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Diego, Gabriela, Marília, Henrique, Noemi e Heloísa perceberam que os telhados da universidade poderiam coletar a água da chuva para usos menos nobres, como lavar calçadas e regar jardins | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Diego, Gabriela, Marília, Henrique, Noemi e Heloísa perceberam que os telhados da universidade poderiam coletar a água da chuva para usos menos nobres, como lavar calçadas e regar jardins| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Da "química verde" aos sensores eletrônicos

O uso racional da água vem se tornando uma preocupação constante entre os jovens, principalmente os futuros profissionais. É o caso de Ricardo Mellegari de Oliveira, 18 anos, e Guilherme Lemos Kosteczka, 21. Ambos são alunos do curso de Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e adeptos da chamada "química verde", um conceito relativamente recente que busca não agredir o meio ambiente.

"Até pouco tempo atrás, os procedimentos químicos usavam muito solvente e outros produtos agressivos", explica Ricardo. "Utilizamos a química de forma viável e sustentável. Se possível, nem usamos", completa Guilherme. Conceitos como este integram a disciplina de Eco­estratégia, ministrada pelo professor Jorge Guerra.

"A água de chuva de Curitiba é de excelente qualidade. Você pode adequá-la para o uso em piscinas ou em sistemas contra incêndio", comenta Guerra. Ricardo e Guilherme têm interesse em estudar a qualidade e a quantidade da água de chuva que pode ser aplicada nos mais diversos processos. "São poucos profissionais na área. Há muito espaço para gerar pesquisas e novas tecnologias", analisa Ricardo.

Tecnologia

Para o estudante de Engenharia da Computação da Universidade Positivo Luiz Augusto Friedrich, 22, informática e agricultura caminham juntas. Ele bolou um sistema para controlar o desperdício de água nas lavouras. "É uma rede de sensores que ficariam espalhados pelo campo. Cada sensor detecta a umidade naquele ponto e encaminha para uma central, que faz o controle da irrigação", explica. Se chover, por exemplo, o software desliga o sistema, economizando água.

Evitar este tipo de desperdício é algo natural para Luiz. "Esse movimento a favor da sustentabilidade está atingindo principalmente a nossa geração. Como essa questão está se agravando, nossos filhos e netos vão enfrentar esses problemas de forma mais direta. Não dá para prorrogar mais", conclui.

  • Guilherme, Ricardo e Jorge Guerra: novos conceitos para a química.

Desenvolvimento sustentável significa, basicamente, preservar hoje para que esta e as futuras gerações tenham acesso aos recursos naturais do planeta. Uma lição que os estudantes Marília Nepomuceno Moreira, 21 anos, Gabriela Polezer, 21 Noemi Vergopolan Rocha, 19, Heloísa Ehalt Macedo, 20, Diego Amaro, 21, e Henrique Silva Mar­tins, 21 aprenderam muito bem. As garotas são alunas de En­­genharia Ambiental da Uni­versidade Federal do Paraná (UFPR) e os rapazes cursam Engenharia Mecânica na mesma instituição.Essa turma desenvolveu um projeto para aproveitar a água da chuva para usos menos nobres – como lavar calçadas, regar plantas, entre outros fins – em um dos prédios da universidade, no Centro Politécnico, em Curitiba. A iniciativa teve a colaboração da estudante Ana Paula Soares Bilbao, 18 anos, que teve a ideia original, e do engenheiro ambiental recém-formado Willian da Silva, 25. Durante uma aula sobre o assunto, o grupo propôs adotar a solução no próprio edifício onde estudam. "Pensamos em algo que fosse aplicável à nossa realidade", resume Noemi.

Ajuda

Integrantes de um programa de sustentabilidade da UFPR, Diego e Henrique se interessaram pelo projeto e resolveram ajudar, acrescentando soluções de mecânica ao estudo das meninas. Além disso, trabalham nos bastidores para que a universidade banque a realização da ideia. "Este é o primeiro projeto piloto que pode ser implantado. Mas falta a parte técnica ainda", admite Diego.

De acordo com os estudantes, o projeto não exige um investimento alto – R$ 16 mil, inicialmente. A construção de quatro cisternas para o armazenamento da água consumiria a maior parte dos recursos. O resto seriam gastos com telas, canos e torneiras e não haveria necessidade de alterar a estrutura do edifício, cuja área de captação tem mais de 1,3 mil me­­tros quadrados. "Mas mesmo que a gente captasse 100% da água da chuva, não cobriria a demanda", explica Gabriela. "A gente tem que ter em mente que este é um sistema complementar", pondera Heloísa.

Além de proporcionar economia de água tratada, a captação ajudaria a diminuir, segundo os estudantes, os alagamentos dentro do próprio câmpus, comuns em épocas de chuvas fortes. "Apesar de gastar com a instalação, você acaba economizando depois", analisa Diego. O retorno do investimento, segundo cálculos do grupo, aconteceria em três ou quatro anos. Mesmo assim, eles se preocupam em não interferir no ciclo hidrológico. "Tem que analisar todo impacto que isso gera no solo e na bacia hidrográfica", explica Gabriela.

Lei

Em Curitiba, o Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações (Purae) obriga, entre outras coisas, que as novas edificações na cidade tenham um sistema de coleta e armazenamento de água de chuva para usos não nobres. A lei não exige tal sistema das construções anteriores à sua vigência, a partir de 2008. De acordo com a Secretaria Mu­­nicipal de Urbanismo, de janeiro de 2008 até o mês passado, 3.355 novas edificações na cidade já contam com o sistema. Quem não se adequar ao padrão não obtém o certificado de conclusão de obra.

Telhado pequeno não vale o investimento

Para o engenheiro civil Plínio Tomaz, autor de vários estudos sobre aproveitamento de água da chuva, não compensa fi­­nanceiramente ter um sistema de captação em telhados com área menor que 200 metros quadrados. Nesses casos, a água tratada fornecida pelas concessionárias acaba saindo mais em conta.

Por outro lado, segundo Tomaz – que coordenou a criação da NBR 15.527/07, estabelecendo padrões para os sistemas de captação e armazenamento de água da chuva no país –, o uso desta água para fins menos nobres em condomínios, shoppings, indústrias e mesmo em grandes residências traz uma série de benefícios. "Como é que você vai usar uma água com flúor, cara, de boa qualidade para jogar no vaso sanitário, regar o jardim? Até 50% da água que se usa numa casa não precisa ser potável", esclarece.

O engenheiro estima em menos de R$ 300 por metro cúbico o custo de um sistema de captação e armazenamento de água da chuva. Em uma indústria, por exemplo, ele calcula que em no máximo três anos o investimento é recuperado. "Ainda é caro, mas isso pode mudar no futuro, quando a água ficar mais cara", avalia.

Alerta

Tomaz aproveita para fazer um alerta sobre o uso desse tipo de sistema. Os projetos adequados, por exemplo, dispensam a carga inicial da água de chuva (first flush, na linguagem técnica), que normalmente contém sujeira e impurezas. "É preciso ter responsabilidade. Imagine isso numa escola. Tem que ter cuidado com a saúde pública", pontua. Outra medida importante nesse sentido, segundo Plínio Tomaz, é não misturar a água de chuva com a água tratada e fazer regularmente a manutenção dos sistemas de captação (telhados, filtros e calhas), armazenamento (cisternas e caixas) e distribuição (canos e dutos). (JRM)

Site: www.aguasdoamanha.com.br

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