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Cascavel – Desapontado com o ritmo da reforma agrária, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promete aumentar a luta pela criação de novos assentamentos por meio de ocupações, marchas e atos públicos por todo o país em 2006. Em 2005, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) garante ter assentado 117,5 mil famílias em todo o país, dentro do II Plano Nacional de Reforma Agrária (2,5 mil a mais do que o previsto). O governo federal também promete atingir a meta estipulada no primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, de assentar até o fim do ano 400 mil famílias.

No entanto, o MST discorda dos números apresentados até agora. A acusação do movimento é de que o governo estipulou para cima os números da reforma agrária, contabilizando assentamentos antigos como novos. No Paraná, a previsão no começo do ano era de 3 mil assentamentos. Entretanto, após uma atualização da meta, a previsão caiu para 1,5 mil. O total assentado, estima o Incra, que ainda não contabilizou totalmente os números, deve ser próximo de 1,9 mil. De acordo com o MST estadual, 9 mil famílias de sem-terra estão acampadas no Paraná à espera da inclusão no processo.

Insatisfação

A insatisfação está explícita no balanço divulgado pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo. O fórum faz duras críticas à atual política econômica do governo, a qual, segundo o MST, beneficia apenas o capital financeiro, mantendo a crise social, o desemprego e a falta de acesso à escola e à terra.

O documento ataca o agronegócio e defende a agricultura familiar como único meio para o acesso à terra. O MST entende que a reforma agrária está paralisada, "transformando-se num mero programa de assentamentos". "Há uma grande decepção entre os sem-terra em relação ao atual governo porque a criação de novos assentamentos ficou aquém da nossa expectativa", afirma José Damasceno, líder do MST no Paraná.

Damasceno considera que o governo não honrou compromissos assumidos nas diversas negociações com os sem-terra. Apesar do ceticismo predominante entre os sem-terra, as lideranças apostam as últimas cartas nesse ano, quando esperam o avanço da questão agrária. "Independente de ser um ano eleitoral, entendemos que o governo Lula tem uma oportunidade histórica para promover a reforma agrária, mesmo porque esse é um compromisso assumido pelo presidente durante sua trajetória política", destaca.

O movimento, por enquanto, fala em manter o diálogo com o "companheiro Lula", mas promete recrudescer as atividades, incluindo ocupações de terra e atos públicos, em favor da criação de novos assentamentos. "Essa mobilização é necessária porque existe uma grande demanda de famílias esperando a inclusão no processo de reforma agrária no estado", afirma Damasceno.

No Paraná, a situação mais preocupante é no Oeste, onde existem os maiores conflitos agrários. É o caso do Complexo Cajati, localizado em Cascavel e onde vivem 1,4 mil famílias em quatro acampamentos (1.º de Agosto, Dorcelina Folador, Casa Nova e Sirlene César). O município abriga ainda o acampamento 7 de Setembro, onde vivem 140 famílias. É o caso de Valdir Guimarães, 36 anos, que há seis anos ingressou no MST com o objetivo de receber um lote da reforma agrária.

Guimarães vive com a esposa, Marisete, 28 anos, e os filhos Júnior, 8 anos, Jéssica, 5 anos, Jéferson, 4 anos, numa pequena casa de madeira no acampamento 7 de Setembro. "A minha expectativa é ser assentado este ano pelo Incra", espera Guimarães, que passou boa parte da vida trabalhando como empregado no meio rural. "É melhor essa vida de acampamento do que na cidade. Eu já tentei viver lá (cidade), mas não consegui emprego porque não tinha estudo", afirma.

Marisete apóia a decisão do marido de esperar pela reforma agrária, mesmo passando por dificuldades nos acampamentos de sem-terra.

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