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De janeiro a 8 de abril deste ano, morreram mais pessoas em acidentes de trânsito do que vítimas de homicídios em Londrina. Os assassinatos sempre encabeçaram as causas das mortes violentas na cidade. No entanto, desde o início do ano, 20 pessoas morreram nas ruas, enquanto 19 foram executadas. Somente nesta última semana, três pedestres morreram depois de serem atropeladas na cidade. Para especialistas ouvidos pelo JL, este cenário é reflexo da falta de campanhas de trânsito efetivas e da impunidade dos motoristas.

Em 2009, quando os motoristas e pedestres foram alvo da campanha "Pé na Faixa" o número de mortes foi de 55 mortes. Na comparação com os homicídios, as vítimas representaram a metade dos 130 assassinatos. Já em 2010, o especialista ressaltou que os números voltaram a crescer pela falta de campanhas: foram 92 mortes, quando o dobro do ano anterior.

Para o especialista em trânsito, Sérgio Dalbem, enquanto não houver campanhas efetivas e constantes de educação, em conjunto com ações de fiscalização, os números só tendem a aumentar. Dalbem disse que todos os motoristas cometem pequenos erros de trânsito, que se potencializam pela falta de consciência e punição. "Se o poder público faz campanha de vez em quando ele está sendo omisso. Está cometendo um crime que é pior do que a infração de trânsito que ele fiscaliza. A campanha é obrigação."

Dalbem disse que todos os motoristas cometem pequenos erros de trânsito, que se potencializam pela falta de consciência e punição. "Cada condutor acaba fazendo a sua própria lei. Como não há uma fiscalização constante, os motoristas acreditam que não serão punidos, então acabam cometendo erros, que resultam em acidentes."

O especialista ressaltou que é as pessoas precisam falar de trânsito como discutem "futebol e novela". Ele argumentou que quando os motoristas e pedestres discutem o tema ou são abordados por campanhas educativas ou leem reportagens sobre o tema em jornais, todos tomam mais cuidado no trânsito.

Dalbem afirmou que as autoridades ligadas ao trânsito não podem abster da realização de campanhas. Adiando os trabalhos por "falta de material de conscientização". "Se você não tem material, vai para a rua e conversa com as pessoas e motoristas. O código de trânsito diz que as campanhas de trânsito não pode ser vezes esporadicamente. Sempre tem que ter campanha de trânsito. Mas o que ocorre é o contrário."

Reportagem do JL mostrou que o Núcleo de Mobilidade Urbana promete colocar nas ruas a megacampanha Trânsito Legal que, entre outras ações, visa reduzir a violência no trânsito de Londrina. Com caráter educativo, a campanha será veiculada em rádios, TVs e jornais impressos. Contará ainda com blitze de orientação do pedestre e do motorista e chegará às escolas. O Núcleo de Mobilidade Urbana é formado por representantes da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), o Ministério Público (MP), a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanismo (CMTU), as polícias Militar e Rodoviária, entre outros.

A reportagem tentou contato com o diretor de Trânsito da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Wilson de Jesus, mas ele não atendeu às ligações no celular.

A sociedade é complacente

Com sete anos de experiência no Tribunal do Júri, a promotora Suzana Lacerda pôde contar com os dedos de uma mão os casos de acidentes de trânsitos que denunciou: quatro. Para ela, isso aumenta a sensação de impunidade entre os motoristas. Suzana ainda afirmou que existe uma cultura de não punição, pois as pessoas se colocam no lugar do réu. "Muitos dizem: quem um dia não dirigiu embriagado ou não acelerou demais e poderia ter causado um acidente, matado uma pessoa? As pessoas são complacentes com este tipo de crime e os autores seguem sua vida normal."

A promotora disse que a dificuldade em se juntar provas que mostrar que os motoristas assumiram o risco de causarem acidentes com mortes é uma das causas para que poucos processos cheguem ao Tribunal do Júri.

Suzana usou um caso no qual o motorista foi denunciado por homicídio com dolo eventual (quando a pessoa não quis matar, mas assumiu o risco), no entanto, o caso foi qualificado como homicídio culposo (quando não há a intenção de matar). "Ele estava a 110 km/h na Rua Goiás, via com velocidade máxima de 40 km/h, furou o sinal vermelho e bateu em outro carro com o motorista morrendo no local. Se isso não é dolo eventual, não sei o que é."

A promotora defende uma maior agilidade para o julgamento dos casos de mortes no trânsito e um maior rigor nas punições.

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