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Estiagem seca Cataratas do Iguaçu (foto 1) e enchente no Piauí (foto 2): desastres naturais relacionados à escassez de chuva, ou ao excesso dela, têm sido observados com mais frequência no Brasil | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Estiagem seca Cataratas do Iguaçu (foto 1) e enchente no Piauí (foto 2): desastres naturais relacionados à escassez de chuva, ou ao excesso dela, têm sido observados com mais frequência no Brasil| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Números são preocupantes

No mundo, quase 236 mil pessoas morreram vítimas de desastres na-turais no ano passado. Segundo o relatório da Estratégia Internacional de Redução de Catástrofes da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil foi o 12º país em número de pessoas atingidas por catástrofes entre os anos de 1994 e 2003.

Durante a enchente e os desabamentos que ocorreram em Santa Catarina em dezembro do ano passado, 120 pessoas morreram. Nas últimas semanas, por causa das chuvas nas regiões Norte e Nordeste, outras 44 morreram e cerca de 180 mil estão desabrigadas.

A violência também é responsável por números alarmantes. De acordo com a organização não governamental (ONG) Human Rights Watch, cerca de 50 mil brasileiros são assassinados por ano no Brasil.

Os surtos de doenças infecciosas também são uma ameaça ao país. Só em 2008, a dengue atingiu mais de 44 mil pessoas. A gripe suína, que já foi transmitida a mais de 8 mil pessoas em 33 países, também já chegou. Até agora existem 38 casos suspeitos da doença e oito casos confirmados. (JK)

  • Estiagem seca Cataratas do Iguaçu (foto 1) e enchente no Piauí (foto 2): desastres naturais relacionados à escassez de chuva, ou ao excesso dela, têm sido observados com mais frequência no Brasil
  • Tornado nos EUA (foto 3) e terremoto na Itália(foto 4): eventos como tufões ou terremotos, comuns em outros países, podem vir a ocorrer no Brasil, que precisa estar preparado
  • Tornado nos EUA (foto 3) e terremoto na Itália(foto 4): eventos como tufões ou terremotos, comuns em outros países, podem vir a ocorrer no Brasil, que precisa estar preparado

O Brasil sempre se considerou um país privilegiado e pacífico, distante do perigo causado pelos desastres naturais e da violência gerada pelas guerras. A falta de preocupação com esse tipo de evento se reflete até mesmo nas ações do governo brasileiro. No Dia Mundial da Saúde, em 7 de abril, enquanto o mundo discutia como tornar os hospitais mais seguros em situações de emergência, tema proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde optou por divulgar uma pesquisa sobre a qualidade de vida dos brasileiros.

Infelizmente, os números e os últimos acontecimentos têm mostrado que as enchentes, as secas e os ciclones estão se tornando cada vez mais presentes em nossa realidade. Então, será que os hospitais do país estão de fato preparados para o atendimento a múltiplas vítimas de grandes catástrofes?

De acordo com uma reportagem publicada pela revista especializada Emergência, em julho de 2006, a maioria não está. Na época, 95% dos 5,8 mil municípios brasileiros não contavam com serviços de combate a incêndio, resgate ou pronto-socorro.

Apenas algumas capitais do país contam com redes de saúde capacitadas para atender tragédias e catástrofes em grande escala. No Rio de Janeiro, o Hospital do Câncer III, e em São Paulo, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, são exemplos de instituições que seguem as orientações da OMS (ver quadro). Além de executarem simulações do Plano de Atendimento a Múltiplas Vítimas, reformaram a sua estrutura física para se tornarem mais acessíveis. O hospital carioca realiza, inclusive, simulações de evacuação em caso de tiroteio, por estar próximo a uma favela sob comando do tráfico de drogas.

