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O supercomputador custou US$ 50 milhões e vai aumentar a antecedência das previsões. Mas carecerá de dados, que são insuficientes e estão dispersos no país | Divulgação/INPE
O supercomputador custou US$ 50 milhões e vai aumentar a antecedência das previsões. Mas carecerá de dados, que são insuficientes e estão dispersos no país| Foto: Divulgação/INPE

Histórico

20 anos de monitoramento do clima

O Inpe conseguiu comprar seu primeiro supercomputador no início dos anos 90, depois de enfrentar a desconfiança das grandes potências e o embargo dos Estados Unidos. Os norte-americanos argumentavam na época que a finalidade do equipamento seria bélica e a diplomacia brasileira conseguiu comprovar que os fins eram voltados para a ciência atmosférica.

Com essa aquisição foi criado em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, já próximo à fronteira com o Rio de Janeiro, o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec). Atualmente esse núcleo é a maior referência em estudos climáticos no hemisfério sul do planeta.

O supercomputador comprado agora, o Tupã, como foi batizado, é capaz de obter e processar dados vindos de satélites, estações terrenas, boias oceânicas, balões estratosféricos e de plataformas de coletas de dados. E realizar 258 trilhões de cálculos por segundo.

Numa comparação com um computador caseiro modelo Core 2 Duo, em velocidade, dá para se ter a dimensão da capacidade da velocidade de processamento do novo supercomputador: os dados que o Tupã processa em um dia, o Core levaria 25 anos.

O Brasil terá em funcionamento a partir do segundo semestre deste ano o terceiro supercomputador mais potente do planeta e o mais veloz de todo o hemisfério sul. De­­no­­minado Tupã e com um custo de US$ 50 milhões, o equipamento fi­­cará na sede do Centro de Previ­­são do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), órgão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba paulista. Capaz de realizar 258 trilhões de cálculos por segundo, será uma ferramenta crucial na previsão de tempo e estudos em mudanças climáticas. Mas está longe de ser a solução para as catástrofes climáticas.O coordenador do Cptec, Luiz Augusto Machado, explica que o novo supercomputador permitirá ao Inpe prever o tempo de forma mais confiável e com maior prazo de antecedência, além de ampliar o nível de detalhamento para 5 km na América do Sul e 20 km para todo o globo. Ainda será possível estabelecer a ocorrência de eventos extremos com maior precisão como tempestades, secas, geadas, ondas de calor, entre outros fenômenos.

"A previsão vai melhorar em todos os aspectos, vamos aumentar a margem de acerto tanto na simulação climática como na previsão do clima sazonal, mas para se ter resultados nesta resolução precisamos de mais dados. Há um buraco no Brasil em previsão imediata, isso não existe hoje e envolve outros equipamentos como radares e PCDs", explica o cientista.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, está confiante na melhoria na previsão meteorológica e climática. "Teremos tempo para retirar as famílias das áreas de risco com até duas horas de antecedência. Ainda temos os radares, como os da Aeronáutica, que são espetaculares", afirmou o recém-empossado ministro exatamente no momento que as chuvas de verão destruíam parte do Sudeste brasileiro, deixando um saldo de 847 mortes na serra fluminense.

Dificuldades

O novo supercomputador está longe de ser uma solução para o problema. O aparato existente no Brasil para previsão climática e meteorológica se resume a poucos e distantes núcleos entre si por falta de uma política nacional para o setor.

Além das quatro unidades dos Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) do Comando da Aeronáutica – já um tanto desatualizados em seu aparato tecnológico e por falta de pessoal especializado – existem o Cptec, do centro do Comando da Marinha, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) do Ministério da Agri­cultura, e algumas unidades mantidas por seus estados de origem, como o Simepar, no Paraná, e Fun­ceme, no Ceará. Além do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e algumas universidades.

Entretanto, quase nada está integrado a uma rede principal ou mesmo a órgãos de meteorologia. Os dados estão dispersos e sem perspectiva de serem reunidos em um só programa.

