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Isabel mora a cerca de 4 metros de um dos tanques: família dorme com porta destrancada por medo de explosão | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Isabel mora a cerca de 4 metros de um dos tanques: família dorme com porta destrancada por medo de explosão| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Polícia investiga

Segundo o superintendente da Appa, Daniel Lúcio Souza, o Instituto de Criminalística já esteve no Terminal Público de Álcool para periciar a válvula onde houve o vazamento de etanol durante operação da empresa Álcool do Paraná. Ainda de acordo com Souza, um inquérito foi aberto na Polícia Civil para investigar o incidente. "Queremos saber se esse vazamento foi realmente uma falha operacional ou se foi criminoso, já que a válvula só pode ser aberta manualmente." (MXV)

Paranaguá - Catorze das 15 famílias desalojadas desde segunda-feira em razão do vazamento de etanol do Terminal Público de Álcool do Porto de Paranaguá retornaram ontem para suas casas na Vila Becker, que fica ao lado da unidade. Às 17 horas – uma hora depois do previsto inicialmente pelo Corpo de Bombeiros –, os moradores foram liberados. Entretanto, já no começo da tarde, quando ainda havia cheiro de álcool nas ruas, algumas famílias já estavam nas casas, aproveitando a ausência de bombeiros e policiais para monitorar o local.

A única família impedida de retornar foi a da aposentada Helena Alves Ribeiro, 74 anos. Ela e o filho, que estão dormindo na casa de parentes, só poderão retornar daqui a três dias. Na análise dos bombeiros, feita ontem de manhã com um equipamento da Transpetro que mede o risco de explosão, foi constatada uma pequena quantidade de etanol no terreno de dona Helena. Segundo o capitão Jonas Emmanuel Pinto, a quantidade é insuficiente para causar uma explosão. "É como se vazasse gás de cozinha por três segundos. O aparelho detectaria a presença do combustível, mas não haveria risco de explosão", compara o capitão. Mesmo assim, os bombeiros optaram por manter dona Helena e o filho distantes da casa. "É só por pura precaução, pois risco não há", enfatiza o capitão.

Apesar da garantia de não haver mais riscos por causa do vazamento, os moradores da Vila Becker estão com medo. "Se pudesse, não voltaria mais para lá", afirma dona Helena.

Outra moradora que está temerosa é Isabel Cristina Melo de Barros, 38 anos. Moradora há sete anos da vila, a casa em que ela vive com outras cinco pessoas, incluindo a nora de 15 anos grávida de 8 meses, fica a apenas cerca de 4 metros de um dos tanques, com só um muro separando os terrenos. "Não sei se ajeito as coisas na casa ou se junto tudo e vou embora. Por mim, teria saído daqui assim que esse terminal passou a funcionar", diz.

Isabel conta que, com o terminal, a família passou a dormir com a porta de casa destrancada, mesmo com o risco de assalto. "Meu medo é de que aconteça uma explosão e a gente não consiga sair a tempo", explica. Ela afirma que, nos dias em que o terminal está em operação, o cheiro de álcool é tão forte que chega a causar dor de cabeça.

Outros moradores também reclamaram de sintomas de intoxicação que surgiram desde o vazamento. O mecânico Aldair Alves Costa, 36 anos, que mesmo sem autorização dos bombeiros retornou com a família para casa terça-feira, perdeu o dia de trabalho ontem para cuidar de duas das três filhas. A mais nova, de apenas um mês, está tendo febre e crises de sufocamento desde o vazamento. "Ela não consegue respirar", explica. Já a outra, de 9 anos, está com dor de cabeça e irritação nos olhos.

Reunião

O procurador da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Maurício Vitor de Souza, recebeu ontem uma comissão de moradores da Vila Becker para apresentar a proposta firmada em convênio com a Companhia Paranaense de Habitação (Cohapar) de realocar as famílias no Bairro Novo das Escolas, distante 6 quilômetros do local atual. Pela proposta, cada uma das 400 famílias receberá uma casa de 40 metros quadrados no valor de R$ 40 mil. A comissão levou a proposta para análise do Ministério Público Federal (MPF).

Sobre o fato de os moradores preferirem ser indenizados em dinheiro, o superintendente da Appa, Daniel Lúcio de Souza, afirma que a proposta é impossível, já que a lei não permite isso no caso de áreas invadidas. Mesmo assim, ele solicitou à Justiça Federal que nomeie um perito para avaliar o valor das casas. "Dessa forma, eles perceberão que os imóveis em que vivem hoje não chegam a valer os R$ 40 mil das casas que serão feitas pela Cohapar e entregues gratuitamente", diz.

O superintendente afirma que a indenização seria de interesse apenas de comerciantes da região. "Mas nós não estamos interessados em quem quer manter seus lucros, e sim na maioria que vive em estado de miséria", ressalta.

Souza também acrescenta que o Terminal Público não é a única empresa ré no processo movido pelo MPF. "Há outros quatro terminais particulares arrolados na ação, todos no entorno da Vila Becker. Mas o Terminal Público é o único que está oferecendo assistência aos moradores."

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