• Carregando...
 |
| Foto:

Tira-dúvidas

Conheça as situações de risco em que é possível contrair HIV e outras questões sobre o assunto:

Transmissão

- O contágio acontece em qualquer tipo de relação sexual sem preservativo, tanto homossexual como heterossexual, transmissão vertical (mãe para filho) ou contato com sangue contaminado. Não há risco em beijos, abraços, picada de mosquito, prato, copo, talheres, banheiro, entre outros.

Diferença entre HIV e aids

- Ainda há muita confusão entre o que é ser portador do vírus HIV e o que é ter aids. Soropositivo é a pessoa que é apenas portadora do vírus sem apresentar doenças. Atualmente, com os tratamentos disponíveis e oferecidos pelo Siste­ma Único de Saúde, é possível que um soropositivo retarde o apareci­mento da doença aids. A aids é a síndrome da Imunodeficiência Adquirida e ocorre quando há um comprometimento do sistema imunológico, com o aparecimento de doenças oportunistas, como pneumonia e meningite.

Expectativa de vida

- Hoje a aids é vista como uma doen­ça crônica que, com o tratamento adequado, pode ser controlada, permitindo que a pessoa viva uma vida plena e com qualidade.

Medicamento

- Hoje os medicamentos são avança­dos e conseguem combater o vírus garantindo uma boa qualidade de vida. Ainda assim, há efeitos cola­terais, mas toda medicação é tes­tada e aprovada pelas autoridades sanitárias antes de entrar no mercado.

Vacinas ou solução definitiva

- Embora o HIV seja objeto de estudo de diversos pesquisadores, a comunidade científica ainda não descobriu nem uma cura ou vacina. Por isso a melhor solução continua sendo a prevenção.

Prevenção

- Soropositivos precisam usar camisinha sempre, mesmo que duas pessoas portadoras do HIV tenham relações sexuais. Isso porque os tipos de vírus podem ser diferentes, sendo um deles mais forte e resistente a medicamentos, por exemplo. Também há pessoas cujo sistema imunológico consegue combater melhor o vírus e reduzir a carga viral. A cada nova relação sem cuidado, a carga viral aumenta.

Exames

- O Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), em Curitiba, oferece o teste rápido, realizado em até 40 minutos. Basta marcar um horário. O teste está disponível ainda nas unidades de saúde. Há também grupos de apoios que auxiliam portadores de HIV. Um deles é o Grupo Amigos, onde são trocadas experiências e há suporte aos soropositivos.

Serviço:

O COA está na Rua do Rosário, nº 144, centro de Curitiba. Telefone: (41) 3321-2781.

O Grupo Amigos realiza reuniões as quartas-feiras, das 19 às 21 horas, na Rua Capitão João Zaleski, nº 635, Vila Lindóia. Telefone (41) 3346-5651 ou pelo e-mail grupoamigosctbapr@hotmail.com. Fonte: Maria Antônia Dilay Oba

"Pode colocar o champanhe na geladeira". Essa foi a notícia que Cida* mais desejava ouvir do médico desde que descobriu a gravidez, há dez meses. O pediatra de sua filha Clara disparou a frase quando informava a Cida que as chances de a filha dela ter contraído o vírus HIV, durante a gestação e parto, eram mínimas. Hoje Clara tem 4 meses e, para ter a confirmação de que realmente não está infectada, um último exame será feito quando ela completar 15 meses. A história desta mulher mostra como os avanços da medicina, nos últimos anos, estão permitindo que os soropositivos possam ter uma qualidade de vida como qualquer outra pessoa, inclusive realizar o sonho de ter filhos sem que a criança seja, necessariamente, soropositiva.A empresária Cida, 43 anos, descobriu ser portadora do vírus há 8 anos. Como qualquer pessoa, sentiu um baque na hora do resultado, mas reconstruiu a vida. Casou há seis anos e decidiu não ter filhos. Clara foi gerada mesmo com o uso de camisinha. Apesar de as mulheres portadoras do vírus poderem engravidar, é preciso lembrar que a situação é de risco e, sem o tratamento da gestante, a transmissão do HIV tem 30% de chances de acontecer. O porcentual, porém, cai para apenas 2% quando há o uso adequado de medicamentos.

A transmissão vertical ocorre de três formas entre mãe e filho: durante a gestação, no contato com o sangue materno na hora do parto e, por último, pelo leite da mãe. Por isso, se a mulher grávida sabe que tem o vírus, precisa buscar ajuda para saber como proteger o bebê.

Neste cenário, a capital paranaense se destaca. Durante a gravidez, as mulheres atendidas pelo programa Mãe Curitibana fazem, inicialmente, pelo menos três vezes o exame que detecta o HIV. No último semestre da gravidez há mais um e ainda é feito um teste rápido na hora do parto. Se a gestante estiver em um grupo de risco, como ser usuária de drogas, por exemplo, o teste pode ser feito três vezes mais. A detecção do vírus na mãe é importante porque diminui os riscos de contaminação do bebê.

