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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A quadra da Rua Doutor Faivre, no Centro de Curitiba, ocupada pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) tem apenas dois prédios residenciais. Apesar de nem todos o moradores apoiarem a militância do grupo, a maioria viu com bons olhos a instalação do acampamento. O motivo: com a ocupação da rua, os moradores passaram a se sentir mais seguros.

“Essa rua é uma marginalidade, tem muito assalto. Com a presença deles [do MST], acabaram os ladrões. A gente se sente mais tranquilo”, disse uma moradora, que pediu para não ser identificada. “Por mim, eles podem ficar um ano aí”, apontou outro.

A presença dos sem-terra também aguçou a curiosidade dos vizinhos em relação ao movimento e até para fazer amizades. “Hoje, eu fiquei das 10 às 11 horas lá embaixo, conversando com eles”, disse um aposentado. “Eu ganhei um milho cozido, que estava uma delícia. Quando eu voltar da missa, vou passar ali, ver se tem mais”, disse uma mulher, que há dois anos mora em um dos apartamentos.

Assunto do dia, o acampamento também dominou as rodas de conversa no Edifício Dr. Faivre. À tarde, por exemplo, os condôminos discutiam aspectos políticos da reforma agrária. “Eu acho a luta justa, mas acho que eles são todos um braço do PT”, opinou um aposentado. “Isso é besteira. Mesmo quando o Lula era presidente, eles já ocupavam a sede do Incra, aqui. É a luta deles”, retrucou o porteiro do prédio.

Motivos

O acampamento urbano e a ocupação da sede do Incra fazem parte da Jornada Nacional de Lutas. No Paraná, o MST reivindica que o novo superintendente regional a ser nomeado para o Incra seja um técnico de carreira e não, mera indicação política. O movimento cobra ainda a retomada do processo de reforma agrária, com o assentamento das 10,2 mil famílias que hoje estão acampadas em todo o estado.

“Tem gente que está acampada mais de 12 anos. Enquanto isso, tem um levantamento do Incra que mostra que o Paraná tem 120 mil hectares passíveis de serem regularizados para fins de assentamentos”, disse Simone Resende.

Mas não é todo mundo que está contente com o acampamento, pois a ocupação afetou negativamente pontos comerciais que funcionam no local. Segundo os empresários, o acampamento impede o acesso de fornecedores e afugentou clientes, derrubando o movimento em 70%. Eles se queixam, ainda, de não terem sido consultados pelos sem-terra sobre a manifestação.

“Quando vimos, eles já estavam armando o barracão aqui e não teve conversa. Estamos praticamente parados, porque os nosso clientes não conseguem chegar. Pra gente, seria bom que isso acabasse o quanto antes”, apontou Nelson Okimura, sócio de uma loja de som e alarme automotivos.

O acampamento também tem atrapalhado as vendas de uma distribuidora de água, localizada bem no meio da quadra. As entregas no atacado – destinadas a grandes empresas – não têm sido feitas, porque o veículo que faz a distribuição não consegue chegar até a loja. “Ficou bem complicado. A gente tem feito pequenas vendas apenas. Muitos dos nossos clientes pensam que estamos fechados”, apontou Gabriela Nogueira, proprietária da distribuidora e de um estacionamento.

O estacionamento de carros teve que interromper suas atividades. Os clientes mensalistas foram redirecionados a outro pátio. “Não teve o que fazer. Os carros não passam na rua. O jeito foi fechar [o estacionamento]”, disse Gabriela.

Albari Rosa/Gazeta do Povo

Acampamento urbano do MST enfrenta o frio de Curitiba

O barracão com armação de madeira e coberto com lona preta se estende de fora a fora na quadra da Rua Doutor Faivre que está ocupada desde a terça-feira (9). Ali e em dezenas de barracas de camping armadas nas calçadas, permanecem acampados cerca de mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), vindos de várias regiões do estado. Apesar do frio agudo, eles asseguram que vão permanecer na ocupação urbana até terem suas reivindicações atendidas.

A manutenção do acampamento em plena cidade requer uma logística complexa. Também ocupada na terça-feira, a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) serve como uma espécie de quartel-general. Na garagem do prédio, foi improvisada uma grande cozinha, onde cada “brigada” – grupo regional – prepara suas refeições, com alimentos produzidos pelos próprios sem-terra. Em uma das paredes, foi afixado um painel, com a escala de afazeres, como limpeza e reuniões.

“Estão aqui acampados e assentados de todas as regiões do Paraná. É uma auto-organização a que a gente já está acostumado. Passamos boa parte da vida em barracos”, disse a coordenadora estadual, Simone Resende.

Ao longo do dia, em clima de tranquilidade, os acampados – desde crianças a idosos – procuravam passar o tempo da melhor forma. Predominavam rodas de conversa esquentadas pelo mate e algumas poucas mesas de truco. Em um caminhão de som estacionado no centro da ocupação, duplas de violeiros se revezavam ao microfone, apresentando modas.

“A música anima, estimula a continuar. Todo mundo aqui está firma, sabe porque está aqui”, disse o violeiro Waldemar Batista da Silva, que deixou o assentamento “8 de Abril”, no Centro-Oeste do estado, para se juntar à manifestação em Curitiba.

Os militantes assentem: a madrugada fria foi sofrida. A cobertura do barracão ainda não havia sido concluída. O jeito foi apelar para um número maior de cobertores e para a solidariedade dos colegas: quem tinha mantas extras, emprestava para o vizinho. “Isso [o frio] é café pequeno pra gente. A gente sempre teve que lidar com coisa pior, estamos acostumados à luta. Enfrentamos com força, porque é por um motivo maior”, disse Pedro Cardoso Carvalho, de 52 anos. “Temos força pra ficar o quanto for preciso”, completou.

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