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| Foto: Daryan Dornelles/Folhapress/Arquivo

O cirurgião plástico Ivo Pitanguy morreu na tarde deste sábado (6), aos 90 anos, em casa, no Rio de Janeiro. A informação é da Associação dos Ex-Alunos do Professor Ivo Pitanguy, que divulgou nota sobre a morte do cirurgião. Ele teve uma parada cardíaca e morreu às 17h30.

Pitanguy era mineiro de Belo Horizonte e um dos mais renomados em sua área no mundo. Ele desenvolveu novos métodos que se tornaram referência internacional na cirurgia plástica. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, em 1990, titular da cadeira 22 ; era patrono da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e membro honorário da American Society of PlasticSurgery (AISAPS), além de participante de inúmeras outras entidades científicas e culturais.

Imortais da Academia de Letras lamentam morte de Ivo Pitanguy

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O cirurgião iniciou sua graduação na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e formou-se pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1946. Era casado com Marilu Pitanguy desde 1955 e deixa quatro filhos: Ivo, Gisela, Helcius e Bernardo, além de cinco netos.

Segundo a associação, o velório de Pitanguy acontecerá neste domingo (7), a partir das 12 horas, no Memorial do Carmo, e a cremação será às 18 horas.

Na manhã desta sexta-feira (5), o cirurgião fez sua última aparição pública, ao conduzir a tocha olímpica no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Ele fez o trajeto sentado em uma cadeira de rodas.

“Perdemos um dos ícones da cirurgia plástica mundial. Foi o professor que criou a maior escola de cirurgia plástica do mundo. Se o Brasil é hoje uma referência em cirurgia plástica, deve isso a ele”, disse o cirurgião plástico Arnaldo Lobo Miró, presidente da Associação dos Ex-Alunos do Professor Ivo Pitanguy.

“Além de ser um tremendo cirurgião, referência técnica no Brasil e no mundo, ele também tinha um olhar social muito aguçado. Tinha uma atuação voltada para os menos favorecidos, o que torna um modelo de médico para as novas gerações. Era um médico da alma e do físico”, afirma Miguel Srougi, professor titular de urologia da USP.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), manifestou pesar em sua conta oficial do Twitter. “Pesar pelo falecimento do Ivo Pitanguy, médico brilhante que formou gerações de cirurgiões plásticos. Minhas orações e sentimentos à família”, escreveu o tucano.

Presidente em exercício, Michel Temer (PMDB) também se manifestou na rede social. “O Brasil perde um de seus mais renomados cientistas e intelectuais. Ivo Pitanguy dedicou a vida a ajudar as pessoas a viverem melhor.”

Trajetória

Filho de um médico de Belo Horizonte, o jovem Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy, nascido em 1926, não parecia ter ousado muito ao escolher sua carreira. Resolveu cursar medicina como o pai, primeiro na Universidade de Minas Gerais (hoje UFMG), concluindo o curso na Faculdade Nacional de Medicina (atual UFRJ, no Rio). Bem mais incomum para a época, no entanto, foi o que ele escolheu fazer depois de formado, em 1946: partir para o exterior para se especializar em cirurgias estéticas.

Problemas de saúde

Em 2015, o cirurgião plástico foi internado algumas vezes com problemas renais. Em setembro, ficou no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Samaritano, no Rio. Depois disso, passou a fazer hemodiálise periodicamente. Em novembro, voltou a ser internado com deficiência renal.

Com a ajuda de bolsas de estudo de instituições americanas e britânicas, Pitanguy passou por hospitais dos EUA, da França e do Reino Unido, aprendendo os fundamentos desse tipo de procedimento cirúrgico com especialistas que estavam tratando pessoas desfiguradas durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo.

Por isso mesmo, colegas e ex-alunos do médico afirmam que, apesar de sua reputação estar muito ligada às cirurgias de efeito puramente estético, Pitanguy se destacou primeiro como um especialista em cirurgias reparadoras, lidando com casos de deformidades congênitas ou de ferimentos por queimaduras.

