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A estudante Camila Alves da Silva, 16 anos, teve autorização do colégio para frequentar as aulas com a filha, Elisa | Henry Miléo/ Gazeta do Povo
A estudante Camila Alves da Silva, 16 anos, teve autorização do colégio para frequentar as aulas com a filha, Elisa| Foto: Henry Miléo/ Gazeta do Povo

NA FILA

10 mil crianças aguardam vagas

A Secretaria Municipal da Educação admite a carência de vagas em creches na capital. Atualmente, 9,3 mil crianças estão na lista de espera do órgão. Para resolver o problema, algumas unidades estão sendo construídas e outras reformadas pela prefeitura. "Nossa expectativa é de que até o fim de 2012 essa fila diminua, ou seja extinta. Inclusive na região da Cidade Industrial já temos projetos de construção de unidades em andamento", informa Daniele Regina dos Santos, superintendente da secretaria.

Sobre a prioridade nos atendimentos, Daniele diz que são analisados diversos fatores para determinar se a família poderá ser atendida pela unidade local. "Em alguns bairros ou vilas, analisamos se há situação de risco, qual a renda familiar e o tipo de área onde a criança vive. Pode ser que na unidade perto da casa de uma família, ela não seja prioridade, mas em outra creche, onde os fatores são outros, eles sejam os primeiros da fila." As famílias recebem a visita de educadores, professores e outros profissionais da prefeitura que analisam os casos e apontam se há ou não a prioridade no atendimento.

Curitiba possui 179 creches e tem 19 em construção. Elas atendem crianças entre 0 e 5 anos. No caso de não haver vagas, a Secretaria recomenda que as mães procurem também as creches mantidas por entidades filantrópicas e que são conveniadas ao município.

Precoce

14% das mães têm menos de 20 anos

Dos 25.350 partos realizados no ano passado em Curitiba, aproximadamente 3.550, ou 14% do total, foram de mães com menos de 20 anos. Essa situação, porém, já foi mais grave. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, em 1998, a cada cinco partos, um (19,8% do total) era de mãe nessa faixa etária.

Camila Alves da Silva está nas estatísticas de mães adolescentes do ano passado. Quando se descobriu grávida, estava completando o quarto mês de gestação. Na época, a menina de 15 anos cursava a oitava série. Ele saiu da escola por medo de algum acidente e repetiu o ano. Só voltou aos bancos escolares no início do segundo semestre deste ano. Para evitar que ela perdesse outro ano, durante o primeiro semestre, a escola enviava trabalhos e atividades para serem feitos em casa.

Camila já percebeu que conciliar a vida de estudante e mãe não é fácil. Ela diz que em sala de aula, já teve alguns problemas com professores por causa do barulho que a filha faz e que, se a criança não dorme, ela dificilmente presta a atenção no que é dito por eles. Em casa, ela também precisa escolher entre os cadernos e a pequena, sobrando só os fins de semana para colocar em dia todas as lições.

A estudante Camila Alves da Silva, de 16 anos, teve duas surpresas ao final do período de licença na escola para cuidar da filha recém-nascida. A primeira foi ruim: ela descobriu, assim como muitas mães curitibanas, que a estrutura pública de creches não é suficiente para atender à demanda e que a filha Elisa, hoje com 10 meses, não poderia ser atendida pela rede. Na sequência, a boa notícia: a direção da escola em que estuda, na Cidade Industrial de Curitiba, autorizou que ela frequentasse a sala de aula levando o bebê, o que a impediu de abandonar os estudos.

"Para nós é preferível que ela venha com a criança do que fique em casa e perca mais um ano", explica Joaquim Faus­tinani, diretor do Colégio Esta­dual Rodolpho Zaninelli, na Vila Verde. Camila não é a única nesta situação. Há ao menos mais uma estudante que leva o filho para a sala de aula no colégio. A prática não é combatida nem incentivada pela Secretaria de Educação do Paraná. Se­­gundo a assessoria de comunicação, não existe uma norma geral na rede estadual sobre o assunto. A decisão cabe à direção de cada colégio. O mesmo acontece nas escolas da rede particular do Paraná.

Prós e contras

A hebiatra Júlia Cordelini, que já coordenou ações voltadas para adolescentes na rede municipal de saúde, vê na abertura da escola para mães adolescentes um avanço, no sentido de evitar a evasão escolar. Ela pondera, porém, que isso não vai ocorrer sem efeitos indesejados. "A mãe precisa entender que a escola não é o lugar adequado para a criança, em função do barulho. Além disso, deve estar ciente de que seu aprendizado também não ocorrerá em condições ideais, uma vez que precisará dar atenção ao filho."

Júlia ressalta ainda a necessidade de a família dar todo o apoio possível e necessário para as adolescentes. "Os pais não podem deixar de ajudar, como forma de punição, principalmente por se tratar de um adolescente, que ainda não é maduro o suficiente."

Já a psicopedagoga Evelise Portilho, professora da Ponti­fícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), desaprova a medida. Ela diz que o estudo, como o trabalho, requer concentração total. A partir do momento em que a mãe precisa distribuir a atenção entre os professores e a criança, a queda no rendimento escolar é inevitável. "A escola não pode assumir uma responsabilidade que é do Estado. Ela quer ajudar, mas não tem estrutura para atender bebês."

Prática antiga

Levar filhos pequenos para a sala de aula não é necessariamente uma novidade. Há 15 anos, Cecília Alberton Schaefer fez isso. Ela tinha 24 anos e cursava a faculdade de Relações Públicas quando ficou grávida. Durante a semana tinha com quem deixar a filha, Maria Te­­reza. O problema era para frequentar as aulas de sábado, quando levava a pequena. "Era uma situação esporádica, tanto que nem cheguei a pedir permissão da faculdade." Segundo Cecília, professores e colegas sempre a recebiam bem. "A bebê tumultuava um pouco as aulas, mas nada que me fizesse perder a atenção nem tirar a de meus colegas. Os professores chegavam a segurá-la no colo para eu fazer as provas."

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