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Uma, duas, três vezes. Este é o número de contaminações sofridas pela cozinheira Rosimeire Ferreira dos Santos, 30 anos, que foi infectada pelo mosquito Aedes aegypti – transmissor do vírus da dengue. "Na primeira, tive dengue hemorrágica; na segunda, clássica; e, na terceira, hemorrágica novamente. O médico disse que é difícil ter duas dengues hemorrágicas, mas aconteceu comigo", falou.

Como conseqüência das contaminações, Rosimeire, que está com uma hemorragia vaginal desde outubro de 2010, acredita que seja um dos prejuízos deixados pela doença. "Fiz uma biópsia e estou aguardando pelo resultado, mas acho que pode ser uma sequela", disse. Outros exames também foram feitos pela cozinheira para tentar diagnosticar a origem do sangramento.

Nas duas vezes em que teve a versão hemorrágica da doença, Rosimeire sangrou os ouvidos, o nariz e o couro cabeludo. "Achei que fosse morrer. Pesava 70 quilos e hoje estou com 40 [quilos]. Além disso, tive pneumonia e não consigo controlar a pressão [arterial] que está muito alta, 16 por 11", contou. Para tentar equilibrá-la, usa medicamentos diariamente.

Rosimeire é inquilina da cabeleireira Cleide Maria Alves Vaz, 41 anos, que também foi contaminada pelo mosquito, juntamente com o marido, Robson Vaz, 45, e as filhas Brenda Caroline Alves Vaz, 16, e Amanda Alves Vaz, 13. Cleide e a família fazem parte da estatística que engrossa a lista de infectados em Belo Horizonte.

Cleide foi vítima da doença por duas vezes, em 2009 e 2010, e também se queixa dos incômodos trazidos pela dengue. "Tive muita dor de cabeça, cansaço e falta de apetite", relembrou. Atualmente, para controlar a pressão arterial, a cabeleireira faz uso de seis comprimidos diários e caminha 40 minutos de segunda a sexta-feira, como complemento do tratamento estipulado pelo médico. Pelos remédios desembolsa R$ 100 por mês.

Ela, que teve o coração aumentado de tamanho, acredita que o problema surgiu por conseqüência das dengues que contraiu. "Antes, eu não tinha nada. Os problemas apareceram depois das doenças. O que eu passei não quero que ninguém passe", desabafou.

Em casa, para afastar o mosquito, Cleide usa inseticidas, raquete elétrica e incensos de citronela. "Dizem que esse cheiro é bom para espantar. Não posso, de jeito nenhum, pegar dengue pela terceira vez, senão eu morro", disse, em tom aflitivo.

As moradoras também reclamam da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). De acordo com elas, a PBH não vai ao bairro para fazer os mutirões de limpeza que ajudam no combate ao Aedes aegypti.

Dengue em BH

O calor do verão associado às chuvas que são comuns neste período do ano é uma combinação perigosa para o crescimento e a proliferação do mosquito da dengue. Em Belo Horizonte, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), 1.762 casos da doença foram notificados em 2011. Em 2010, foram 5.918.

Já o número de casos confirmados neste ano é de 187 na capital mineira, contra 4.309 casos no mesmo período do ano passado. Uma diminuição de 95,6%. O bairro com maior número de casos confirmados é o Céu Azul, na Região de Venda Nova, com sete pessoas infectadas.

De acordo com a PBH, a diminuição no número de casos aconteceu porque a administração municipal faz reuniões de planejamento com a lideranças dos bairros, avalia e presta contas das ações realizadas. Ainda conforme a assessoria, a cada 100 dias, os mutirões são realizados nos bairros para combater o mosquito da dengue.

O secretário-adjunto municipal de Saúde, Fabiano Pimenta, disse que mutirões são realizados na Região de Venda Nova para retirar materiais descartáveis que possam acumular água e favorecer os criatórios do mosquito.

Com relação à infestação do bairro Céu Azul, Pimenta falou que Venda Nova possui um relevo mais alto e que o clima contribui para a proliferação do Aedes aegypti. Outro fator destacado por ele é com relação às construções horizontalizadas. "Os mosquitos preferem este tipo de construção porque são baixas e têm quintais com plantas", destacou.

Para completar, segundo o secretário-adjunto, a alta densidade populacional na região também é um fator que pode permitir o alastramento da doença porque as pessoas estão mais próximas umas das outras. De acordo com a assessoria de imprensa da SMSA, o bairro Céu Azul tem quase 26,3 mil habitantes.

A assessoria da Regional Venda Nova informou que, por meio do programa "Bairro Vivo", realiza mutirões no Céu Azul. O último foi em dezembro de 2010 e o próximo está previsto para abril de 2011.

Ainda segundo o órgão, de 80% a 90% dos focos larvários são encontrados nos imóveis residenciais. Em janeiro e fevereiro de 2010 foram notificados, na Região de Venda Nova, 788 casos de contaminação da doença – 84 confirmados no bairro Céu Azul. No mesmo período de 2011, foram 18 – com sete confirmações no mesmo bairro.

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