Realidade local

Para Irvando Carulla, superintendente de gestão de sistemas de saúde do governo do Paraná, o mais importante em casos de atendimento a desastres é ter uma rede hospitalar organizada, não só com hospitais de referência, mas também com centros de saúde menores, para o atendimento de casos de média e baixa complexidade. Ele garante que o estado está preparado não só para o atendimento a vítimas de desastre naturais, mas também para o caso de surtos infecciosos. "Desde a época da gripe aviária, estamos nos organizando. Quatro grandes hospitais contam com salas especiais de pressão negativa para o internamento de pacientes infectados: o Hospital de Clínicas e o Hospital do Trabalhador, em Curitiba, o Hospital Universitário de Londrina e o Hospital Ministro Costa Cavalcanti , em Foz do Iguaçu. É claro que, no caso de uma epidemia, eles não serão suficientes para atender a demanda, mas temos pelo menos um hospital de referência em cada regional de saúde do estado preparado para estes casos", explica

O diretor do sistema de urgência da prefeitura de Curitiba, Matheos Chomatas, lembra que o atendimento a múltiplas vítimas depende do trabalho em conjunto de várias entidades. Um hospital estar preparado não é o suficiente para garantir o sucesso de uma ação. É preciso acionar a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e até a polícia, quando necessário. "Curitiba conta sim com um plano de emergência, mas o risco de uma catástrofe ou de uma epidemia é teórico e, por isso, ninguém está 100% pronto para agir. Se, por exemplo, houvesse um terremoto que fizesse desmoronar o edifício Asa, teríamos todas as condições de atender as vítimas. Agora, se caíssem outros três prédios, não teríamos a mesma capacidade. Dependendo do tamanho da catástrofe, seria necessária uma estrutura de plano nacional, com a participação do Exército e com a criação de hospitais volantes", exemplifica.

Para Chomatas, o maior problema é que, enquanto Curitiba conta com uma boa estrutura para cuidar de sua população, muitos municípios do interior do estado e da região metropolitana não. "Colombo é uma cidade de 200 mil habitantes que não tem um leito de UTI. Se um incidente grave ocorrer por lá, as vítimas terão de ser remanejadas para a capital. Outro exemplo: o helicóptero que a Secretaria Municipal da Saúde tem em parceria com a Polícia Rodoviária Federal realiza em média 60 atendimentos por mês. Destes, 90% ocorrem fora de Curitiba", explica.

Embora nem tudo possa ser planejado, o diretor acredita que uma das mais importantes medidas para impedir as tragédias é a prevenção. "Um rio só vai subir e transbordar se jogarem lixo nele. A dengue só vai se espalhar se não eliminarmos todos os focos de água parada. Muitas pessoas deixarão de ficar doentes se tiverem acesso a água tratada e saneamento básico."

Controvérsia

Na opinião do médico Rached Hajar Traya, chefe do pronto-socorro do Hospital do Trabalhador e membro da Sociedade Pan-Americana de Trauma, a realidade está muito distante do discurso. Ele explica que os três maiores hospitais da cidade que fazem atendimento ao trauma – Cajuru, Evangélico e Trabalhador – estão trabalhando no limite de sua capacidade porque a maioria dos atendimentos que realizam são feitos pelo SUS. "Se em um fim de semana, quando aumenta o número de acidentes, já é difícil encontrar atendimento, imagine se acontecer um evento de proporções maiores? Se um prédio desmorona, por exemplo, nem todas as vítimas são graves e por isso, podem ser atendidos em outros hospitais e até mesmo em clínicas e postos de saúde. Mesmo assim, teríamos dificuldade de atender a todos, porque a maioria dos hospitais estão à beira de um colapso", alerta.

Para o médico, no Brasil não existe uma cultura de prevenção, diferentemente dos Estados Unidos e de Israel, países acostumados a guerras, atentados e desastres. "Mas, se você comparar os números, só em Curitiba, durante um fim de semana, há mais mortes no trânsito do que em um atentado em Jerusalém. É preciso haver uma mudança de mentalidade".

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