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Luiz Levandoski, vizinho da família, observa as roupas das crianças no varal: mortes premeditadas | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Luiz Levandoski, vizinho da família, observa as roupas das crianças no varal: mortes premeditadas| Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo
  • Após o crime, Delceni Amaral inventou uma história para confundir a polícia

As roupas dos irmãos Ruan Felipe Amaral, 10 anos, e Ana Maria Amaral Voichcoski, 7 anos, ainda estão no varal da casa onde moravam. O entorno da residência, que ontem à tarde estava fechada, foi cenário de um crime que chocou a localidade rural de Santa Bárbara, em Palmeira, nos Campos Gerais, na noite de segunda-feira. Os irmãos foram mortos pela mãe, Delceni Amaral, 25 anos, que confessou o crime. Ela disse que queria mudar de vida, mas que agora está arrependida e que merece uma pena dura.

Delceni contou à polícia que planejou o crime no mesmo dia, enquanto lavava roupa. Por volta das 21 horas, depois que o companheiro, Miguel Voichcoski, 67 anos, foi dormir, ela levou a filha Ana Maria até o quintal com a desculpa de mostrar "um passarinho prateado no mato". Delceni pediu que a menina ficasse de costas e que ela mordesse um pedaço de pano (com o objetivo de abafar o grito). Ana Maria foi golpeada na cabeça com um pedaço de ferro e ainda levou duas facadas quando já estava caída.

Delceni arrastou a menina até o mato e foi chamar o filho Ruan. Ela o atraiu ao quintal dizendo que iria brincar de esconde-esconde e que Ana Maria já estava escondida. O menino também ficou de costas para a mãe. Ela o amordaçou, bateu em sua cabeça e já no chão lhe deu facadas na cabeça e no peito.

A mãe, então, foi até o tanque, lavou as mãos, se feriu com uma pedra na cabeça e começou a gritar. "Eu escutei o grito dela e abri a janela", conta Miguel. Delceni disse que havia sido atacada por ladrões. Ela fingiu ser a avó das crianças e telefonou à polícia dizendo que seus filhos haviam sumido. A PM chegou à casa e começou a procurar as crianças. O corpo do menino foi encontrado ao lado de uma plantação de milho, a cerca de 100 metros da residência. O corpo da garota estava no meio de uma vegetação.

Contradição

Segundo o delegado de Ponta Grossa Maurício Souza da Luz, Delceni entrou em contradição e confessou o crime. A faca usada nos assassinatos foi encontrada dentro do banheiro externo. "Perguntei para ela o que as crianças tinham feito para merecer isso", comentou Miguel. Ele conheceu Delceni quando ela estava no sexto mês de gestação de Ana Maria e mesmo não sendo o pai biológico registrou a menina em seu nome. "Não sei quem é o pai das crianças, ela nunca contou", disse.

Delceni foi autuada em flagrante pelo delegado Leonardo Bueno Carneiro por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e mediante emboscada, e pode pegar até 30 anos de prisão. Em entrevista ao programa policial COP, da TV Vila Velha, de Ponta Grossa, ela disse que queria "sair da vida de miséria", que estava arrependida e que merecia "a pior pena". Ela foi encaminhada ao presídio Hildebrando de Souza, mas foi hostilizada pelas presas e retornou à carceragem da 13.ª Subdivisão Policial, onde ficará até ser transferida para uma unidade mais segura.

Mãe foi acusada de maus-tratos em 2007

Em 2007, Delceni Amaral foi denunciada por maus-tratos contra a filha Ana Maria. A queixa havia sido registrada por vizinhos no Conselho Tutelar de Palmeira, mas conforme a conselheira Evelise Roscoche, o caso não foi adiante porque o padrasto das crianças, Miguel Voichcoski, negou a acusação. Há alguns anos (a polícia não soube precisar), Delceni foi considerada suspeita do assassinato de um taxista na cidade. No entanto, tinha um álibi e não foi indiciada.

Conforme Voichcoski, que convivia com ela há mais de sete anos, Delceni era agressiva e ingeria bebida alcoólica. "Ela saía de casa e voltava sem dizer boa noite", comentou. Vizinho de Delceni, Luiz Levandoski disse que ela aparentava ser uma mãe carinhosa. Mas, segundo o padrasto, a companheira já havia falado que tinha vontade de matar os filhos. O cunhado de Delceni, José Voichcoski, acrescentou que ela não gostava de sair com os filhos. "Acho que ela fez isso porque achava que as crianças eram um estorvo", comenta.

Escola

Delceni não tem parentes em Palmeira e seus pais já são falecidos. Ela tentava concluir o ensino fundamental na educação de jovens e adultos para arrumar um emprego. Os filhos estudavam na Escola Municipal de Santa Bárbara. Professores das crianças contaram que Delceni tinha um comportamento normal e sempre participava das reuniões de pais na escola.

Ruan tinha dificuldades de aprendizagem e estava na classe especial se preparando para entrar no 3.º ano do ensino fundamental. Ele estava aprendendo a ler neste ano. Já a irmã, Ana Maria, estava no 3.º ano do ensino fundamental. Os dois foram velados na capela municipal de Palmeira e sepultados ontem à tarde no cemitério de Santa Bárbara.

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