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Heloísa e Vilfredo Schurmann (ao centro da foto) tinham 35 anos quando decidiram partir para o que muitos definiriam como loucura: passar uma década no mar acompanhados dos três filhos, ainda pequenos. Trinta anos e outras duas expedições depois da primeira volta ao mundo realizada por uma família brasileira, muita coisa mudou, sobretudo em termos de tecnologia. Mas o encantamento dos Schurmann com o mar permanece como naquele abril de 1984. "É uma conquista conhecer novos lugares. Ficamos muito curiosos, isso faz muito bem", garante o capitão Vilfredo.

No último domingo, a família catarinense deu início a uma nova aventura, desta vez rumo ao Oriente. A bordo do veleiro Kat – uma homenagem à filha mais nova do casal, falecida em 2006 –, doze tripulantes vão passar os próximos dois anos em busca de respostas sobre a teoria de que seriam os chineses, e não os europeus, os primeiros a navegar o globo e chegar à América. "Sempre quis conhecer a China. É uma cultura que nos ensinou muito: o papel, a pólvora, a bússola. Por mais que a gente escute, leia, é diferente ver in loco a Grande Muralha e todos os lugares", planeja Heloísa.

Toda a viagem, cujo ponto de partida e chegada é Itajaí (SC), pode ser acompanhada ao vivo pelas redes sociais da Família Schurmann ou pelo site www.expedicaooriente.com.br/blog. Confira trechos da entrevista com Heloísa e Vilfredo Schurmann:

Como foram os últimos preparativos?

Heloísa – Anteontem [dia 17; a entrevista ocorreu na última sexta] compramos os alimentos secos, colocamos nos lugares, e hoje o que é de geladeira e freezer. Estamos vendo o que faltou, um ganchinho aqui, roupa de cama, colocando cada coisa no seu lugar. Também temos que ir à Polícia Federal. É como sair de avião, tem que carimbar os passaportes. Avisamos a Marinha, vamos até Punta del Este, e eles nos dão permissão para sair.

Até parar em terra firme de novo demora?

Heloísa – A primeira parada será em cinco dias. Paramos constantemente em terra firme, dependendo, ficamos parados por uma semana.

São 12 tripulantes. Alguma criança?

Heloísa – O mais novo é meu neto (Emmanuel) de 23 anos. Nenhuma criança dessa vez. Só eu [risos]. Alguns dos nossos tripulantes largaram o emprego porque queriam fazer uma aventura. Uma expedição dessa não é todo mundo que tem oportunidade de fazer. O que é preciso?

Heloísa – Vontade, entusiasmo, estar envolvido. É um trabalho de equipe. Temos editor de mídia, de fotografia, cada um com uma função. São todos entrevistados antes, para ver se realmente é isso que querem. Tem quem vai deixar família, mulher. É como a pessoa que trabalha num navio de transporte de combustível, por exemplo, e passa um bom tempo sem ver a família.

Por que o Oriente como destino?

Heloísa – Nós lemos o livro 1421 – O ano em que a China descobriu o mundo e ficamos motivados em seguir essa rota. Depois de muita pesquisa, era isso que a gente estava com vontade de fazer, descobrir essa rota dos chineses para dar uma nova volta ao mundo. Nos preparamos e vamos... Vamos à Antártica, lugares que nunca fomos... Vou dizer que, pelo menos, 60% são lugares novos.

Uma família que já passou tanto tempo no mar, ainda tem o que descobrir?

Vilfredo – Sempre tem coisas novas, puxa vida. Antártica não conheço, a China não conheço. Japão, Vietnã, tudo isso não conheço. São tudo coisas novas, vão surgindo. São muitas ilhas no Pacífico, no Índico. Como a Ilha de Chagos, que nunca estivemos. É patrimônio da humanidade, não existe casa, mas a vida marinha é exuberante. É uma conquista conhecer novos lugares, ficamos muito curiosos, isso faz muito bem.

De onde surgiu a ideia de construir um veleiro sustentável?

Vilfredo – Primeiro temos que cuidar do nosso planeta água, é nosso fundo de quintal. Pensamos "vamos colocar energia limpa, não precisar de gerador o tempo todo". Aí colocamos dois eólicos, quatro painéis solares. "Puxa, mas dá para ter uma turbina quando o barco está velejando. É como se fosse um motor de popa e carrega as turbinas". Aí a gente foi, uma coisa puxou a outra. A maioria dos barcos no Brasil não tem tratamento de esgoto, não só de cozinha, como de banheiro. E nós: "vamos comprar o equipamento". Vem outra viagem depois dessa?

Vilfredo – Ah vem. Hoje falei "se o Homem lá em Cima me der saúde, vou continuar navegando por aí". A ideia é que, seis meses depois de voltar, vamos para um novo projeto. Já tem um pessoal estudando, porque precisa de planejamento, gestão do projeto. Com tanto tempo no mar, vocês mantêm uma casa ainda?

Vilfredo – Temos [a casa] em Bombinhas. Mas nossa casa, casa mesmo, de agora em diante é esse barco.

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