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Período integral aumenta o rendimento

São Paulo - Um outro lugar-comum que o cruzamento feito a partir dos dados do Saeb e da Prova Brasil questiona é a necessidade de turmas menores para um melhor aprendizado. Ao separar os fatores que interferem na nota dos alunos, o professor Naércio Menezes Filho descobriu que, mais do que o número de alunos em sala de aula, é o tempo que eles ficam na escola que faz diferença. "Vemos claramente que os melhores alunos não estão nas menores classes, mas sim naquelas escolas onde há mais horas de aula", explica. A diferença está nas escolas com até cinco horas diárias e nas que ofereciam mais de cinco horas - vários estados inclusive São Paulo, têm escolas em tempo integral, onde os estudantes fazem aulas normais em um dos períodos e atividades complementares ou de reforço no outro.

São Paulo – Gerenciar bem os recursos na escola faz mais diferença para um bom desempenho dos estudantes do que apenas investir muito dinheiro. A afirmação, óbvia para economistas e administradores, mas ainda tabu no setor pedagógico por envolver conceitos como metas, objetivos, avaliações e resultados, é uma das principais conclusões de um estudo inédito feito a partir de dados do Sistema Nacional da Avaliação Básica (Saeb) e da Prova Brasil, aplicados pelo Ministério da Educação.

"O cruzamento mostra que não há relação direta entre os recursos e a nota dos alunos", explica o economista Naércio Menezes Filho, autor da pesquisa "Determinantes do Desempenho Escolar do Brasil", obtida com exclusividade pela reportagem e que será apresentada na segunda-feira em evento em São Paulo. Um exemplo dessa constatação é o caso de municípios que gastaram quase R$ 1 mil por aluno ao ano e tiveram estudantes da 8.ª série com média de 250 pontos em matemática no Saeb, enquanto outras cidades obtiveram o mesmo resultado com R$ 250. "É claro que dinheiro é importante, mas diferenças na gestão, na forma de alocá-lo são mais importantes para explicar melhores resultados do que a simples quantidade de recursos", diz Menezes Filho, que é coordenador do Centro de Pesquisa Acadêmica do Ibmec São Paulo e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo.

O professor comparou as notas dos exames, divulgadas pelo ministério, com os recursos no orçamento da educação dos municípios, que constam no Tesouro Nacional. O Saeb é uma prova feita a cada dois anos por amostragem para alunos da 4.ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3.º ano do médio. Avalia o aprendizado de língua portuguesa e matemática. Já a Prova Brasil foi feita pela primeira vez em 2005 em todas as escolas públicas de estados e municípios que aderiram ao projeto.

Pelo cruzamento, o município de São Paulo gastou ao ano por aluno da 4.ª série R$ 1.060 e teve média de 168 pontos na Prova Brasil - o que quer dizer que eles conseguem só fazer soma e subtração, não chegando à multiplicação. Por outro lado, os estudantes de Rio Branco (AC), com média de 177 pontos, custaram R$ 589. Já os de Porto Alegre custaram R$ 843 e tiveram média de 184 pontos – nessa escala, o aluno faz multiplicações simples, mas não lê as horas num relógio de ponteiros. "A partir de outros relatórios tínhamos mesmo esse indicativo de que o gasto não influenciava diretamente o desempenho. O que esse cruzamento faz agora é reforçar o conceito de que um dos grandes problemas da educação é a falta de gestão", diz a secretária da Educação do Distrito Federal, Maria Helena Guimarães de Castro.

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