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Registro da libertação do menino na manhã por volta das 7h30 desta sexta-feira | Luiz Guilherme Brandani
Registro da libertação do menino na manhã por volta das 7h30 desta sexta-feira| Foto: Luiz Guilherme Brandani

Moradores Joaquim Távora e região acompanham sequestro

Leonardo Mendes Júnior, enviado especial

O livro de registros policiais da delegacia de Joaquim Távora apresenta apenas um homicídio em 2011. No ano passado, a marca só foi repetida nos últimos dias do ano – um assassinato na praça principal da cidade. Em regra, as poucas ocorrências variam entre pequenos furtos, embriaguez e violência doméstica.

O histórico pacífico do município de 10,7 mil habitantes, localizado no Norte Pioneiro, tornou ainda mais surpreendente o cárcere privado a que o motoboy Joelson Gomes Ferreira submeteu sua a ex-mulher Lidiane Mattias e o filho do casal, de 4 anos, e parte da família dela. O maior crime já visto em Joaquim Távora mobilizou a cidade, virou assunto em todas as rodas de pessoas de expressão assustada, braços cruzados e fala baixa que se formavam pelas calçadas.

Bastou perguntar para o primeiro grupo onde estava ocorrendo o sequestro para o caminho ser indicado rapidamente. Nem bem a explicação chegou ao fim, um motorista logo à frente, em um carro com placas da cidade, buzinou e pediu para ser seguido até a esquina da rua Tenente Ubirajara de Souza, quase à margem da PR-092, onde Lidiane mora com os pais e os filhos.

A notícia do cárcere privado correu rapidamente nas primeiras horas da manhã.Quem encontrava um conhecido na rua contava. Quem estava em casa recorria ao telefone. Logo as primeiras pessoas começaram a se concentrar perto da casa da família Mattias e a disseminar informações desencontradas sobre o caso.

Até o fim da manhã, era dado como certo que o pai de Lidiane estava entre os reféns. Seu Juvenil, pedreiro, na verdade circulava por uma rua perpendicular à da casa. Logicamente assustado e confuso, ora revelava detalhes da conturbada relação da filha com o ex-genro, ora dizia que só poderia falar a respeito quando tudo estivesse resolvido, uma orientação da polícia. Número e grau de parentesco dos reféns, quantidade e tipo das armas nas mãos de Joelson, tudo variava de acordo com a versão de cada morador, contrainformação desfeita apenas quando a polícia começou a dar informações oficiais.

A essa altura, o caso já estava nos sites, nas rádios e nos jornais. E atraía mais gente. Não só de Joaquim Távora. Pessoas de Carlópolis, Quatigá, Siqueira Campos, Cambará, Arapoti e Santo Antônio da Platina se juntavam aos locais, em um grupo cada vez mais numeroso concentrado na via marginal da PR-092. Quem passava pela rodovia e via a concentração de gente e aparato policial reduzia a velocidade. Quando não parava para aumentar a massa de curiosos.

Com o policiamento todo concentrado na pacata rua do bairro Vila Nova, logo se espalhou a notícia de que a padaria da praça da cidade havia sido assaltada. Para os tavorenses, estava claro que mesmo antes do desfecho, o cárcere privado da rua Tenente Ubirajara de Souza havia mudado a história da cidade.

  • Policiais que atuaram nas negociações durante esta quinta-feira (10) se posicionam em frente à residência

Após mais de 24 horas de cárcere privado, apenas a ex-mulher do mototaxista Joelson Gomes Ferreira, 30 anos, continua refém em uma residência em Joaquim Távora, no Norte Pioneiro. Por volta das 7h30 da manhã, Ferreira liberou o filho de 5 anos. O menino foi avaliado por médicos do Corpo de Bombeiros e entregue a familiares. Ele não sofreu ferimentos e passa bem.

O clima na manhã desta sexta (11) aparentemente é mais favorável do que na noite de quinta (10). O portão de correr que estava fechado, com negociações apenas por celular, já está totalmente aberto. Os policiais continuam tentando convercer Ferreira a se entregar e liberar a ex-mulher, Lidiane, que pode estar ferida por conta de uma briga com Joelso no início do cárcere privado.

