Um grupo de cerca de 15 mulheres tirou a blusa e, algumas, o sutiã para participar da manifestação feminista Marcha das Vadias, que teve início na manhã deste sábado (24) e continuou à tarde até a Praça Roosevelt, onde se dispersou.
Algumas delas tinham dizeres como "minhas regras" pintados no corpo. A maioria cobriu o rosto com panos.
"Nas ruas, de roupa, eu não me sinto respeitada. Aqui eu posso fazer o que quiser", disse uma das mulheres à reportagem. Nenhuma delas quis se identificar.
Questionada sobre a sensação de tirar a roupa em público, a resposta foi: "É libertador".
O grupo disse ainda que não participa de nenhum grupo feminista específico, nem se inspira no Femen - coletivo ucraniano que ficou conhecido pelo uso da nudez de mulheres como forma de chamar atenção.
A passeata, cuja concentração se deu no vão livre do Masp, seguiu trajeto pela rua Augusta no sentido centro.
Nas faixas carregadas pelos manifestantes, a maioria do sexo feminino, há dizeres como "Meu corpo, minhas regras" e "Quem cala não consente".
Na bateria, o grito era "vem pra rua contra o machismo".
Segundo a organização, 2.000 pessoas participam da marcha. De manhã, quando chovia, falava-se em 500.
Violência em casa
O tema da marcha deste ano é violência sexual. De acordo com Priscila (nome fictício), que é uma das organizadoras do evento, a ideia é conscientizar a população sobre os crimes sexuais.
"Dados mostram que sete em cada dez mulheres estupradas sofreram violência por alguém conhecido, muitas vezes da própria família. Estupro não acontece somente à noite em ruas escuras", diz.
Ela não quis se identificar porque diz ter sido ameaçada recorrentemente pela internet. "Muita gente entra na nossa página do Facebook e diz que a gente merece ser estuprada."
A reportagem conversou também com Melissa (nome fictício), que diz ter sido estuprada pelos tios dos quatro aos sete anos.
Hoje, adulta e grávida de nove meses, ela diz ter encontrado na marcha um espaço para falar sobre a violência que sofreu.
"Eu só consegui falar sobre o estupro que sofri aos 26 anos. É muito difícil falar", afirma.
A legalização do aborto também é uma reivindicação do movimento.
Outros protestos
A Marcha das Vadias fez um acordo com a organização do protesto anti-Copa para que os movimentos não concorressem.
A proposta das feministas é sair em marcha pela rua Augusta por volta das 14h.
A concentração do protesto anti-Copa estava previsto para começar uma hora depois, na Sé.
Às 16h, a principal praça de São Paulo já começava a receber pessoas portando faixas contra o mundial e em apoio às greves dos motoristas de ônibus e professores, deflagradas durante a última semana.
"A PM deve ficar por lá [no protesto anti-Copa]. Aqui há mais mulheres, idosos e crianças, quase não há policiais", disse uma das organizadoras do evento.
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