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São Paulo – Eterno "cafajeste" do cinema brasileiro, Jece Valadão morreu ontem, aos 76 anos, em São Paulo. O ator estava internado havia uma semana, em razão de uma crise de insuficiência respiratória aguda, e respirava com o auxílio de aparelhos.

Segundo o boletim médico que noticiou sua morte, ele sofreu ontem uma "piora no quadro geral, com instabilidade hemodinâmica e comprometimento da função renal" e foi submetido à hemodiálise. Morreu às 17h20, após uma arritmia cardíaca.

Seu currículo no cinema registra mais de cem filmes, com atuações célebres, como em Os Cafajestes (1962), Boca de Ouro e Bonitinha, Mas Ordinária (ambos de 1963). Conhecido por interpretar o "machão" no cinema nas décadas de 60 e 70, Valadão encerrou ontem sua carreira arrependido de ter representado esse papel também na vida real.

Convertido há pouco mais de dez anos à religião evangélica, tornou-se pastor e passou a condenar o tratamento que antes dava às mulheres – além de seis casamentos, colecionava amantes –, a vida boêmia regada a álcool e cigarro e a falta de atenção dispensada aos filhos. No auge da carreira, chegava a consumir quatro maços de cigarro e um litro de uísque num dia. Tinha vários imóveis e carros de luxo, tudo deixado para trás com a conversão à religião, que o fez também restringir a presença no cinema e na tevê.

Antes da internação, dedicava-se às filmagens de Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, que marca a volta de Zé do Caixão às telas. Valadão deixou cenas como o coronel Claudiomiro. Até as 19 horas, a Gullane Filmes, produtora do longa-metragem, não havia divulgado que destino dará ao último personagem do ator. Neste ano, Valadão atuou também na novela da Globo Bang Bang e interpretou um velho bicheiro na elogiada série Filhos do Carnaval, dirigida por Cao Hamburger para a HBO, que concorreu ao Emmy Internacional, o Oscar da tevê.

Pai de nove filhos, foi casado com Vera Gimenez. Dizia em tom de brincadeira ser "quase sogro de Mick Jagger", já que a relação com a atriz começou quando Luciana Gimenez – ex-namorada do astro e filha de Vera com um empresário – tinha nove meses. Sua atual mulher chama-se Vera Lúcia.

Ele iniciou a carreira como radialista nos anos 40. No cinema, começou como figurante e logo passou a protagonizar chanchadas, passou pelo Cinema Novo e trabalhou em comédias da década de 70.

Além de ator, também foi um dos principais produtores do país entre os anos 60 e 70. Entre os títulos produzidos por ele estão clássicos como Navalha na Carne (1969), Memórias de um Gigolô (1970) e Eu Matei Lúcio Flávio (1979). Atuou ainda como diretor e roteirista.

Na televisão, entre outros títulos, participou das minisséries Anos Dourados (1986) e Memorial de Maria Moura (1994), além de novelas como Olho por Olho (1988) e O Dono do Mundo (1991), na Globo.

Em 2001, sua conversão religiosa foi documentada em O Evangelho Segundo Jece Valadão, no qual conta saborosas histórias do passado: "Brochei com a Norma (Bengell)", confessa, sobre a musa de Os Cafajestes.

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