso do tecnólogo Carlos Augusto Dorazio Turqueti, 25 anos, formado em tecnologia eletrônica com ênfase em automação industrial pela UTFPR. No último período, ele já estava contratado por uma empresa especializada na manutenção de equipamentos para aeronaves. Durante a faculdade, ele afirma que toda semana era possível encontrar ofertas de vagas de estágio para os alunos. Agora, ele pensa em se inscrever em um mestrado com o objetivo de dar aulas, seguindo o caminho oposto ao de muitos companheiros de profissão.

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