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Uma análise das denúncias feitas por moradores de morros onde as UPPs foram instaladas mostra a diferença no comportamento da população antes, durante e depois da chegada da polícia às comunidades. Em favelas de quatro unidades do projeto (Chapéu Mangueira e Babilônia, Dona Marta, Jardim Batan e Cidade de Deus) as queixas contra o tráfico de drogas deram lugar a reclamações de crimes de natureza diferente, como violência doméstica e maus-tratos, ou considerados de menor potencial ofensivo, como denúncias de baderna ou de perturbação do sossego.

Nos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme (zona sul), por exemplo, onde a UPP foi instalada em junho de 2009, a denúncia por "barulho ou baderna" representava 2% do total de queixas recebidas pelo Disque-Denúncia, quando analisado o período pré-instalação do programa (seis meses antes). Já no período pós UPP, (seis meses depois), a mesma queixa representou 10% do total, subindo da posição de 11ª denúncia mais recebida para ser a 2ª mais feita.

De acordo com os dados, as denúncias podem ser divididas em três tipos. Antes da ocupação a população denunciava os desmandos e a violência do tráfico, como "expulsão de moradores, homicídio de moradores e tiroteio entre grupos rivais". Durante a implantação do projeto (três meses antes e três meses depois da ocupação), a pesquisa mostra denúncias pontuais sobre localização de armamento, de drogas e de traficantes. Já no período posterior à chegada da polícia, a população passa a se queixar de problemas de convivência. "Excessos, como barulho, e a obstrução das vias públicas, devem ser regulados", aponta a conclusão do levantamento.

Para a pesquisadora e professora de Segurança Pública da Universidade Católica de Brasília (UCB) Jaqueline Muniz, a mudança no teor das denúncias reflete a presença do Estado. "Estes são os efeitos do policiamento público no cotidiano dessas comunidades. Antes, o policiamento democrático, mas do poder paralelo instalado. Os problemas eram resolvidos nos tribunais dos grupos armados. Se esses padrões vão permanecer, vai depender da permanência e da credibilidade da polícia."

O relatório "Heróis Anônimos UPPs - A visão da favela" analisou 1859 denúncias, feitas no período de um ano antes da implantação das UPPs, até março de 2010.

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