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Quem caminha pelas ruas do centro de Foz do Iguaçu pode escutar, no espaço de poucas quadras, gente conversando em português, espanhol, árabe, japonês. Normal. O município, com 260 mil habitantes, abriga 70 etnias. Isso sem falar nos cerca de 450 mil estrangeiros, de 142 países, que visitam Foz todos os anos e aumentam ainda mais a torre de babel que a cidade se transformou a partir de década de 30, com a criação do Parque Nacional do Iguaçu – onde estão as Cataratas – e com a chegada de trabalhadores de todo o Brasil para a construção da usina hidrelétrica de Itaipu, nos anos 1970. Some a isso a singular localização, na fronteira com o Paraguai e a Argentina, um lugar único.

A diversidade cultural do Sudoeste foi um dos assuntos debatidos no Fórum Futuro 10 Paraná, realizado na última quinta-feira, em Foz do Iguaçu. Promovido pela Rede Paranaense de Comunicação (RPC)/ Gazeta do Povo, o fórum pretende discutir e planejar o desenvolvimento do estado. "A mistura de povos, o fluxo de turistas e a riqueza cultural fazem de Foz uma experiência fascinante", diz o professor Mauro José Cury, coordenador do curso de Turismo da União Dinâmica de Faculdades Cataratas (UDC), uma das maiores instituições de ensino superior da região.

Mineiro, Cury chegou a Foz há 20 anos. Trocou o pão de queijo pela chipa, biscoito típico do Paraguai, feito de polvilho, vendido nas ruas do centro da cidade."No começo, essa forte presença das culturas paraguaia e argentina, para mim, foi um choque", diz ele. "Depois, percebi que era um privilegiado, por ter contato com essa riqueza."

História semelhante conta o empresário Harry Daijó. Paulista, filho de japoneses, Daijó veio para Foz há 33 anos. Sua condição de "estrangeiro" em nada atrapalhou sua eleição para prefeito, cargo que ocupou de 1997 a 2000. "Qualquer cidade do mundo gostaria de ter o que nós temos aqui", diz Daijó, que tornou obrigatório o ensino de espanhol nas escolas municipais durante seu governo. "Só falta transformar essa riqueza cultural em riqueza material."

A mesma opinião tem o empresariado local. A criação da zona de livre comércio em Cidade de Leste, no Paraguai, unida a Foz pela Ponte da Amizade – e a facilidade com que produtos importados começaram a ser trazidos, ilegalmente, para o Brasil – criou na região uma informalidade de proporções dramáticas. "É difícil competir com quem não paga imposto", reclama Paulo Pulcinelli Filho, dono de quatro lojas de material de construção civil. Ele vende um saco de 50 quilos de cimento a R$ 16,30. O mesmo produto, trazido do Paraguai, é vendido por R$ 14 por contrabandistas.

Nos últimos anos, a Receita e a Polícia Federal vêm apertando o combate ao contrabando, o que cria um outro problema. Milhares de pessoas que trabalhavam como "laranjas", pagos para cruzar a fronteira com produto contrabandeado, estão ficando sem trabalho.

O desemprego contribuiu para aumentar a violência na região, segundo Geraldo Pereira, delegado da Polícia Federal na cidade. A informalidade e a facilidade que se tem para cruzar a fronteira também incentivam o tráfico de entorpecentes e os crimes ambientais. "É uma situação que só vai melhorar com o desenvolvimento da região", diz ele. "Para isso, pode-se começar aproveitando as potencialidades do turismo e a riqueza cultural."

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