Moda que dói

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A cabeleireira Luzia Maria de Oliveira, 40 anos, se equilibra há quase 30 em botas de salto fino, todos os dias. De acordo com ela, o salto serve para compensar a pouca altura e a deixa mais bonita. "Até mesmo no verão, não dispenso a bota com salto alto. Só na praia é que troco pelo tamanco. Já tentei usar sapato baixo, mas não consigo. Sinto muitas dores na panturrilha", conta.

Assim como ela, outras tantas mulheres e homens sacrificam o conforto em nome da vaidade, sem pensar que algumas tendências podem fazer mal à saúde e provocar problemas permanentes. Veja o que dizem os médicos sobre alguns destes produtos:

Bolsas grandes (foto 1)

As maxibolsas, além de bonitas, têm espaço para tudo o que você precisa. O problema é carregar isso tudo. "Exigir mais esforço apenas de um lado do ombro desequilibra o esqueleto e afeta não só o ombro, mas também a coluna, o joelho e o pé", explica o ortopedista Eduardo Novak, do Hospital Nossa Senhora das Graças. Dores musculares, tendinites e alterações posturais, como escoliose, além de hérnia de disco e bico de papagaio, são alguns dos problemas provocados pelo excesso de peso. "O ideal é carregar bolsas menores, só com o essencial. Se não for possível, prefira as bolsas com alças transversais ou então, as mochilas", aconselha o fisioterapeuta Alexandre Colete da Silva, do Programa de Atendimento a Domicílio Saúde em Casa.

Tecidos sintéticos (foto 2)

Outra dica é dar preferência aos tecidos naturais, como o algodão. "O atrito da pele com tecidos como náilon e poliéster, além do aumento da umidade, favorece o desenvolvimento de fungos e desencadeia irritações dermatológicas, como as foliculites", explica o dermatologista Aguinaldo Bonalum.

Salto alto (foto 3)

Eles deixam as pernas torneadas e a postura elegante, mas quem paga o preço são os pés. De acordo com o ortopedista Eduardo Murilo Novak, os saltos forçam as mulheres a se equilibrar sobre as pontas dos pés, que não foram feitas para suportar tanto peso. "A parte da frente dos pés é composta de ossos finos e longos, que servem para dar impulsão ao passo. Já o calcanhar tem ossos mais robustos e fortes, além de um coxim de gordura, que serve para absorver o impacto e sustentar o peso do corpo", explica.

Segundo o fisioterapeuta Alexandre Colete, o uso frequente de saltos causa interferência no centro de gravidade de corpo e, consequentemente, calos, dores musculares, aumento da lordose lombar, atrofia do tendão de aquiles, encurtamento da parte posterior da perna – motivo das dores que sente a cabeleireira Luzia. "Quanto mais alto o salto, piores são as consequências. Se o sapato for de bico fino, as chances de desenvolver calos e agravar os joanetes são ainda maiores. O ideal é que o salto não passe de cinco centímetros", recomenda.Saltos plataforma, embora mais confortáveis, também são perigosos. "Se a altura da plataforma for muito exagerada, o corpo perde a função de propriocepção, que é a consciência da posição do corpo, a capacidade de ler as informações do solo. Sem essa função, o risco de lesões e fraturas é iminente", explica Novak.

Piercings

Hoje, eles já fazem parte da produção de muitos jovens, mas, segundo o dermatologista Aguinaldo Bonalum, da Paraná Clínicas, os piercings podem se tornar perigosos na fase de colocação, se o material utilizado não for adequado e esterilizado; e após, se o local não for higienizado com frequência ou sofrer traumas repetidos. Infecções, alergias e o surgimento de cicatrizes são os problemas mais comuns. "O período de cicatrização completa do furo do piercing é longo. Nesta fase, os cuidados devem ser redobrados. Evite banhos de piscina e de mar, não manipule o piercing com as mãos sem lavar e, se ele tiver sido colocado na língua, a limpeza após as refeições é obrigatória", explica.

Roupas justas

De acordo com o angiologista Maurício Abrão, do Hospital das Nações, as roupas justas não causam varizes nem celulite, como muitos acreditam. "A não ser que se passe um tempo muito prolongado com a roupa e sem poder se movimentar", explica o médico. Já o uso prolongado de cintas ou bermudas elásticas, que afinam a silhueta e escondem as gordurinhas localizadas, pode ser prejudicial. "Se o uso for frequente e sem orientação médica, as cintas podem dificultar tanto a circulação linfática, quanto a venosa, causando edemas dos membros inferiores." Cinturas marcadas por cintas ou cintos apertados também atrapalham a digestão. Quando o estômago dilata, após uma refeição, e é comprimido, os ácidos sobem para o esôfago, podendo causar azia e refluxo.

Os homens também são prejudicados pelo uso de calças muito justas. Segundo o urologista Rogério Guedes, também do Hospital das Nações, o uso de calças justas é a principal causa de dor testicular. As calças coladas também podem diminuir a produção de espermatozoides. "Isso porque aquecem a região testicular, não permitem a transpiração, levando ao atrofiamento dos testículos e consequentemente à infertilidade", explica.

Já nas mulheres, esse aquecimento provocado pelas calças muito justas, aumenta a acidez vaginal, levando à proliferação de fungos e bactérias, responsáveis pelas infecções, entre elas a urinária. "O ideal, principalmente no verão, é usar roupas mais soltas e confortáveis, como saias e vestidos, para garantir maior ventilação da região.