• Carregando...
“Quando fiquei grávida foi uma aflição. O médico chegou a me dizer para ‘tirar’ a criança. Tive de fazer tratamento psicológico.”
Sara Maria Bueno, gestante diagnosticada com um fungo no pulmão | Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
“Quando fiquei grávida foi uma aflição. O médico chegou a me dizer para ‘tirar’ a criança. Tive de fazer tratamento psicológico.” Sara Maria Bueno, gestante diagnosticada com um fungo no pulmão| Foto: Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Riscos

Pressão, hemorragia e infecção podem complicar a gravidez

Sorridente, mas apreensiva, Sara Maria Bueno, de 22 anos, aguarda ansiosa o nascimento do filho, Rudian Guilherme, previsto para a manhã de hoje, no Hospital Evangélico, em Curitiba. Só depois do parto ela poderá respirar mais aliviada. Sara tem um problema no pulmão e precisa passar por uma cirurgia urgente.

Mas, para evitar expor o filho a riscos, resolveu aguardar o fim da gestação.

A presença de um fungo no pulmão transformou a vida dela numa série de consultas alternadas entre o psicólogo e o obstetra. "Eu descobri a doença quando estava no nono mês de gestação do meu segundo filho, que nasceu há quatro anos. Não tratei, e quando fiquei grávida, foi uma aflição. O médico chegou a me dizer para ‘tirar’ a criança. Eu tive de fazer tratamento psicológico", relata.

Medo

A angústia também é vivida por Jeerlene Correa da Silva, 30 anos, grávida de sete meses do quinto filho. A gravidez dela é de risco devido a uma trombose sofrida há quatro anos que lhe deixou como sequelas a ocorrência de ataques epiléticos. Antes de ser internada, na segunda-feira, ela chegou a ter uma crise. Caiu e esfolou os dedos da mão. Agora aguarda o laudo do neurologista. Fumante durante a gravidez, promete que vai parar com o vício. "É terrível. Tenho muito medo de perder a Gabriela".

De acordo com o obstetra Marcelo Guimarães, os três principais fatores que levam a complicações na gravidez são hipertensão, infecções e hemorragias. O pré-natal e a assistência hospitalar adequada são fundamentais para minimizar os riscos. "É preciso garantir o acompanhamento da gestante e garantir um hospital que possua unidade de terapia intensiva para a mãe e para o filho [UTI neonatal] em caso de complicação, além de uma equipe multidisciplinar, como enfermeiras, obstetras, anestesistas, pediatras e neonatologistas", explica. Algo aparentemente distante para boa parte das gestantes brasileiras, que ainda dão à luz em casa com a ajuda de parteiras.

  • Veja: mortes maternas a cada 100 mil

O número de mortes maternas diminuiu no Brasil num ritmo mais acelerado em relação à média mundial, de acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Banco Mundial. Em 18 anos, o índice caiu 52% no país contra 33% no resto do mundo. Passou de 120 mortes a cada 100 mil nascimentos em 1990 para 58 mortes em 2008. No mundo, o número baixou de 546 mil óbitos para 358 mil. Segundo o relatório, 99% das mortes estão concentradas em países em desenvolvimento. Na avaliação da OMS, o Brasil fez progressos desde 1990, quando foi estabelecida a meta que previa diminuição de 75% da mortalidade até 2015. Porém, alerta a organização, o ritmo atual de redução do Brasil – de 4% ao ano – não é suficiente para que o país alcance o objetivo, daqui a cinco anos. O ritmo recomendado pela OMS é de 5,5% ao ano. O índice de 58 mortes para cada 100 mil nascimentos também está acima do indicado pela organização: incidência inferior a 20 mortes por 100 mil. Para a OMS, é classificada como morte materna quando o óbito ocorre durante a gestação, no parto ou até 42 dias após o nascimento.

Para o médico obstetra Marcelo Guimarães, especialista em gravidez de risco, os índices são um alerta, mas precisam ser relativizados. "Em relação aos EUA e à Europa, eles são altos de fato. Mas se compararmos com a África, por exemplo, estão baixos". De acordo com Guimarães, os números tendem a aumentar devido à falta de assistência hospitalar especializada em algumas regiões do país. Em muitos locais do país há pacientes que ainda dão à luz com a ajuda de parteiras.

Paraná

No Paraná, os números vêm diminuindo ano a ano e estão abaixo da média nacional. Em 2008, a média do estado foi de 56,3 mortes a cada 100 mil nascidos. Como no restante do país, o desafio é alcançar o número considerado aceitável pela OMS para um país desenvolvido. "No Paraná houve um esforço grande para diminuir esses números com a criação de comitês e programas para erradicar tanto a morte materna quanto a infantil, mas ainda precisamos trabalhar para que a incidência fique abaixo de 20 mortes por 100 mil", analisa o coor­­denador do Orbis (Obser­vatório Regional de Indicadores de Sustentabilidade), Alby Duarte Rocha. Em relação à meta de reduzir os números em três quartos até 2015, o coordenador acredita que o estado tem condições de alcançá-las. "Mas vai ser preciso continuar nesse ritmo de redução e ainda mantê-lo estável até lá."

O secretário de estado da Saúde, Carlos Moreira Júnior, vê com cautela o fato de o Paraná ainda estar acima do máximo recomendado pela OMS. "Nos últimos dez anos, o índice diminuiu, mas essa não é uma questão de mágica. Até pouco tempo atrás a gestante só ia ao médico na hora de dar à luz. Com os programas implantados pelo estado no último ano, hoje ela tem pelo menos três consultas pré-natais e realiza uma série de exames que ajudam a controlar o fator de risco. Já é uma grande evolução."

O secretário acredita que não será possível alcançar a meta em cinco anos. "Primeiro será preciso implantar os programas em todo o estado [segundo ele, presentes em 372 dos 399 municípios] e resolver questões mais profundas, como registrar melhor as reais causas de morte materna. Acho difícil."

Curitiba

Na capital, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, houve 16,1 mortes a cada 100 mil nascimentos em 2009, dentro do recomendado pela OMS. Mas, segundo a secretária Eliane Chomatas, os números devem ser vistos com cautela, já que são instáveis e estão relacionados ao número de nascidos vivos em cada ano, não em cada período. Em 2008, por exemplo, o índice estava bem acima do recomendado – 43,5 mortes por 100 mil. Eliane diz que o desafio agora é manter o número estável. "Em 2009, tivemos apenas quatro mortes. Claro que cada uma delas é um evento importante, que abala a família, mas é uma redução considerável em relação a outros anos, especialmente em relação a 2008."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]