"Em Curitiba "nascem" mais carros que pessoas". A afirmação do prefeito Beto Richa, feita há pouco mais de um mês, quando a capital do estado chegou à marca de 1 milhão de veículos, sintetiza as estatísticas que comparam o incremento da frota versus o nascimento de pessoas. No ano passado, a cidade ganhou 24.324 bebês. No mesmo período, foram incorporados à frota de Curitiba 56.310 veículos, mais que o dobro de nascimentos. Levando-se em conta os números totais do estado, a situação é semelhante: "nasceram", no ano passado, 153.006 bebês e 243.336 veículos no Paraná.
A tendência observada desde 2001, de acordo com especialistas, é mundial. "Nossa taxa de natalidade está semelhante a de países europeus", comemora a diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Karim Regina Luhm. Já o coordenador de registro de veículos do Departamento de Trânsito (Detran) do Paraná, Cícero Vieira da Silva, não tem razão para festejar. Segundo ele, o incremento na frota representa transtornos para os pedestres e o caos no sistema viário. "O poder público tem de trabalhar em campanhas para o uso do transporte coletivo, bicicleta e para que as pessoas façam a pé pequenos percursos", opina.
Para ele, o financiamento de automóveis em prazos longos até 84 meses facilita a aquisição e faz com que cada vez mais pessoas tenham carros. Dados do Detran mostram que, no estado, o número de veículos já supera o número de pessoas habilitadas a dirigi-los desde 2000. Hoje, há cerca de 1,09 veículo por condutor no Paraná. Em Curitiba, a proporção ainda não foi superada, mas a situação não é tão diferente. Na capital paranaense há 0,99 veículo por condutor.
A família do funcionário público Glauco Chagas, 48 anos, é um exemplo deste estilo de vida. Na casa dele, apenas ele e a esposa, Heloísa, têm carteira de motorista, mas a garagem é ocupada por quatro veículos: um de passeio, um jipe, uma motocicleta e uma caminhonete. "Eu, normalmente, uso o carro pequeno e minha mulher, a caminhonete", conta.
Quando o dia está bonito, entretanto, Glauco diz que usa a moto para ir ao trabalho. Para viajar para a praia com a esposa e as duas filhas, ele usa o jipe. "Não é uma questão de necessidade, mas de comodidade. É bom termos a opção de escolher qual carro usar. Desde a adolescência gostava de moto e o jipe posso usar com os amigos para fazer trilhas off-road", afirma. Segundo Chagas, o fato de ter quatro veículos não faz com que a sua família contribua com o caos no trânsito. "Dois veículos sempre estão parados. Só faz diferença para o trânsito o número de carros na rua", diz.
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