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Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar | Roberto Custódio/JL
Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar| Foto: Roberto Custódio/JL

Paraná reduziu o indice em 16,7%

Apesar de ainda contar com mais de 100 municípios com coeficientes de mortalidade infantil acima do tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Paraná reduziu o índice geral em 16,7% entre 2002 e 2005.

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O Paraná conta com 110 municípios com índices de mortalidade infantil acima do aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 20 óbitos por mil nascidos vivos. O dado é do Departamento de Sistemas de Informação em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e revela ainda que as cinco cidades do estado com os piores índices (veja quadro ao lado) têm taxas de mortalidade semelhantes a de países como a Bolívia e o Zimbábue.

O município de Barra do Jacaré (Norte do estado), que lidera o ranking, apresenta uma taxa de mortalidade infantil de 90,91 óbitos por mil nascidos vivos. Para a Secretaria de Saúde, os dados precisam ser analisados com ressalvas. "Em cidades com menos de 80 mil habitantes, um óbito ou dois joga os coeficientes lá em cima", explica Rossana Viana, coordenadora da Sessão de Informação da Análise da Secretaria de Saúde.

"Tem óbitos que são inevitáveis", explica Ronaldo Olmo, secretário de Saúde de Cafezal do Sul, cidade que, em 2005, registou quatro óbitos para 53 nascidos vivos. Os casos inevitáveis citados por Olmo são óbitos em que a atenção do município, dos pais e do médico pouco influencia para evitar a morte. "São casos de má-formação. Fetos que nascem com um coração sem condição de mandar sangue para o corpo, fetos que nascem sem cérebro", explica Rossana.

Ocorre que casos como esses são considerados exceções que, em municípios onde nascem poucas crianças, ocorrem ano sim e ano não. Em Cafezal do Sul, no entanto, o alto índice tem sido uma constante. De acordo com a própria Sesa, o município não está na lista das cidades que reduziram a mortalidade infantil entre 2002 e 2005. "Sabemos dos nossos índices e estamos tentando enfrentá-los. A questão aqui é cultural. Temos muitas meninas, de 13 e 14 anos, engravidando", afirma Olmo.

Segundo ele, as jovens mães têm pouca informação sobre métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis (DST), mas iniciam a vida sexual muito cedo e, quando engravidam, enfrentam pressão dentro da própria casa. "Algumas escondem a barriga de até quatro meses e atrasam o início do pré-natal. É uma combinação complicada", resume o secretário.

A situação é semelhante em Alto Piquiri, cidade próxima a Cafezal, localizada também no Noroeste do estado. "Aqui por ano chegam 300 a 400 bóias-frias para trabalhar com a cana-de-açúcar. Esse pessoal todo vem solteiro e nossos índices de natalidade também sobem. É uma situação anormal para nossa estrutura", conta o secretário de Saúde da cidade, Geovani Mendes de Carvalho. Apenas a migração dos trabalhadores, porém, não explica os índices de mortalidade do município. Alto Piquiri é uma cidade pequena, de 10 mil habitantes, mas que enfrenta problemas burocráticos comuns nas grandes cidades do Paraná. Brigas internas desativaram a Pastoral da Criança durante alguns meses. A comunicação entre órgãos fundamentais na proteção à criança e ao adolescente é truncada. Conselho Tutelar, Secretaria de Saúde, de Educação e a própria Igreja têm dificuldade em compartilhar dados referentes à mortalidade.

Região Metropolitana

Os altos índices de mortalidade não estão concentrados apenas no interior do estado. Quatro municípios da região metropolitana de Curitiba apresentam coeficientes superiores ao número considerado aceitável pela OMS: Tijucas do Sul, Tunas do Paraná, Campina Grande do Sul e Mandirituba.

O maior deles, Campina Grande do Sul, com cerca de 35 mil habitantes, apresentou em 2005 um índice de 23,06 óbitos para mil nascidos vivos. No município, a mortalidade tem seus índices mais altos na periferia da cidade, em distritos como o de Barragem. Distante do centro da cidade e cortado pela BR-116, o lugar é palco de histórias como a da dona de casa Maria dos Santos. Há cerca de quatro anos, ela perdeu a filha Ingrid, com três meses. O motivo: "um sopro no coração".

Segundo Maria, Ingrid nasceu doentinha e não resistiu. Ela tem outros três filhos, sendo que o primeiro nasceu quando tinha 17 anos. "É normal as meninas engravidarem cedo aqui", ressalta.

A coordenadora de prevenção à Mortalidade Materna, Infantil e de Planejamento Familiar da Secretaria de Saúde de Campina Grande do Sul, Clotilde Barcellos, confirma: "São meninas novas que estão engravidando e que não querem nem ouvir falar em prevenção e nos riscos da gravidez da adolescência. Muitas estão na rodovia se prostituindo". A coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns (leia entrevista na próxima página), afirma que o controle da entidade no município mostra que existem altos índices de crianças desnutridas em Campina Grande do Sul.

E segundo ela, só a situação de vulnerabilidade social das famílias não justifica altos índices de mortalidade. O exemplo é o município de Piraquara. Com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,744, menor, por exemplo, que o índice de Campina Grande do Sul (0,762), a cidade conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil de 22,18 óbitos por mil nascidos em 1999, para 12,62 em 2005. Dados preliminares de 2006 mostram que o coeficiente teria caído ainda mais e estaria na casa de 10 óbitos para mil nascidos vivos. A receita do município foi simples: atuar diretamente com a orientação das famílias, acompanhar a gravidez e o crescimento da criança, dar atenção especial para bebês considerados em situação de risco, com baixo peso, com a mãe muito jovem ou ainda que não tenha realizado o pré-natal e incentivar a amamentação materna.

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