“Ao longo de toda a sua carreira, ele sempre esteve muito ligado à área das cirurgias reparadoras”, diz Cláudio Rebello, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Antes de ter sua própria clínica, e mesmo depois de passar a atender pacientes nela, Pitanguy realizava cirurgias de mão e outros procedimentos na Santa Casa do Rio e no Hospital Souza Aguiar.

O médico e seus colaboradores, aliás, ganharam renome nacional justamente por fazer um mutirão para atender as vítimas de um dos piores incêndios da história do país, que afetou o Gran Circo Norte-Americano, instalado em Niterói, no Rio de Janeiro, em dezembro de 1961. Das mais de 3 mil pessoas presentes no circo quando o fogo começou, mais de 2 mil sofreram queimaduras, muitas das quais bastante graves, sendo atendidas pela equipe. “Isso teve enorme repercussão para a reputação dele”, afirma o cirurgião plástico Pedro Martins, da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), ex-aluno de Pitanguy, assim como seu filho.

Além disso, afirma Martins, Pitanguy passou a se destacar por sua criatividade, desenvolvendo novos métodos que acabariam se tornando o “padrão-ouro” das intervenções cirúrgicas de sua área.

“No caso das cirurgias mamárias, as técnicas que ele desenvolveu para diminuir o tamanho das mamas ou corrigir mamas caídas foram revolucionárias para a época”, diz o médico. Martins explica que, nesse tipo de intervenção, o costume era definir, já antes da cirurgia, o ponto onde ficaria o chamado complexo areolo-mamilar, ou seja, o conjunto formado pelo mamilo e pela aréola, o círculo mais escuro em volta dele.

Pitanguy, por outro lado, passou a definir esse posicionamento apenas depois que a “nova” mama da paciente era rearranjada, levando em conta fatores como o biótipo da mulher que estava sendo operada, dando mais naturalidade ao resultado.

Ivo Pitanguy, em visita a Curitiba em 2006Naideron Jr/Gazeta do Povo/Arquivo

“Hoje, esse ponto onde o mamilo é colocado é conhecido como ponto de Pitanguy”, diz Martins. Segundo ele, o cirurgião mineiro também desenvolveu técnicas inovadoras para problemas como fissuras nos lábios e no céu da boca (como no caso do chamado lábio leporino), bem como lesões causadas pela retirada de tumores de pele.

Seus colegas destacam ainda o legado de publicações científicas de Pitanguy e o que Rebello define como sua “grande formação humanista”. “Quando ele ia para o estrangeiro, sempre fazia questão de aprender a língua. Dava conferências em alemão na Alemanha, em italiano na Itália, e assim por diante.”

Seu interesse por línguas também ajuda a explicar sua vasta produção acadêmica. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1991, Pitanguy é autor de centenas de livros e artigos sobre cirurgias estéticas publicados em português, inglês, espanhol, francês e italiano.

“Nós estamos perdendo um de nossos mais representativos acadêmicos, alguém que honrava a casa. Estou muito impactado, bastante emocionado”, diz Domício Proença, presidente da ABL. “Ele era representativo em todos os sentidos, como acadêmico, como amigo e como cidadão. Ele cumpriu o destino dele com a vida que teve.”

Também imortal, o escritor Antônio Carlos Secchin lembra a “elegância e discrição” de Pitanguy. “Ele era uma pessoa muito interessante, era um humanista, tinha uma cultura literária muito vasta, isso me impressionou favoravelmente. Ele não se limitava à medicina.”

Ex-alunos o definem como um professor atencioso, carismático e de trato fácil, “muito acessível, com enorme facilidade de comunicação”, diz Martins. Para o médico gaúcho, foram justamente essas qualidades que levaram Pitanguy a criar uma grande escola de formação de cirurgiões plásticos, hoje com centenas de ex-pupilos espalhados pelo mundo.

Casado com Marilu por mais de 50 anos, o médico teve quatro filhos e cinco netos.

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