A partir do diagnóstico, a gestante recebe medicação antiretroviral para baixar a carga viral. Com o vírus mais fraco, diminuem as chances de contaminação. Durante o parto, a mulher recebe outra medicação, geralmente AZT na veia e o bebê, logo após o nascimento, começa a tomar um xarope da mesma substância até as seis primeiras semanas. Este é protocolo oficial da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba há dez anos.

A capital, em 2007, foi a primeira cidade da América Latina a implantar o teste rápido, que permite um resultado em até 40 minutos. No Ceará, por exemplo, somente este ano as gestantes passaram a fazer dois exames, que ainda não estão universalizados. No Piauí e Espírito Santo, a equipe de saúde ainda está sendo treinada para aplicar o teste rápido.

Classe social

O relato de Cida comprova que o HIV hoje não tem mais classe social e não depende da orientação sexual. Ela teve poucos parceiros em relacionamento estáveis e até hoje não conseguiu descobrir quem a infectou. A história é semelhante a de muitas mulheres atendidas pela pediatra e infectologista Maria Antônia Dilay Oba, que trabalha com crianças e suas famílias portadoras de HIV há 20 anos. É comum que a gestante descubra ser soropositiva somente durante a gravidez. "A associação de HIV com promiscuidade é algo antigo. Na verdade, todos podem estar em risco", afirma. No caso de Cida, somente ela e o marido sabem da soropositividade. O companheiro não tem HIV. "Meus planos para o futuro já incluem a festa do aniversário de 15 anos da minha filha", diz a empresária.

No pré-natal do Programa Mãe Curitibana, o exame de HIV também é ofertado ao pai. O gestor do programa, o médico Edvin Javier Boza Jimenez, explica que outro benefício é o oferecimento de leites especiais industrializados (à mãe) para que o bebê não receba o leite materno. O grande problema relatado por ele é que algumas gestantes recusam o tratamento. Somente em 2009, a capital paranaense realizou 56 mil exames de HIV, sendo 5 mil com testes rápidos. Em média, a taxa de positividade na população em geral é de 0,86% (2,73% nos homens e 0,44% nas mulheres). Hoje há na capital 4.127 pessoas sendo acompanhadas. Entre 1984 e 2009 foram diagnosticados e notificados 22.196 casos de HIV no Paraná. Estimativas das Nações Unidas apontam que metade da população infectada com o vírus não tem ciência da soropositividade. Dos 33 bilhões de contaminados no mundo, apenas um terço têm acesso a medicamentos, distribuídos gratuitamente no Brasil.

Apoio

Para dar suporte às pessoas que descobrem a soropositividade, Douglas Miranda resolveu criar em 2001 a organização não governamental Grupo Amigos, que reúne todas as semanas soropositivos e voluntários para debater as angústias e necessidades dos portadores de HIV. "A ideia surgiu porque não havia um espaço para troca de experiências. Hoje podemos debater como viver e conviver com HIV de forma responsável", diz. Ele descobriu ser soropositivo há quase duas décadas e conta que sentiu como se o mundo tivesse acabado. "As pessoas têm uma sensação comum de que o mundo acabou. Não conseguem ver o futuro, mas depois se adaptam e conseguem ter uma rotina normal".

Maioria é infectada na relação estável

A pesquisadora e mestranda em Sociologia da Universidade Federal do Paraná Fernanda Cristina Leite estudou o perfil das mulheres com HIV há dois anos. Entre as muitas descobertas estava o fato de que a maioria foi infectada pelos parceiros estáveis. A pesquisadora selecionou entrevistadas de diversas partes do país e classes sociais para tentar descobrir como elas conviviam com a soropositividade.

A primeira reação das mulheres foi procurar o parceiro para contar a situação e muitas descobriram nesta hora que os companheiros já sabiam ser portadores do vírus. Apesar de omitirem este fato, as entrevistadas não os culpavam. "Para elas, não há um culpado, todos são vítimas", relata Fernanda.

Os parceiros não deixavam claro como foram infectados, mas a traição ficou subentendida em quase todos os casos, exceto dois em que os homens eram usuários de drogas injetáveis. A maioria das mulheres também optou por continuar com os companheiros mas, nas situações em que isso não ocorreu, eles literalmente sumiram. Em dois casos os homens morreram vítima da Aids. Boa parte delas também não tornava público o fato de serem soropositivas, apenas duas se tornaram ativistas da causa. Todas fizeram o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Os relacionamentos variavam desde casamentos, noivados até "ficantes". Entre as que se tornaram mães, o medo mais comum era faltar de alguma forma com filho. "Elas tentavam se manter ativas, não se deixavam abater e cuidavam da saúde para, como diziam, não ‘assinar o atestado de óbito’", diz a pesquisadora.

Em um dos casos mais dramáticos, uma mulher de 29 anos de Pernambuco tinha recém-descoberto o HIV, mas já era portadora do vírus há cerca de cinco anos. Ela tinha dois filhos menores de 3 anos e se recusou a fazer o exame neles. "Ela dizia que não queria saber, que não iria trabalhar com a questão do HIV", relata Fernanda (PC).

* A pedido da entrevistada, Cida é um nome fictício.

* * * * *

Interatividade

Você conhece histórias de mães soropositivas que conseguiram engravidar e ter filhos sem que o contágio acontecesse?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]