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| Foto: Fernando Frazão/ABr

Comunidade quer moradia digna

A ocupação por 2,7 mil homens das Forças Armadas e da Polícia Militar não muda a rotina dos 130 mil moradores do Complexo da Maré, no Rio. A vida segue como sempre, em meio à pobreza extrema, valas de esgoto e moradias improvisadas. "A gente quer é que nos tirem daqui, moço. Quando chove, a água sobe e o esgoto invade tudo. A gente quer um lar, para podermos viver com os nossos filhos", pediu Welington Barbosa de Oliveira, que trabalha como pescador e mora às margens de um valão na localidade conhecida como McLaren (foto), na Vila do Pinheiro. Aos 25 anos e pai de cinco filhos, ele quer ajuda do Estado para sair da casa de compensado. A assessoria de comunicação da Força de Pacificação disse que não há, por parte dos militares, nenhum pedido para remover moradores das comunidades.

Opinião

Só a polícia subiu o morro

Katia Brembatti, repórter.

Guerra significa disputa por território e poder. É isso que se instalou nos morros cariocas nos anos 1980. Nessa lógica, as UPPs surgiram para retomar esses territórios dos traficantes e devolver a liberdade de ir e vir aos moradores. Mas quando só a polícia sobe o morro, mudam apenas os donos.

Em 2011, tive a oportunidade de conhecer 10 comunidades pacificadas, para a campanha Paz sem Voz, do GRPCom. À época, o Complexo da Maré foi lembrado como a prova de fogo, por ser um ponto nevrálgico da criminalidade. Há dois meses da Copa, esse fato se soma ao desgaste do modelo. Tem tráfico nos morros pacificados? Tem. Assim como no Batel. Não é a UPP que vai resolver isso. Mas se o resto do Estado não subir o morro, levando educação, saúde e lazer, as comunidades continuarão sujeitas às mazelas que as tornam suscetíveis ao avanço da criminalidade.

Tropas das Forças Armadas foram atacadas por criminosos em pelo menos cinco pontos no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, entre a noite de segunda-feira e a madrugada de terça-feira. Os militares do Exército e da Marinha patrulham 15 favelas da região desde sábado, quando substituíram a Polícia Militar.

Em três locais, os tiros foram disparados por ocupantes de um Corolla preto em direção a pontos de mototaxistas nas imediações das favelas Vila dos Pinheiros, Conjunto Esperança e Vila do João. As três comunidades são dominadas por traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP). A poucos metros dos pontos dos mototáxis atacados, havia barreiras montadas pelos militares, que não revidaram os tiros.

Também houve diversos disparos contra os militares nas favelas Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau, que também ficam na área de atuação do TCP. Nestes casos, contudo, os tiros vieram das favelas Nova Holanda e Parque Maré (controladas pelo Comando Vermelho), provavelmente disparados por traficantes.

No ataque ao ponto localizado no acesso ao Conjunto Esperança, foram disparados quatro tiros. Fabio da Silva Barros, de 28 anos, foi baleado no braço direito. Os militares que estavam no ponto de bloqueio próximo acionaram uma ambulância do Samu para levá-lo ao hospital. O caso foi registrado na 21.ª DP (Bonsucesso) como tentativa de homicídio. A vítima já havia sido presa por estelionato pela Polícia Federal.

"Os eventos contra os pontos de mototáxi têm ligação entre si, que já estão sendo investigados. Nos outros dois casos, foram tiros isolados, que foram destinados à nossa tropa. O objetivo é causar inquietação. Mas temos muitos militares experientes, com passagens pelo Haiti e pela Força de Pacificação do Alemão", explicou o major Alberto Horita, da Força de Pacificação da Maré.

Em nota, a Força de Pacificação informou que "embora tenha ocorrido a pronta resposta pela tropa em todos os eventos citados, não foi possível realizar a detenção de nenhum integrante das organizações criminosas, tendo em vista que os mesmos realizavam os disparos e imediatamente se evadiam do local".

Rocinha

Ainda ontem, o policial militar Lucas Falcon Santos Barreto, de 23 anos, que estava desaparecido desde a noite de segunda-feira, foi resgatado por dois helicópteros da PM. Lotado na UPP da Rocinha, alvo de várias represálias nos últimos meses, ele está internado no Hospital Central da PM com 10 perfurações a bala. Ainda não se sabe em que circunstâncias Lucas foi alvejado.

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