Infância Plena tenta alertar para as consequências do início dos procedimentos para a mudança de sexo na infância| Foto: Pixabay
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Em meio a tentativas de ampliar a transição de gênero em crianças e adolescentes no Brasil, um grupo de mães e profissionais decidiu se unir em um movimento para alertar sobre os riscos de intervenções médicas, psicológicas e outras que estão sendo usadas para esse fim. Com o nome "infância plena", o movimento surgiu no início do governo Lula, com o intuito de lutar pela proteção integral da infância.

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No site, o movimento reforça que notou um "avanço na pressão social pela aceitação sem questionamentos de tais intervenções" para a "transição de meninos e meninas que não apresentam interesses e comportamentos tidos como socialmente aceitos para determinado sexo".

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Segundo a idealizadora do movimento, a psicóloga Celina Luci Lazzari, as pessoas precisam ter argumentos para contrapor à ideologia de gênero e defender a inocência de crianças que estão em plena transformação, e ainda não são capazes de discernir sobre identidade sexual.

"Percebemos rapidamente que a venda da tese trans ativista, de que as crianças estão no corpo errado, está correndo muito rápido, e por isso percebemos a importância de nos organizarmos para trazer um contraponto a essa narrativa", diz.

Veja a entrevista com a idealizadora do movimento: 

Quais ações do atual governo você apontaria como um ataque às crianças? 

Celina Lazzari - Há uma tendência muito forte nesse sentido. Inclusive, recentemente, o Conselho Nacional de Saúde emitiu uma resolução muito gravosa ao nosso ver, em relação à ideia em si da criança trans. Nós questionamos a própria noção de que uma criança possa ser rotulada dessa maneira.

Entre as primeiras ações que fizemos em relação ao governo foi um pedido, em formato de ofício ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente [Conanda], agora composto por algumas pessoas indicadas pelo ministro dos Direitos Humanos, questionando a concepção da infância e pedindo respeito ao ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente].

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Nós questionamos também se o Conanda estava compreendendo essa possibilidade de mudança de sexo em crianças, porque percebemos que há uma série de termos que ocultam e fazem um eufemismo em relação ao que de fato tem sido proposto, que são mudanças e intervenções corporais. Então, solicitamos esclarecimentos ao Conanda e enviamos essa mesma carta aos parlamentares, solicitando atenção para esse requerimento.

Conseguimos também, por meio da deputada Franciene Bayer (Republicanos-RS), fazer uma audiência pública em junho para iniciar o debate sobre essa questão. Nessa audiência, solicitamos a presença de representantes dos conselhos de Psicologia e Medicina, mas não compareceram. E isso é alarmante, porque são dois conselhos que emitem resoluções e têm se posicionado com a possibilidade de a criança nascer no corpo errado.

Como você define a questão da identidade de gênero diante do ativismo? 

Celina Lazzari - A questão genética é curiosa porque existe a tentativa de criar um lastro pseudocientífico para poder justificar as intervenções. Não há estudos com comprovação científica, há apenas levantamentos de baixo rigor científico.

A ideia em relação a identidade de gênero é encobridora, por que o que a gente compreende como gênero? Gênero são os papeis sociais e sexuais que nós apresentamos baseados no sexo e quando dizemos identidade de gênero estamos nos referindo aos papeis que as pessoas apresentam ao longo da vida. Por exemplo: se uma criança tem alguns papeis, que normalmente na sociedade são atribuídos ao sexo feminino, então essa criança deve estar no corpo errado, o que é uma lógica equivocada. Ou seja, se você gosta de rosa, então você provavelmente é menina, mesmo estando em um corpo de menino. E esse é um equívoco que vem sendo propagado de uma forma resumida e simplista. Quando nos aprofundamos e verificamos os relatos envolvendo essas crianças, percebemos que se trata basicamente disso.

Inclusive, no próprio Diagnóstico de Saúde Mental dessas crianças, quando analisado, consta esse mesmo nível de conceito bastante equivocado, relacionando as preferências por brinquedos ou por roupa com o sexo da criança, que é uma coisa muito antiquada e arcaica hoje na nossa sociedade.

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O que é a disforia de gênero? 

Celina Lazzari - É justamente essa ideia de que a criança não está congruente com o seu gênero. Fizemos uma análise desse suposto diagnóstico, porque a gente percebe que é um termo que está rotulando e patologizando a infância e as diversas variações que todas as crianças têm, porque as crianças exploram o mundo independentemente do olhar do adulto e do que se chama de menino e menina.

A própria Associação de Psiquiatria norte-americana rotula isso e chama de incongruência de gênero ou disforia de gênero essas séries de manifestações, muito simples das crianças.

Um critério que aparece para dizer que a criança pertence a outro gênero é, por exemplo, quando em meninos há uma forte preferência de vestir roupas de mulheres. Ora, isso é muito comum na fase da infância, da experimentação, da fantasia, da brincadeira, as crianças não estão preocupadas se aquilo é uma roupa de menino ou menina. A gente evoluiu para quebrar um pouco da rigidez dessas definições, de que uma roupa vai definir os sexos das crianças, ou que uma roupa ou brinquedo é de menino ou de menina. Então, acredito que há um retrocesso e uma patologização desse comportamento das crianças como se fosse uma disforia ou incongruência em relação ao seu sexo.

Qual alerta você faz aos pais sobre o conteúdo que as crianças veem sobre isso em séries ou desenhos? 

Celina Lazzari - Os pais têm uma batalha muito dura, porque infelizmente toda mídia e as escolas estão sendo levadas a trazer isso como uma regra e uma nova moral social. É preciso ter muito forte os vínculos e o diálogo dentro de casa, explicar para as crianças e reforçar que é preciso amar a si mesmo com o corpo que tem, aceitar seu próprio corpo. E é importante ter tranquilidade com as brincadeiras, para não levar a um sentido patologizante.

Também é muito importante na infância evitar ao máximo o uso de telas, porque nós perdemos muito controle do que eles estão assistindo e a mídia está muito forte na intervenção nesse sentido, querendo embutir isso cada vez mais cedo nas crianças.

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No Congresso, tramitam projetos para proteger as crianças contra a mudança de sexo precoce. Como você vê essas iniciativas? 

Celina Lazzari - É muito triste que tenhamos de criar uma lei para fazer valer o próprio ECA, porque a criança merece ter o seu desenvolvimento natural e o seu corpo respeitado, sem intervenções.

Existem muitas falácias e mentiras sobre a mudança de sexo precoce, relacionada aos bloqueadores puberais e à técnica de hormonização cruzada. O bloqueador é recomendado para quem recebe esse diagnóstico no início da puberdade, quando é administrada droga similar ao hormônio que interrompe o crescimento da criança, numa ideia muito fantasiosa de que ela vai ter o tempo para poder decidir se quer ou não fazer a transição. A ideia é bloquear enquanto a criança decide, como se fosse possível retroceder, e depois inicia a hormonização. Por exemplo, uma menina inicia a administração da testosterona, hormônio masculino e vice-versa.

Mas isso não tem volta. Todas essas intervenções são muito gravosas e não existe nenhum estudo de longo prazo e nada solidificado para que se tome uma decisão tão drástica que tem consequências para o resto da vida, basta ler a bula desses medicamentos para perceber a gravidade. Além disso, se o governo e as instituições observassem o que tem acontecido de retrocesso nessa política em alguns países da Europa, como Finlândia, já iriam voltar atrás e parar. Porém, estamos vendo o contrário na resolução do CNS, tentando reduzir a idade do protocolo da hormonização para 14 anos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]