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Acordar com buzinas de automóveis, enfrentar o trânsito para chegar ao trabalho, comer qualquer coisa na rua, ficar o dia todo entre quatro paredes e dormir ao som da televisão. Essa rotina, normal nos grandes centros urbanos, não fascina mulheres que vivem na zona rural da região metropolitana de Curitiba. Ar puro, tranqüilidade, comida orgânica e o contato com a terra são razões de sobra para elas lembrarem da "cidade grande" apenas duas vezes por semana, quando precisam vender os alimentos que produzem.

Para evitar o isolamento, foi realizado ontem em Almirante Tamandaré o 1.º Encontro Regional das Mulheres da Agricultura Familiar. A iniciativa da prefeitura da cidade e da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) mobilizou cerca de 250 mulheres. "Nosso principal objetivo é a integração, mostrando a elas diferentes modos de lidar com a terra, agregar valores ao seu trabalho e motivar sua auto-estima", diz o secretário municipal da Agricultura, Antenor Aguiar.

Temas como "A natureza feminina e seus valores", "O papel da mulher na família" e "A saúde da mulher" fizeram parte do ciclo de palestras, que recebeu participantes de Alimirante Tamandaré, Rio Branco, Colombo, Campo Magro, Itaperuçu e Campo Largo. "Não vejo jornal nem TV, não tenho tempo pra isso. Vou à cidade apenas para a feira e não sinto falta de nada. Temos tudo o que precisamos aqui", diz Tereza Tessari, que desde que nasceu, há 60 anos, vive no campo.

Esse distanciamento da capital e também de outras regiões vizinhas acaba dificultando o acesso a informações importantes, tanto na vida profissional quanto na pessoal. "Elas acabam não sabendo como lidar com determinados assuntos, não entendendo seu importante papel nem conhecendo seus direitos, iguais em qualquer lugar", lembra a agrônoma Stela Maris Kowalski. Segundo ela, é importante que ações de conscientização e integração sejam freqüentemente desenvolvidas nas áreas rurais.

O encontro de ontem caiu no gosto das agricultoras. "Aprendemos coisas aqui que nunca pensamos", afirma Tereza. Apesar dos temas relevantes, alguns assuntos já são conhecidos de algumas mulheres. Vanuza Stival de Jesus, de 24 anos, demonstrou que o tema auto-estima já é bem conhecido. "Eu gosto muito de me cuidar. Não é só porque trabalho no campo, mexendo na terra, que não posso ser feminina. Quando vou para a roça, levo meu pote de creme e meu protetor solar. Sempre", enfatiza ela.

Novos encontros regionais estão previstos, assim como reuniões mensais nas quais as agricultoras poderão aprender novas técnicas de cozinha, artesanato, preservação do meio ambiente, manejo correto da terra e ainda trocar experiências. "Nossa rotina é longa. Trabalhamos muito e não temos tempo de sobra. As pessoas da cidade não sabem o tanto que precisa ser feito aqui para que delícias fresquinhas cheguem às suas mesas. Precisamos de mais valorização, como pessoas e, principalmente, como mulheres", conclui Elizabeth Borgo.

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