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Cajuru destoa de outros extremos: trilho de trem é marco do tráfico | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Cajuru destoa de outros extremos: trilho de trem é marco do tráfico| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Exceção

Bairro do Cajuru é conhecido por alta ocupação e violência

O Cajuru só perde para a Cidade Industrial e o Sítio Cercado em número de mortes violentas, neste ano, de acordo com os boletins do Instituto Médico-Legal. A violência é fruto de uma densidade demográfica – que cresceu 516% entre 1970 e 2007 – e por uma dificuldade de impedir as ocupações irregulares no local onde seria instalado um parque.

Em oito anos, uma associação de moradores do bairro contou 600 funerais em seu espaço de atuação – 80% deles consequências de mortes violentas. Em outro ponto, traficantes invadiram um velório e dispararam 15 tiros contra o caixão há dois anos.

A disputa pelo tráfico, aliás, apresenta marco territorial no Cajuru: a linha do trem. "É onde acontece a violência. Os jovens não podem cruzar de um lado ao outro por causa do conflito das gangues", relata Maria, nome ficítio para uma moradora do bairro que tem medo de se identificar.

Essa situação, segundo outro morador, é o reflexo da falta de policiamento do bairro e do poder do tráfico de drogas. "O que mais pesa no bairro é a violência. O povo sai da roça e vem para a invasão, mas não consegue emprego, criando condição de favela", diz Manoel, outro que prefere não ser identificado pelo seu verdadeiro nome.

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Vida tranquila e baixa ocupação demográfica. Os bairros localizados nos extremos de Curitiba apresentam características diferentes das que seriam esperadas de qualquer bairro de uma metrópole. Isso foi possível graças aos Planos Diretores do município, que, para evitar a conurbação com os municípios da região metropolitana, previram um baixo índice habitacional nos bairros das bordas da cidade. Dentro desse planejamento, a cidade teve êxito em três desses quatro pontos: Lamenha Pequena (Norte), Caximba (Sul) e Riviera (Oeste). Com uma superpopulação, resultado das ocupações irregulares, e problemas de segurança pública, o Cajuru (Leste) é a exceção.De certa forma, Curitiba cresceu de forma "torta", pendendo para o Leste e também para o Sul, como reflexo dos planos de habitação do município. É o que diz o professor do programa de pós-graduação, mestrado e doutorado em Gestão Urbana e do curso de Arquitetura e Ur­­ba­nismo da Pontifícia Uni­ver­sidade Católica do Paraná (PUCPR) Tomás Moreira. "A definição de áreas prioritárias de interesse social estão localizadas bem ao Sul ou a Leste. Como havia necessidade de regularizar essas áreas, acabaram optando por essas regiões", esclarece. E esse crescimento acaba por se refletir em outras áreas, como no transporte coletivo, por exemplo, com a necessidade de aumento da oferta de ônibus para essas regiões.

Mas o próprio baixo índice demográfico dos outros bairros das bordas da cidade – como a Lamenha Pequena, Riviera e Caximba – faz parte da visão municipal. O supervisor de informações do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Lourival Peyerl, afirma que havia mesmo a intenção de que os bairros localizados ao extremo fossem pouco habitados. "A Riviera e a Lamenha Pequena estão na área de proteção do Passaúna. Ali não vai se admitir alta densidade jamais, porque compromete a região", explica Peyerl.

Na Caximba, há impedimentos em razão da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Iguaçu. "Campo do Santana e Tatuquara, que são próximos, passaram a ser ocupados nos últimos dez ou quinze anos. Mas, na Caximba, é preciso ter convivência com a APA", diz.

No Cajuru, por outro lado, houve falhas no monitoramento e fiscalização da região. "O Parque do Iguaçu deveria ter sido implantado, mas não conseguiu ser viabilizado por causa das ocupações irregulares. O município não teve forças para impedir isso", diz.

Aterros

Extremos são marcados por lixo

Há muito em comum entre a Caximba e a Lamenha Pequena, apesar de uma Curitiba inteira separar os dois bairros. Até 1989, o Aterro da Lamenha Pequena abrigou o lixo da cidade. De 1989 até o mês passado, o Aterro da Caximba ficou responsável por receber os resíduos da capital e de outros 17 municípios da região metropolitana. Receber o lixo do vizinho, porém, não passou incólume, ainda mais em bairros tão distantes do Centro da cidade: deixou uma cicatriz aberta na comunidade.

Lamenha Pequena e Caximba são bairros bucólicos, lembrando pequenas cidades de interior. Na Lamenha, no extremo Norte, mesmo com a proximidade do Centro e de pontos turísticos como a Ópera de Arame, é mais fácil enxergar animais nas ruas do que gente. Nos poucos minutos de "viagem" até lá, a paisagem se transforma e o movimento incessante de carros abre espaço para o silêncio. Na Lamenha, faltam equipamentos urbanos para atrair a atenção dos moradores. Não bastasse isso, há uma grande faixa em que a construção é impedida em razão do aterro sanitário.

A Caximba, no extremo Sul, por outro lado, espera ser recompensada pelo tempo em que o aterro permaneceu aberto. As principais reclamações dos moradores são hoje a falta de ônibus que se conecte ao Terminal do Pinheirinho, a regularização fundiária da região e a valorização das olarias, onde são construídos parte dos tijolos que puxam o boom da construção civil na capital. "Nós queremos saúde, educação, asfalto. Queremos ser o bairro da vida, não mais o do lixão", afirma o padre José Antônio Cunha, um dos líderes da comunidade.

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