• Carregando...
Colegas de Luna se mobilizaram após acidente que vitimou a garota de 9 anos | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Colegas de Luna se mobilizaram após acidente que vitimou a garota de 9 anos| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Na manhã do dia 11 de março, Luna Fernanda Umbelino escreveu uma carta sobre o trânsito intenso na rua em frente da escola. "Parabenizo a excelente qualidade do asfalto do meu bairro, mas reclamo da altíssima quantidade de caminhões." Era parte de uma atividade proposta no livro didático, endereçada a políticos locais. À tarde, o carro em que a menina estava bateu de frente com um caminhão carregado de pedras. A estudante, de 9 anos, morreu uma semana depois, no hospital.

O acidente aconteceu a 100 metros da escola municipal Tancredo Neves, em Quatro Barras, na Região Metro­politana de Curitiba. Acompanhada do irmão, de 20 anos, Luna estava indo para a "cidade" comprar uma carteira para guardar o dinheiro da aula de educação financeira. A colisão foi em um trecho sinuoso da Avenida Dom Pedro II, nas cercanias da Estrada da Graciosa. Os dois veículos avançaram na curva, "comendo faixa". Como é comum em áreas rurais, Luna estava sem o cinto de segurança. O socorro demorou 40 minutos para chegar. Já era tarde. Ela chegou ao Hospital Angelina Caron desenganada pelos médicos.

A morte da menina modificou a vida dos colegas de escola. "A turma ficou machucada, com uma cicatriz", conta a professora Graciele Alves Pires. Em conjunto, educadores e alunos decidiram que o acidente não seria apenas mais um caso: deveria servir de exemplo para as pessoas tomarem mais cuidados e também para pressionar por mudanças no local. O projeto de educação para o trânsito deixou de ser apenas uma obrigação curricular.

Com tinta e cola, os estudantes levaram para o papel angústias e esperanças. Fizeram apelos e placas de sinalização. Maquetes foram fabricadas para mostrar qual seria o trânsito ideal. Inventaram placas, como a que proíbe "alta velocidade" no corredor da escola, para prevenir "colisões". Fizeram atividades com a comunidade, chamando os pais para escreverem cartas junto com os filhos. Um grupo de repórteres mirins tem a missão de ir aos bairros e trazer, na forma de foto e texto, os problemas que encontra. Agora, a turma prepara uma blitz de conscientização para os motoristas.

Entre os resultados, o mais evidente é o aumento no uso de cinto de segurança. "Eu não usava", confessa a estudante Ana Carolina Santos, de 9 anos. Para a aluna Kalinka Maniscki, que foi colega de Luna desde a primeira série, o projeto ajudou a entender o que acontece nas ruas, para que não aconteçam mais acidentes. Já Leonardo Santos Pires, de 9 anos, conta que passou a respeitar a sinalização e olhar para os dois lados antes de atravessar a rua. Ao ver vazia, ao lado, a carteira da coleguinha, os ensinamentos ficam ainda mais marcados.

Trecho de avenida vira pista de corrida

O asfalto é uma "tapete" na Avenida Dom Pedro II, em Quatro Barras. E esse conforto é que trouxe transtornos. Depois de a comunidade pedir, por muito tempo, a estrada foi pavimentada. Faz três anos. Aí o tipo de problema mudou. Aproveitando que quase ninguém usa o trecho, caminhoneiros passam pelo local em alta velocidade. Há quatro pedreiras na região. "A estrada não é própria para esse tipo de trânsito", comenta a professora Graciele Alves Pires.

A pavimentação foi paga pelo Ministério do Turismo. Para preservar o caráter histórico do Caminho da Graciosa, o traçado sinuoso não foi alterado. Já haviam acontecido acidentes no local, mas nada tão grave como o caso de Luna. O prefeito Loreno Tolardo afirma que não tem instrumentos para inibir o fluxo de caminhões. "Até era a nossa ideia, porque a estrada é para o lazer e o turismo, mas não conseguimos", conta. A região tem quatro pedreiras. "Estamos pensando em limitar o peso", complementa. A estratégia de tentar sensibilizar os motoristas, alertando sobre os perigos, ainda não surtiu efeito.

Para diminuir o problema, outra via secundária está sendo pavimentada para desviar o tráfego. A estrada do Palmitalzinho liga a BR-116 à Estrada da Graciosa. São 9 quilômetros que, ao custo de R$ 3,2 milhões, devem ficar prontos no segundo semestre. "É uma prova de que estamos preocupados, sim, com a situação", diz o prefeito.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]