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Pichação na casa onde morava o acusado do carime, em São Paulo: “em memória” de Glauco e Raoni | JB Neto/AE
Pichação na casa onde morava o acusado do carime, em São Paulo: “em memória” de Glauco e Raoni| Foto: JB Neto/AE

Revolta

Casa onde acusado morava amanhece pichada

Das agências

A casa em que morava Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, acusado de matar Glauco Vilas Boas e o filho Raoni, teve os muros pichados na madrugada de ontem em protesto pelo assassinato. O muro da casa, localizada no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, amanheceu com o nome do cartunista e seu filho ao lado da frase "em memória’’. Os dois foram assassinados a tiros na madrugada da última sexta-feira na casa do cartunista.

O pai de Nunes, Carlos Grecchi Nunes, disse que viu distúrbios comportamentais no filho que o levaram a sugerir, há cerca de cinco anos, que ele procurasse um especialista. Como resposta, o rapaz costumava repetir: "Não quero ficar igual à minha mãe". A professora Valéria Sundfeld Nunes, mãe de Cadu, desenvolveu doença mental quando o estudante ainda era criança. Na visão da família, um tratamento à base de eletrochoques teria piorado o quadro clínico dela.

Ontem, a defesa de Nunes alegou que ele é portador de transtornos mentais. Se isso for comprovado por meio de laudos psiquiátricos, haveria atenuante na pena. Sem contar que, nesse caso, em uma eventual condenação pelo Tribunal do Júri, ele não seria conduzido a uma cadeia, mas a tratamento em manicômio judiciário. No caso de homicídio qualificado, a pena de 12 a 30 anos pode baixar para entre 8 e 20 anos.

Interrogado ontem pela primeira vez desde o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas, 53 anos, e o filho dele, Raoni, 25 anos, o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24 anos, voltou a confessar os crimes, reafirmou que foi motivado por uma "inspiração divina" e disse que premeditou a ação. Glauco e Raoni foram mortos com quatro tiros cada, na madrugada de sexta-feira, na casa do cartubnista, em Osasco (SP). Nunes está preso na delegacia da Polícia Federal (PF) em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, desde a madrugada de segunda-feira. Não há previsão para ele deixar o estado.

O delegado da Polícia Federal (PF) Marcos Paulo Pimentel revelou que o acusado repetiu durante o depoimento o que já havia dito à imprensa e à polícia logo após ser preso. "A segunda versão que ele apresentou foi bastante coerente com a primeira. Elas são praticamente idênticas." Depois de ser detido, Nunes disse a jornalistas que havia matado Glauco e Raoni inspirado por uma mensagem divina. Em algumas declarações, chegou a dizer que era Jesus Cristo. Um dos policiais que cuida da carceragem da PF disse que Nunes fala o tempo todo, sempre com o mesmo apelo religioso.

O primeiro depoimento do acusado durou cerca de duas horas e meia e ele isentou Felipe de Oliveira Iasi, que dirigia o carro em que os dois foram até a chácara de Glauco. Segundo Nunes, Iasi foi embora antes que os dois fossem mortos. O acusado foi ouvido pelo delegado Archimedes Cassão Veras Júnior, responsável pelo inquérito instaurado em Osasco. Ele esteve ontem em Foz e voltou para São Paulo no fim da tarde.

Nunes teria confirmado ao delegado que planejava levar o cartunista para a casa da mãe, mas a ação teria sido frustrada pela fuga do rapaz que o levou até a residência de Glauco, Felipe Iasi. "Ele é perigoso, se altera no depoimento, dá a impressão de que não pode ser contrariado", disse Veras. Segundo o delegado, o acusado tem o perfil de um psicótico: é inteligente, detalhista e repara em tudo. A arma do crime foi comprada na periferia de São Paulo, onde o criminoso fazia caridade e onde também comprava entorpecentes. A arma está apreendida pela PF para perícia.

Isolamento

Antes do depoimento, o estudante estava isolado na cela 3 do Setor Feminino da carceragem da PF em Foz. Na madrugada de segunda-feira, os outros presos disseram que iriam matá-lo porque ele não parava de afirmar que é Jesus Cristo. Há mais 46 presos na carceragem, entre eles quatro mu­­lheres. O xadrez em que Nunes está preso tem 6 metros quadrados. Segundo um agente federal, o estudante não sai da cela "nem mesmo para o banho de sol". Ele também ganhou a antipatia dos policiais federais.

Nunes passa a maior parte do tempo deitado em um dos dois beliches de concreto da cela, assistindo à televisão. O aparelho não fica no xadrez, mas no alto da parede da galeria. O criminoso ficou até ontem com a roupa do dia em que foi preso, quando seu advogado, Gustavo Badaró, levou uma calça e uma camiseta.

O delegado da PF Marcos Paulo Pimentel fará uma reconstituição para saber o que o acusado fez desde que entrou em território paranaense. Pimentel tem dúvidas sobre como tudo ocorreu desde que o carro roubado que Nunes dirigia foi identificado no posto da Polícia Rodoviária Federal, em Santa Terezinha de Itaipu, até o momento em que cruzou a Ponte Internacional da Amizade, onde disparou várias vezes e feriu um policial federal no braço. A previsão é que a reconstituição aconteça no máximo até o início da próxima semana.

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