Madrugada

"Passamos a madrugada inteira negociando, com intervalo de 40 minutos entre cada contato. Ele possibilitou que a ex-mulher e o menino dormissem por volta das 4 horas da manhã. Ele chegou a cogitar a possibilidade de exigir um advogado, porém, logo depois abriu mão desta exigência", relatou o tenente-coronel Nerino de Brito, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, que acompanha as negociações.

O comandante do Bope relata que vários elementos influenciam a negociação tanto tempo depois do início das intimidações. O mais evidente deles, o cansaço, pode ser decisivo para que sejam obtidos avanços na liberação da última vítima. "Durante as negociações, nós não dormimos, mas ele também não dormiu. Ele deve estar cansado, fator que pode ser levado em consideração", disse.

Ferreira contou também que as negociações estão centralizadas em uma pessoa. A intenção é que seja criado um vínculo entre o mototaxista e o responsável pelos contatos entre o ambiente externo e interno. "Tem uma equipe dando apoio ao negociados, que conseguiu com que ele criasse uma empatia. Isso é explorado e todos os esforços são para que a haja a liberação também da ex-mulher", contou.

Negociação

Joelson Gomes Ferreira invadiu a residência por volta das 6h30, depois que o pai da ex-mulher saiu de casa para trabalhar. Uma adolescente de 11 anos – irmã caçula de Lidiane – também esteve rendida, mas foi libertada pouco depois das 13 horas. Uma sobrinha de Lidiane, que tem 13 anos, dormia em um quarto nos fundos da casa. Ela não chegou a ser feita refém e conseguiu deixar a residência por volta das 11 horas de quinta (10).

Em seguida, os negociadores da polícia argumentaram com Joelson que Lídia - ex-sogra - já tem idade avançada e, caso ela viesse a sofrer algum problema de saúde em função do cárcere privado, a situação legal dele se agravaria. A mulher de 65 anos foi libertada por volta das 18h30, última vítima liberada na quinta-feira (10). Ela chegou a ser encaminhada para um hospital, mas foi liberada em seguida e está reunida com as outras vítimas do mototaxista na casa de amigos da família.

Segundo informações repassadas pela Polícia Militar nesta quinta-feira (10), ele está armado com uma pistola calibre 380, um revólver calibre 38 e uma banana de dinamite inserida em um tubo de PVC.

As ordens da operação partem de dentro de um veículo da Unidade de Gerenciamento de Crises, do Bope. Além dos grupos especializados da PM, a Rotam do 2° Batalhão da Polícia Militar faz o isolamento da área. A operação mobiliza cerca de 40 policiais.

Motivação

Joelson mora em Curitiba e foi de táxi a Joaquim Távora na madrugada desta quinta-feira (10). Por três anos, viveu com Lidiane na capital paranaense. Segundo o pai dela, o casal sempre passava por dificuldades financeiras e ele tinha que ajudá-los, enviando dinheiro. Por causa disso, há um ano e meio, a mulher decidiu abandonar Joelson e voltou com o filho para Joaquim Távora.

No Norte Pioneiro, Lidiane voltou a viver com a família. Atualmente, ela trabalha no setor de compras do Frigorífico Pioneiro e cursa ciências contábeis em uma faculdade da região.

Assim que foi deixado pela mulher, Joelson passou a telefonar regularmente a ela, tentando reatar o casamento. O pai de Lidiane disse que as ligações haviam cessado há cerca de três meses. Desde então, ninguém da família manteve qualquer contato com Joelson.

À polícia, Joelson disse que se sentiu abandonado pela esposa. Desde que ela retornou a Joaquim Távora, o mototaxista não tinha mais visto o filho. Lidiane já havia avisado a polícia que sofria ameaças do ex-marido. Há boletins de ocorrência registrado contra Joelson em Curitiba e em Joaquim Távora.

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