Condições climáticas e estruturais fazem Curitiba e região metropolitana terem garantias de que, num horizonte próximo, não terão experiências parecidas com as vivenciadas em São Paulo, com a falta de água no sistema Cantareira. Mesmo que não caia uma gota de chuva aqui durante oitos meses – e não há previsão de que isso vá acontecer –, a Sanepar assegura que o abastecimento na RMC não será afetado. Isso porque no passado foram construídas barragens para represar a água, formando grandes reservatórios. Todos estão, atualmente, com mais de 90% da capacidade.

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INFOGRÁFICO: Confira como funciona o Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba

Como funciona o sistema Cantareira

Uma obra cara e moderna à época em que foi realizada, entre as décadas de 1960 e 1970, o sistema Cantareira deveria ser uma garantia de abastecimento de água para a capital de São Paulo e para os municípios ao Norte na região metropolitana. Por ter uma estrutura tão grande, praticamente virou a única fonte – hoje deveria suprir 70% da Grande São Paulo. Já que a sequência de represas foi feita numa área de serra, em que chove muito, a perspectiva de estiagem prolongada não foi considerada. "Só resta mesmo rezar para São Pedro pedindo chuva", diz o diretor de Operações da Sanepar, Paulo Alberto Dedavid, ao comentar a escassez nos reservatórios paulistas.

Como as represas chegaram ao chamado "volume morto" – quando a água é captada abaixo do nível em que estão os canos de coleta – a previsão é de que o sistema todo levará mais de quatro anos, assim que a chuva volte à regularidade, para se recuperar. A curto prazo, não há como construir uma grande rede capaz de substituir a Cantareira. São Paulo já está procurando água cada vez mais longe. Até o Rio Ribeira, na divisa com o Paraná, está sendo avaliado. O problema é que quanto mais distante o sistema vai buscar água, mais caro o serviço fica. Mananciais que ficam a 80 quilômetros da capital estão sendo estudados.

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Além de não sofrer com a escassez de chuva, a região de Curitiba tem um sistema de captação bem diferente do Cantareira. Aqui funciona o que o diretor de operações da Sanepar, Paulo Alberto Dedavid, chama de "integrado-independente". Enquanto em terras paulistas, trata-se de uma sequência de represas, com a anterior abastecendo a seguinte, no Paraná, as barragens ficam em pontos distantes uns dos outros (veja no mapa abaixo), que contornam a Grande Curitiba. Elas fornecem água para estações de tratamento que podem atuar bombeando apenas para regiões mais próximas ou – na falta de água em outros sistemas – para a cidade toda, através de adutoras (canos de grande diâmetro).

O projeto de construção de uma quinta barragem, no Rio Miringuava, já começou e deve dar ainda mais folga para o sistema no quesito oferta de água. É preciso, contudo, lembrar que enquanto a rede de Curitiba e região fornece água para 3 milhões de pessoas, o sistema Cantareira é responsável por abastecer uma população equivalente ao Paraná todo.

Mesmo com água sobrando, a Sanepar reconhece que ocorrem problemas pontuais de distribuição. Alguns bairros, mais altos ou mais distantes dos reservatórios, são prejudicados pela dificuldade de bombeamento da água. A empresa alega que não pode usar muita pressão para não estourar a tubulação nem diminuir muito a força, pois a água não chegaria às torneiras. Encontrar o equilíbrio – já que o consumo varia o tempo todo – é uma tarefa difícil.

Nem todo o Paraná experimenta a mesma tranquilidade vivida em Curitiba e região. Como mostrado na edição de ontem da Gazeta do Povo, 42 cidades do estado estão com a estrutura de abastecimento – captação, tratamento e/ou distribuição – sobrecarregadas, operando no limite da demanda ou até sem conseguir atender todos os consumidores.

O pesadelo

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Sem risco de faltar matéria-prima – no caso, água –, a principal preocupação da Sanepar para garantir o abastecimento é que não falte energia elétrica. Todo o sistema precisa ser bombeado e quando "a luz cai", o serviço de água também é interrompido. Foi o que recentemente aconteceu em Campo Largo. Além de estragos provocados por granizo na estação de tratamento de água, boa parte da cidade ficou sem energia elétrica, deixando muitos moradores também com a torneira seca. A energia elétrica também é um vilão para o bolso do consumidor de água. Segundo dados da Sanepar, 40% do valor de operação do sistema vai para pagar a fatura de energia. Nenhum custo – nem produtos químicos, nem pagamento de salários – é mais representativo na composição do preço da água do que a eletricidade.