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Curitiba, julho de 2003: 400.800 prejudicados | Luiz Costa/ Gazeta do Povo
Curitiba, julho de 2003: 400.800 prejudicados| Foto: Luiz Costa/ Gazeta do Povo

Linha do tempo

A memória do brasileiro precisa ser constantemente refrescada para que não se apaguem as tragédias climáticas que aconteceram nos últimos tempos e se perceba o quanto elas estão mais frequentes:

• Há apenas um mês, no início de maio, o Paraná já havia sido atingido por fortes chuvas. Foram 18 mil pessoas prejudicadas, com 3 mil que tiveram de deixar suas casas, em 14 cidades. Francisco Beltrão foi o município mais impactado.

• Em junho e julho do ano passado, também um grande número de cidades paranaenses foram afetadas por fortes chuvas. O balanço de estragos chegou a 100 municípios, atingindo 110 mil paranaenses e causando duas mortes, em Laranjeiras do Sul.

Opinião

Estamos despreparados

Katia Brembatti, repórter

A chuva é um fenômeno incontrolável, mas previsível. Era de se esperar, portanto, que a humanidade – capaz de viajar ao espaço – já tivesse aprendido a conviver com algo que a acompanha há milênios. Mas, não. Ainda tratamos a chuva como o primitivo da caverna de Platão – que, sem entender a escuridão, a teme e sofre as consequências. A conta é paga com vidas e prejuízos. Tudo porque prevenção simplesmente não se encaixa no "jeitinho" brasileiro.

Uma lista com os recordes (de chuvas, de ventos, de prejudicados) foi pedida aos principais órgãos que monitoram desastres no Paraná. A resposta foi de que os dados até existem, em algum arquivo, mas nunca foram sistematizados e organizados a ponto de mostrar uma linha do tempo das principais tragédias climáticas. Não é uma simples curiosidade jornalística. É um balizador, um parâmetro. Olhando para o passado é possível prever movimentos futuros.

Conta a lenda política que – daqui a dois, três anos – o Paraná terá um mapeamento preciso das possíveis consequências de chuvas intensas, permitindo um plano direcionado para a retirada de famílias de áreas de risco antes que a água suba. É um alento. Já passou da hora de investir em esforços para entender como funcionam os fenômenos, traçar estratégias que diminuam danos e saber como agir em caso de emergência, evitando o desespero atrapalhador e o improviso mambembe.

É muita sorte o Brasil não ter vulcões ativos. No quesito enfrentamento de forças da natureza, não estamos preparados nem para o nível básico.

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  • Matinhos, janeiro de 2005: 97.092 prejudicados
  • Pinhais, outubro de 2009: 189.180 prejudicados
  • Sengés, janeiro de 2010: 83.109 prejudicados
  • Almirante Tamandaré, fevereiro de 2011: 54.400 prejudicados
  • Morretes, março de 2011: 38.761 prejudicados
  • Londrina, maio de 2012: 324.000 prejudicados
  • União da Vitória, julho de 2013: 1.915 prejudicados

Não foi uma chuvinha qualquer. Em números, a água que caiu do céu nos primeiros dias de junho não deixa dúvidas: foi o maior desastre natural na história recente do Paraná.

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Ao passar da marca de meio milhão de paranaenses prejudicados, a chuva intensa bateu o recorde de vítimas das últimas duas décadas. Também na quantidade de mortos, a semana que passou foi a mais trágica: 11 pessoas tiveram a vida levada pela água. Até então, os 22 anos anteriores de vendavais e enxurradas haviam somado 71 óbitos no estado. A grande enchente de 1983, que deixou 80% de União da Vitória submersa, não causou mortes. E a "ferida" ainda aberta nas encostas do Litoral do Paraná, em março de 2011, deixou quatro mortos.

Outros recordes servem para explicar o rastro de destruição que atingiu, de uma forma ou de outra, um em cada 18 paranaenses. Primeiro, choveu muito, como nunca havia sido registrado em alguns pontos do estado. Em Guarapuava, choveu em poucas horas o equivalente ao mês mais chuvoso dos últimos 50 anos.

A chamada cota milenar foi ultrapassada no Rio Cavernoso, no Centro-Sul, conta o chefe do Departamento de Hidrometria do Instituto das Águas do Paraná, Paulo Eduardo Cavichiolo Franco. A água invadiu a casa de máquinas de quatros pequenas centrais hidrelétricas – situação que a engenharia não conseguiu prever, já que o volume e o nível do rio não deveriam atingir a construção.

Clima

A própria chuva, contínua e espalhada pelo estado todo, já foi um fenômeno poucas vezes visto. Duas massas de ar opostas, uma quase na divisa com São Paulo e outra estacionada em Santa Catarina, pressionaram as nuvens que estavam sobre o Paraná. Sem conseguir avançar, as nuvens derramaram tudo o que tinham acumulado. Assim, não choveu em um ponto isolado, que permitisse a absorção ou o escoamento para áreas menos "molhadas". A precipitação esparramada foi alimentando a calha dos rios. O Iguaçu recebeu água, em grandes quantidades, da nascente à foz. Em todo o curso do rio, juntando ainda os afluentes, os índices de chuva passaram de 100 milímetros – o que já é bastante para causar estragos.

O resultado foi que, de uma ponta a outra do estado, os prejuízos começaram a aparecer: por deslizamentos de terra, por enxurradas, por alagamentos e por inundações (veja explicação ao lado). Quase a metade das cidades paranaenses registrou algum tipo de dano e 148 tiveram tantos estragos que pediram situação de emergência, em busca de verbas para compensar os problemas. Com rodovias e pontes destruídas e dezenas de casas danificadas, o cálculo dos estragos ainda é vago, mas é apontado na casa de R$ 1 bilhão, outro recorde negativamente batido na última semana.

Propício para o caos climático

Quando o assunto é fenômeno climático extremo, o Paraná é um ponto de concentração de desastres no mapa do Brasil. "A Região Sul é aquela em que, em geral, são observados os maiores números de registros de desastres hidrológicos como um todo no país, especialmente aqueles associados a chuvas intensas e escoamentos de alta velocidade, ou seja, alagamentos e enxurradas.

Historicamente, a região é marcada não somente pela ocorrência de grandes desastres, mas também pela frequência e variedade de eventos adversos e até pela ocorrência de fenômenos atípicos", diz o Anuário de Desastres.

No Brasil, os dados mais recentes de desastres são de 2012 e apontam para 93 mortos e 17 milhões de prejudicados naquele ano – ou seja, quase 10% da população brasileira foi afetada, de alguma forma, pelo clima e a falta de estrutura para lidar com os problemas associados a ele. Como desastre natural, a estiagem provoca o maior número de afetados. Mas não é repentina nem costuma causar mortes. São os casos de eventos abruptos, com chuvas e ventos intensos, que provocam mais danos.

Desde 2009, o Paraná ultrapassa a casa de 30 eventos de enxurrada por ano, concentradas principalmente, nos meses de janeiro e fevereiro. "O fato de ter chovido tanto assim em junho chama a atenção. E não é a primeira vez que acontece", comenta o diretor do Centro de Estudos e Pesquisas de Desastres (Ceped), Antônio Edésio Jungles. O Paraná está numa área de convergência, que propicia maior quantidade de chuvas. Para o pesquisador, não resta dúvida de que os eventos extremos estão ficando mais frequentes e intensos. Entre as explicações possíveis estão as mudanças climáticas no planeta e o avanço de moradias em áreas inadequadas.

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