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Encontrar uma menina que, quando criança, queira "ser bombeiro quando crescer" não é tarefa das mais fáceis. O sonho de tantos garotinhos, fascinados pelo caminhão vermelho com escada, farda, bota, capacete e vários outros apetrechos espetaculares, parece que foi sempre uma exclusividade do sexo masculino. Mas como ser diferente se, em 93 anos de existência, o Corpo de Bombeiros do Paraná não tem uma única mulher na corporação? Ou melhor, não tinha.

A profissão, mais uma daquelas taxadas de "coisa para homem", está prestes a ganhar um toque feminino no Paraná. Desde março, a primeira turma de alunas está literalmente suando a camisa nos treinamentos, após um exaustivo processo de seleção, em um concurso que atraiu 1.200 candidatas. Elas tiveram que provar que são boas em conhecimentos gerais, mas também passaram por testes de resistência, mergulho, natação, corrida. As 22 aprovadas estão fazendo o curso de formação junto os alunos homens.

Nestes cerca de cinco meses de curso, as futuras bombeiros – assim mesmo, no masculino – aprenderam na teoria a enfrentar situações difíceis e a manipular os equipamentos. Semanalmente têm aulas de natação, corrida, inspeção, prevenção, salvamento e tantas outras disciplinas. Nas últimas semanas, começou a parte prática. As alunas passaram pelos exercícios de rapel (decida de edifícios com equipamentos de montanhismo).

"É bem puxado. Tudo o que os homens fazem a gente também tem de fazer", explica Simone Aparecida dos Santos, 20 anos, uma das alunas aprovadas. Estudante de jornalismo da Universidade Católica (PUC-PR), ela precisou trancar o curso para fazer o treinamento, mas vai concluí-lo no ano que vem. Teve de encarar ainda o ciúme do namorado, que também é bombeiro, e não gostou nem um pouco do fato de ela ser uma das únicas mulheres numa corporação com aproximadamente 3.200 homens.

Simone quer trabalhar na área de relações públicas do Corpo de Bombeiros. Já a colega dela, Carla Adriana Prado Spak, 25 anos, está disposta a enfrentar situações mais perigosas, como combate a incêndios e o trabalho do Siate. E foi exatamente o trabalho pesado que a atraiu para a corporação. "Você vai trabalhar com as pessoas no momento em que elas estão mais desesperadas. E elas vão encontrar ajuda em você", explica. "Está na sua mão a diferença entre salvar ou não uma vida", afirma Spak.

As duas alunas contam que há quem duvide que as meninas conseguirão exercer as mesmas funções que os homens. Também, é difícil imaginar uma mulher escada acima num prédio em chamas com um equipamento de 30 quilos nas mãos e nas costas. "Mas não é força, e sim técnica", garante Simone. Por outro lado, o "sexo frágil" pode fazer bonito frente à brutalidade masculina em determinadas situações. "Em determinados momentos, dentro da ambulância, uma vítima mulher vai se sentir mais confortável", afirma o instrutor de salvamento vertical, tenente Rodrigo Schoemberger.

A decisão de abrir a corporação para o sexo feminino foi tomada tendo em vista a própria procura das mulheres pelo trabalho. "Muitas ligavam para o quartel pedindo informações sobre como entrar para o Corpo de Bombeiros e ficavam surpresas ao saber que não era possível", conta o tenente Eduardo Gomes Pinheiro, relações públicas dos Bombeiros. As mulheres já estão presentes em corporações de outros estados, como São Paulo e Bahia.

A turma que vai se formar no final do ano tem, junto com as mulheres, 293 alunos – a maior da história do Corpo de Bombeiros no Paraná. O curso de formação termina em dezembro. Já no começo do ano eles estarão prontos para atuar nas ruas. As bombeiros mulheres, a princípio, devem trabalhar em Curitiba.

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