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A Bola de Neve merece o nome que tem. Quando ainda se restringia a reuniões informais de surfistas cristãos em São Paulo, sem a menor pretensão de se tornar uma agremiação religiosa, um dos presentes sugeriu batizar esses encontros de Bola de Neve, pois "começa pequenininha e vira uma avalanche".

Virou mesmo. Em dois anos se desvincularia da Renascer em Cristo – com quem chegou a manter um trabalho conjunto durante oito anos – e hoje já conta com mais de 5 mil fiéis em 45 cidades do Brasil, além de ramificações no Peru, Austrália e Japão. O público-alvo principal são os jovens apreciadores de música e esportes radicais. Só em Curitiba são mais de 900 fiéis. Há representações ainda em Ponta Grossa, Guaratuba e Londrina. Paranaguá, Londrina e a Ilha do Mel devem receber suas "células" em breve.

A filial curitibana é comandada por um grafiteiro e skatista profissional, Marcelo Bigardi Ribeiro, 32 anos. "A idéia do cristianismo desde a época de Jesus é estar no meio da galera", explica, com o mesmo vocabulário que costuma usar nas pregações. "E Ele andava justamente com quem ninguém queria andar. Hoje a gente só está seguindo os passos d’Ele."

Ribeiro converteu-se à Igreja Presbiteriana em 1991, aos 16 anos. Foi apresentado à Bola de Neve por um irmão, que freqüentava a denominação desde o início. Hoje é o pastor Marcelo. Mesmo assim, continua grafitando e participando de competições de skate. "Agora a prioridade é a igreja. Não posso mais ficar um mês competindo na Europa e deixar a igreja na mão."

O visual despojado e a informalidade das celebrações ocultam porém uma visão bem conservadora sobre os valores da comunidade. Quem pensa em fazer do culto um bom lugar para paquerar pode se dar mal. "Vai dar com a cara no muro", avisa o pastor Marcelo. "Aqui não existe esse negócio de ‘ficar’", acrescenta um seguidor, que preferiu não se identificar. "O que a gente incentiva é que haja um tempo para que os casais se conheçam, construam uma amizade, e não comecem a se relacionar porque a menina é bonitinha ou tem um corpo legal", explica.

Sexo antes do casamento, portanto, nem pensar. E ninguém acha jurássico, absurdo ou precipitado assumir uma união sem esse tipo de intimidade. "Rola uma parada de sentimento. Quando é para acontecer mesmo, Deus cuida dessa área e o amor supera tudo", define Marcelo. "Eu creio que quando você é fiel a Deus, Ele levanta uma pessoa que te completa."

Ele explica porém que não se deve procurar o casamento para enfim ter acesso à intimidade sexual: "Não dá para pautar um casamento no sexo. Essa história de ‘vou casar para ver se ela é a mulher perfeita para mim’ não é o que a gente indica. Dá perfeitamente para levar um namoro sem ir para a cama".

A igreja não dispensa o dízimo. Os seguidores são convidados a doar 10% dos seus rendimentos, "como diz a Bíblia", sublinha o pastor. "Mas aqui não há envelopes e ninguém controla quanto cada um doa." Segundo Marcelo, o dinheiro vai para a manutenção da sede, instalação de novas células e para os trabalhos sociais da agremiação. "Além disso, tomamos o cuidado de contratar uma empresa de auditoria não-cristã, para controlar as contas e assegurar que ninguém enriqueça às custas da igreja", informa. "Todos estão bem cientes de que estamos investindo em vidas."(LP)

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