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Rio Bonito do Iguaçu – A ocupação da fazenda Pinhal Ralo, em Rio Bonito do Iguaçu, região central do Paraná, completa hoje 10 anos. Para comemorar a data, os assentados promovem uma série de atividades para lembrar a conquista da terra e homenagear os sem-terra mortos durante os conflitos agrários na região. Uma década depois, os assentamentos Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire formaram o maior projeto de reforma agrária da América Latina com 1.512 famílias e mudaram o perfil urbano e rural de Rio Bonito do Iguaçu.

A ocupação da Pinhal Ralo é considerada até agora a maior e mais ousada ação já realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, (MST) no País. Na madrugada de 16 de abril de 1996, cerca de 3,4 famílias oriundas de diversas partes do Paraná e até de estados vizinhos avançaram sobre o imóvel rural – a sua área total, de 83 mil hectares, é um dos maiores latifúndios do Sul do Brasil. A ação se tornou famosa em todo o mundo através da lente do fotógrafo Sebastião Salgado que a documentou na obra Terra.

O imóvel rural pertencia às famílias Giacomet e Marodin, de Porto Alegre. Elas administravam a Indústria de Madeiras Giacomet&Marodin, que explorava o processamento de madeira e a agricultura no latifúndio, de divisa com cinco municípios. A ocupação aconteceu numa época onde os conflitos agrários começavam a florescer em vários pontos do Paraná. A conquista da terra, porém, teve um preço alto. Nesse período, pelo menos 10 trabalhadores rurais morreram por conta da disputa da terra em Pinhal Ralo.

As primeiras vítimas dessa luta foram Vanderlei das Neves, 16 anos e José Alves dos Santos, 43 anos, mortos em confronto com os seguranças da fazenda em 16 de fevereiro de 1997. Os demais foram assassinados nos anos seguintes também em disputas internas pela terra. A criação dos assentamentos Ireno Alves dos Santos (1998) e Marcos Freire (2000), contudo, não diminuiu a tensão no município. Ao contrário. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, (Incra) assentou apenas 1.512 das 3.400 famílias que participaram da ocupação, o que resultou em brigas, divisões e desilusões para muitos trabalhadores rurais na época.

Até hoje, um grupo de 125 famílias dissidentes do MST está acampada na fazenda, aguardando uma solução por parte do Incra. De acordo com o movimento, 30% das pessoas que receberam o lote da reforma agrária foram embora ou venderam os seus lotes para terceiros. Até hoje, o próprio MST e o Incra enfrentam dificuldades para legalizar os lotes da reforma agrária. "A situação já foi bem pior, mas agora as famílias estão mais conscientes sobre a sua responsabilidade perante a reforma agrária", afirma Ênio Pasqualin, presidente da Central das Associações Comunitárias do Ireno Alves dos Santos (Cacia).

A entidade é uma espécie de cooperativa central que reúne 16 associações do assentamento e é responsável pela aplicação dos recursos enviados pelo governo federal. Neste ano, para o assentamento estão previstos recursos de R$ 17 milhões em investimentos para a execução de diversas obras, entre saneamento básico, melhorias nas estradas, construção de centros comunitários e escolas. De acordo com Pasqualin, os recursos fazem parte do Plano de Consolidação dos Assentamentos (PCAs) que está sendo executado no Ireno Alves. No Marcos Freire, o PCA está em estudo pelo Incra.

De acordo com a Cacia, a produção dos assentados está baseada no plantio de grãos, como soja, milho, feijão e arroz, além das atividades de bovinocultura de leite e fumicultura. "A reforma agrária viabilizou as famílias que ganharam um padrão de vida melhor", destaca Pasqualin, que está desde o início da ocupação e também é um dos beneficiados pela reforma agrária no Ireno Alves dos Santos.

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