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Defensor da liberdade de imprensa e do envolvimento da mídia na promoção de atividades sociais, o vice-presidente das Organizações Globo José Roberto Marinho cedeu um espaço da agenda apertada para um bate-papo com a Gazeta do Povo. Sem fugir de perguntas, ele falou sobre o papel social da mídia e até sobre acusações corriqueiras feitas ao posicionamento da Globo nos anos de chumbo. À frente de projetos de ação comunitária e da Fundação Roberto Marinho, José Roberto esteve na última semana em Curitiba para fazer uma palestra no evento de comemoração dos 10 anos do Instituto GRPCom, braço social do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom). Acom­­panhe os principais trechos da entrevista.

Como o senhor avalia a queda da Lei de Imprensa no Brasil e a queda do diploma para o exercício do jornalismo?

A Lei de Imprensa foi feita durante um período de exceção. Com a queda da Lei de Imprensa, virou uma questão de Justiça comum. Em relação ao diploma, eu sempre fui favorável à não exigência porque o jornalismo não é uma profissão de uma ciência exata. É um dom de contar uma história. Qualquer pessoa com o treinamento necessário na redação pode se tornar um jornalista. Acho que tem de ser aberto a todo mundo, embora nossas empresas continuem dando preferência aos alunos oriundos das escolas de comunicação. Mas isso não se torna uma obrigação. Se nós tivermos alguém que resolveu ser jornalista e tem um texto brilhante, nós contratamos.

As Organizações Globo até hoje são muito criticadas por uma possível ligação com a Ditadura e por ter exercido uma influência no resultado da eleição presidencial de 1989. Como vê essas acusações?

Isso é normal para um grupo que tem o tamanho que nós temos. Alguns segmentos se sentem incomodados e levantam essas questões. Nós estamos habituados a isso e nós respondemos tudo da forma mais transparente possível. Isso está tudo publicado no nosso site de memória das Organizações Globo e são coisas que não me incomodam mais.

Como o senhor encara o episódio da censura sofrida pelo Estadão, que desde 2009 não pode publicar informações sobre o filho do senador José Sarney?

Não é só a censura do Estadão, mas também o clima que teve. Agora parece que melhorou um pouco, mas teve um clima durante o governo passado de muito ataque à imprensa. Começou-se a discutir de se colocar limite à liberdade de imprensa. Não existe nada de razoável no mundo inteiro com relação a isso. O que existe é a responsabilidade normal do direito civil de que se alguém for atingido, entra na Justiça e o jornal é penalizado.

Os ataques à imprensa não têm acontecido só no Brasil...

Na Argentina, a liberdade de imprensa acabou definitivamente. Eles estão perseguindo o Clarín das piores formas possíveis, com constrangimentos pessoais, impedindo a circulação do jornal, usando o sindicato, movimentos civis. Mas já tem muita gente atenta a isso. Há um movimento através das Américas, pelas unidades de imprensa, reagindo. Mas, infelizmente, no Brasil não existe nenhuma manifestação pública no sentido de condenar esse tipo de coisa.

O senhor acha que esse tipo de situação vivida na Argentina pode ocorrer no Brasil?

Não acredito nisso porque a sociedade brasileira está muito avançada nesse ponto. Não se admitiria que o personalismo de um presidente ou de uma presidenta conseguisse atrapalhar o trabalho de ninguém. Acho que nós temos instituições mais fortes que na Argentina. A nossa Justiça tem mais independência. Então, acho que não corremos esse risco no Brasil.

Qual o papel social da mídia?

O papel social da mídia, na sua natureza, no seu DNA, é informar, entreter e mobilizar as pessoas. A mídia tem uma responsabilidade editorial muito grande quando seleciona o assunto que está levando e deve fazer isso da forma mais correta possível. A mídia hoje também tem um papel muito importante nas denúncias para que se faça a correção dos demandos e abusos que são cometidos na máquina pública. Além disso, a mídia tem se engajado – mais aqui no Brasil do que lá fora – em campanhas específicas.

Esse engajamento da mídia no Brasil vem pela necessidade de o país ainda estar em desenvolvimento?

Em parte, por uma deficiência da nossa sociedade no tratamento desses temas. Em parte, porque todas as sociedades precisam se despertar. A questão ambiental, por exemplo, é um problema mundial. Tem questões específicas no Brasil, porque é um país que ainda está num grau de atraso de desenvolvimento humano, mas tem coisas que são universais.

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