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Durval, 87 anos, com Durval Filho, 20, e Daniel, 18 anos: tios mais jovens que sobrinhos | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Durval, 87 anos, com Durval Filho, 20, e Daniel, 18 anos: tios mais jovens que sobrinhos| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Nas mãos da medicina

O aparelho reprodutor masculino sofre danos com o envelhecimento, ainda que em menor escala do que o da mulher. A fertilidade do homem pode ser afetada pela idade, com a queda da produção de espermatozóides, que também pode ser provocada por doenças como diabetes, arteriosclerose e hipertensão. Abuso de álcool, tabaco, alimentação errada e exposição frequente a radiações também alteram a qualidade do gameta masculino.

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Aspectos negativos

A paternidade em idade avançada tem alguns riscos. Confira:

- Genética – estudos recentes sugerem que o envelhecimento masculino também altera a qualidade do espermatozóide, aumentando o risco de pequenas anomalias, como dentes desiguais ou ossos assimétricos, ou maior probabilidade de aborto. Algumas pesquisas apontam ainda que o DNA desses espermatozóides possa ter alterações genéticas que favoreçam quadros de esquizofrenia nos filhos adultos, em casos raríssimos.

- Permissividade – na tentativa de compensar o tempo de convivência com o filho tardio, o homem maduro corre o risco de relaxar na educação da criança. Conceder todas as vontades é prejudicial à formação do caráter da criança.

- Cuidadores precoces – Eles foram pais mais tarde, e seus filhos serão cuidadores mais cedo. O envelhecimento dos pais precisa estar presente na educação dessas crianças. "O avanço da idade exige amparo, e o filho vai assumir a responsabilidade pela saúde dos pais muito mais jovem do que o natural. Isso vai exigir estrutura e maturidade precoce", aponta a terapeuta Elza Vicente de Carvalho.

O álbum de família é um divertido jogo de quebra-cabeças. Senhores grisalhos com bebês no colo, homens maduros jogando bola com moleques que têm energia e disposição de sobra. Mas onde a imagem sugere avô e netos, na verdade, são pai e filhos. Longevidade, qualidade de vida, sexualidade ativa e os casamentos na terceira idade são fatores que favorecem a paternidade tardia.

A idade fértil do homem é mais elástica do que a das mulheres, limitada pelo fim da ovulação e a menopausa, em geral a partir dos 50 anos. Eles podem ter filhos bem mais tarde, sem que corram muitos riscos quanto à saúde do bebê. Essa ‘vantagem’ fica evidente nos casamentos maduros. Com a parceira mais jovem, eles começam tudo de novo, inclusive o exercício da paternidade. Nos Estados Unidos, o fenômeno tem nome e apelido: Start Over Dads (SOD), ou "papais de novo".

Ter filhos quando se esperavam netos é quase um elixir da juventude. Muitos papais-avôs relatam a experiência como um sopro de energia e vitalidade. "Além disso, é uma chance de rever condutas e experiências de vida em fases anteriores. Pais muito jovens que não tiveram tempo nem maturidade para curtir a prole podem fazê-lo na terceira idade", aponta a terapeuta familiar sistêmica Elza Vicente de Carvalho. A chegada do bebê também pode desencadear mudanças quanto ao próprio estilo de vida. O indivíduo passa a cuidar melhor da saúde e trata de aumentar a expectativa de vida para acompanhar o filho pelo maior tempo possível.

O amadurecimento emocional também vai ajudar o pai tardio nas dúvidas típicas na conduta da educação das crianças, pois é menos aflito com a experiência. "Além de estar mais presente, ele tende a ter mais paciência e tolerância com o filho gerado na maturidade. A distância das gerações é superada justamente pela experiência e pelo amor", explica a terapeuta.

A chance de exercer a paternidade tardia também proporciona momentos de reflexão e resgate com os primeiros filhos. "Se há algum conflito com relação aos filhos mais velhos, é possível que o caçula ajude o pai a rever essa postura e resgatar a relação anterior." O investimento na convivência saudável e produtiva vai compensar o tempo de acompanhamento do desenvolvimento da criança. "Longevidade não é eternidade. É preciso ter foco na qualidade da relação. E a família também deve se preparar para as limitações que esse pai terá no futuro", alerta Elza.

A obsessão pela morte é um dos pontos de maior atrito entre comerciante aposentado Durval Ramos, a mulher Zenira e os filhos Durval Filho, de 20 anos, e Daniel, de 18 anos. Aos 87 anos, Ramos já construiu o próprio túmulo no cemitério de Antonina, onde mora com a esposa. "Toda vez que ele fala em morte, é uma briga lá em casa. Mas ele já definiu até o velório", conta Durval Filho. Com uma alimentação balanceada e rotina militar de dez quilômetros de pedaladas e atividades domésticas, Ramos não tem nenhum problema de saúde. "Ele está muito melhor do eu", conta o estudante.

Os meninos são fruto do segundo casamento. Ramos tem ainda outras três filhas, que já deram a ele oito netos e cinco bisnetos. "Ensino meus filhos o caminho em que devem andar. Todos são obedientes e sabem que precisam estudar", diz.

A diferença das gerações – as irmãs de Durval Filho são mais velhas do que a mãe dele, sem contar os sobrinhos-netos que o rapaz de 20 anos tem – é superada com a interferência de Zenira. É a mãe que contemporiza quando pai e filhos se estranham. "Se ele implica com alguma coisa, principalmente com meus horários, é ela quem coloca panos quentes", diz.

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