• Carregando...
 | Walter Alves/Gazeta do Povo
| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo
  • Osiris Del Corso vira nome de rua -A inauguração oficial da rua ainda não aconteceu. Mas as placas estão lá. Uma pequena rua do bairro Cajuru, em Curitiba, recebeu o nome do estudante Osiris Del Corso, morto no crime do Morro do Boi. A mãe de Osiris, Maria Zélia Del Corso (foto), diz que soube da notícia com alegria. A iniciativa é resultado da comoção popular a respeito do crime.

Em meio à multidão que passa todas as quartas-feiras na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socor­­ro, em Curitiba, Monik Pegorari de Lima chama a atenção de todos em volta. Algumas senhoras param diante da jovem, perguntam se é mesmo ela e, após a con­­fir­­­mação, a beijam, abençoando-a e desejando boa sorte. Monik vi­­­rou celebridade, às avessas, é verdade, de uma tragédia que marcou a história do litoral paranaense. Nesta última semana, coincidentemente, depois de Monik ter conversado com a reportagem para contar como está a sua recuperação, o crime do Morro do Boi teve um novo desfecho.

O irmão de Juarez Ferreira Pin­­­to (condenado pelo crime), o policial civil Altair Ferreira Pinto (co­­­­nhecido como Taíco), foi preso jun­­­to com outros quatro policiais e mais o delegado de Matinhos, José Tadeu Bello. Todos são acusados de fraude processual com o objetivo de tentar incriminar o vigilante Paulo Unfried no lugar de Juarez.

A prisão de Taíco trouxe uma sensação de alívio às vítimas do crime do Morro do Boi. A mãe de Osiris Del Corso, namorado de Monik morto no crime, afirmou que a investigação agora está completa e que quem tinha dúvidas sobre a acusação contra Juarez agora não terá mais. Monik também ficou satisfeita, até porque nos últimos dias se sentia perseguida, mesmo morando no Nor­­deste. "Ainda não sabemos quem era e o que queria, mas o carro [com placa de Curitiba] passou mais umas três vezes por aqui. Tudo foi filmado. Não sei se tinha relação com o Taíco", diz.

Atingida por uma bala na coluna por Juarez, estar presa a uma cadeira de rodas é o que mais incomoda Monik. Numa conversa rápida durante o intervalo da novena da última quarta-feira, em Curi­­tiba, a jovem contou que não perdeu as esperanças e que nunca vai desistir do tratamento. "Muitos [cadeirantes] desistem. Eu não vou desistir. Quando andar, vou mostrar aos outros o que eles devem fazer", comenta. Monik enfrenta uma rotina pesada de fisioterapia – são sete horas por dia – e já vê avanços. Confira trechos da entrevista:

O que mais te marcou depois do crime?

Todos os médicos dizendo: "Se conforma, você não vai mais andar".

E como você reage a isso?

Faço fisioterapia durante sete horas por dia. Estou fazendo os tratamentos mais modernos. Vou voltar a andar.

Você está afastada de Curitiba por quê?

Estou fazendo meu tratamento no Nordeste, que é mais quente e isso ajuda na recuperação. E também porque tem gente me perseguindo. Um carro com placa clonada de Curitiba está rondando o condomínio onde moro. Já passamos o caso para a polícia.

Como foi receber a notícia de que o Taíco está preso? *

Na época foi difícil lutar contra tudo e contra todos para colocar o criminoso na cadeia. Foi o Juarez, não tenho dúvidas. Mas achei estranho o Paulo Unfried ter assumido a autoria do crime. Foi difícil, porque as pessoas passaram a acreditar que eu havia posto um inocente na cadeia.

Você pretende voltar a morar em Curitiba?

Assim que eu voltar a andar, volto para cá. Adoro Curitiba e tive de me afastar daqui depois de tudo o que aconteceu e tem acontecido.

Você ainda se lembra de todos os detalhes do crime?

Lembro tudo e tenho pesadelos.

Quando foi a última vez que você teve pesadelos?

Faz um mês. São sonhos reais, é como se eu vivesse aquilo tudo de novo. Queria esquecer, mas é impossível.

É verdade que você chegou a lutar com o homem que atirou contra vocês?

Não lutei com ele não. Foi assim: o Osiris e eu íamos jogar bola na praia com alguns conhecidos. Mas o Osiris preferiu, antes, me mostrar o pôr do sol visto do Morro do Boi. No pé do morro, estava o Juarez de cabeça abaixada. Acha­­mos estranho, e o Osiris perguntou se ele estava bem. Respon­­deu que sim. Continuamos o caminho, mas logo depois o mesmo homem veio atrás de nós, com a arma na mão, e disse para continuarmos subindo. Ele nos levou até a gruta e, quando estávamos lá dentro, pediu dinheiro e depois mandou a gente tirar as bermudas. Em seguida ele mandou a gente tirar o resto da roupa. O Juarez atirou da entrada da gruta, não deu tempo de lutar ou reagir contra ele. Ele voltou à noite e fez tudo o que fez. Resisti 24 horas sangrando porque tinha tido aula de primeiros socorros [no curso de Farmácia] e soube como deveria fazer para me manter viva.

Como você se sentiu após a condenação do Juarez?

Foi um alívio saber que ao menos ele não voltaria mais atrás de mim. Durante o processo, fui quase forçada, após ameaças, a reconhecer o Paulo [Unfried] como o bandido. Arrumaram esse homem, mas eu jamais compactuaria com mentiras. Não incriminaria a pessoa errada. Ele pode ter cometido outros crimes, mas não o do Morro do Boi.

Se você pudesse olhar hoje para o Juarez, o que diria a ele?

Queria perguntar por que ele fez isso comigo e com o Osiris. Nós nos preocupamos com ele no pé do morro. Não entendo, não consigo entender por que atirar contra nós, não o conhecíamos, nunca fizemos nada contra ele. Qual é o motivo então?

E os cursos de Educação Física e Farmácia que você estava fazendo. Você pretende terminá-los?

Sim, estava no último ano. Quando concluir, vou trabalhar com Far­­mácia, que é o que dá dinheiro. Mas depois que eu voltar a andar, vou trabalhar com Educação Física. Adoro artes marciais. Quero abrir – se tiver dinheiro – um centro de treinamento de artes marciais. Lutava vale-tudo, jiu-jítsu, muay thai. Luto capoeira desde os 9 anos. E foi lutando capoeira que eu conheci o Osiris. Sinto muita falta da companhia dele.

* Pergunta feita por telefone, posteriormente.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]