Há lugares no Brasil onde sequer existe o acompanhamento por estações meteorológicas ou mesmo por qualquer equipamento básico de coleta de dados, principalmente na região Centro-Oeste e em algumas áreas da Amazônia Legal. E sem isso, o supercomputador do Inpe opera com dados parciais do território brasileiro. "A rede não tem uma distribuição homogênea das estações meteorológicas e nem das Plataformas de Coleta de Dados pelo Brasil, a concentração é na área urbanizada. Isso é algo que precisa ser corrigido. Precisamos ter um satélite geoestacionário ou um sistema por comunicação dedicada para podermos ter a previsão do tempo a curto prazo. Isso inexiste no país e é fundamental para o sistema de alerta sobre catástrofes", observa Machado. A dotação orçamentária de R$ 100 milhões por ano também é incapaz de suprir as necessidades do segmento.

Mudança

Nem mesmo o discurso adotado por cientistas e governos da urgência na constituição de um programa de alertas para as transformações naturais decorrentes do aquecimento global, detonado com a anomalia climática Catarina, em 2004 no litoral catarinense, surtiu efeito até a tragédia do começo de 2011. Apesar de o Painel Inter­gover­namental de Mudanças Climá­ticas (IPCC) alertar sobre os desastres advindos desta alteração nos padrões do clima e o Brasil já ter sentido esses efeitos.

Nesses últimos cinco anos a tempestade Catarina foi elevada à condição de primeiro furacão do Atlântico Sul em conferência internacional. E há evidências da intensificação do corredor de tornados que atravessa parte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, todo o Paraná e São Paulo, e agora já atinge com maior frequência os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Pará e Amazonas.

Falta estrutura para dados

Um dos grandes problemas para alimentar o supercomputador do Inpe ou qualquer sistema de alerta a ser criado está na deficiente estrutura de coleta de dados ambientais existente no Brasil. O caso clássico é a falta de Plataformas de Coleta de Dados (PCDs). Esse aparelho, relativamente barato – entre R$ 8 e 40 mil – e produzido por empresas na­­cionais, tem uma rede insignificante diante do tamanho do nosso território.

Atualmente são cerca de 800 unidades entre ativas, em manutenção e inoperantes. E sem a coleta de informações científicas praticamente se torna impossível a análise precisa do comportamento e alterações no meio ambiente natural.

Uma PCD carrega diversos sen­­sores que promovem o recolhimento de informações am­­bi­­entais e os envia por sistemas de­­dicados de comunicação ou sa­­télites às bases de recepção dos institutos de pesquisa. Quanto mais informações, melhor será o processamento e a exatidão dos modelos climáticos do supercomputador, que geram as previsões do tempo. Mas, além de poucas, são mal distribuídas, pois se concentram em localidades com adensamento populacional.

Assim como os radares Dop­­pler, as PCDs são fundamentais para a criação de uma rede mais precisa de previsão e monitoramento do clima. "Outro fa­­tor predominante é a escassez de recursos para investimento. Con­­sequências catastróficas das estações chuvosas são esquecidas durante o ano, apesar de sua repetitividade. Ações concretas não são tomadas e a prioridade de medidas de implementação de sistemas de alerta se dissipa durante o ano", diz o diretor da Atmos Sistemas, Fábio Fukuda.

Para se ter noção da precariedade do sistema, a Rede Sismográ­fica do Sul e do Sudeste do Brasil prevê a instalação de apenas 12 plataformas de coleta de dados geofísicos na costa Sul e Sudeste do Brasil. O projeto inclui cidades de grande concentração populacional, como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, exatamente onde não há grandes riscos de catástrofes com encostas ou grandes cheias, já que são muito monitoradas. Entretanto, as localidades de alto risco, como as encostas serranas e áreas de assolamento do solo não estão contempladas para receber as plataformas.A tendência é piorar com os efeitos do aquecimento global. A Organização Mundial de Meteo­­ro­­logia disse que 2010 igualou o recorde dos anos mais quentes, ao lado de 2005 e 1998.

O Brasil também fechou o ano passado sendo o sétimo país com mais mortes em decorrência das chuvas, com 343 óbitos. A expectativa é que chegue à liderança deste ranking em 2011, pois só em janeiro já registrou 900 mortes.

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