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Nicolau e Cristiana, que fazem compostagem dos orgânicos e separam o lixo, acham que falta uma campanha para conscientizar a população sobre a reciclagem | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Nicolau e Cristiana, que fazem compostagem dos orgânicos e separam o lixo, acham que falta uma campanha para conscientizar a população sobre a reciclagem| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Legislação

Lei do descarte correto faz 1 ano

A implantação no Brasil da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) completou um ano ontem, dia 2 de agosto. A lei, que, entre outras coisas, prevê a redução do uso, a reutilização e o descarte correto do lixo reciclável também cobra a corresponsabilidade dos cidadãos na separação e no destino adequado (logística reversa) de materiais recuperáveis. Para incentivar a prática, o Ministério do Meio Ambiente vem trabalhando desde junho em uma campanha nacional chamada "Separe o lixo e acerte na lata" (http://separeolixo.com). "A primeira etapa foi sensibilizar o público. Agora, estamos desenvolvendo outras campanhas com foco na questão do lixo", esclarece Sérgio Gonçalves, secretário substituto de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do ministério.

Ele lembra que, conforme a PNRS, em 2012, estados e municípios serão obrigados a terem seus planos individuais de gestão de resíduos sólidos caso queiram pleitear recursos do governo federal para o setor. Isto deve acelerar, por exemplo, a implantação de sistemas de coleta seletiva. Gonçalves explica ainda que a lei estabelece punições inclusive aos cidadãos que descartarem lixo na rua. A multa é de R$ 500 e deve ser o último recurso. "As pessoas não podem fazer o que não foram orientadas a fazer. Você ainda vê pessoas abrindo a janela do carro e jogando lixo na rua", lamenta.

Para Ariovaldo Caodaglio, diretor da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos, a reciclagem também é uma oportunidade econômica. "Tudo que reciclamos faz aumentar a vida útil dos aterros sanitários e cria uma nova indústria, seja para investimentos diretos, geração de emprego e renda e ainda atenuar os impactos que a retirada dessas matérias primas tem no ambiente", atesta. Caodaglio reforça que campanhas de separação do lixo devem ser contínuas. "As pessoas não sabem quanto custa o manejo dos resíduos que elas geram. Pagam impostos à prefeitura e não estão preocupadas com isso", conclui.

  • José Conte e Regina Saraceni: sacolas adequadas para cada material

Conhecida internacionalmente por seu pioneirismo na implantação da coleta seletiva de lixo, acompanhada de uma intensa estratégia de marketing, Curitiba vive hoje uma carência de novas campanhas para motivar a população a continuar separando os resíduos domésticos. A última iniciativa da prefeitura ocorreu em 2006.

Parece pouco, principalmente para quem deseja manter uma longa tradição iniciada em 1989, quando o slogan "lixo que não é lixo não vai pro lixo" apresentou ao mundo a Família Folhas. Ecologicamente corretos, os personagens ensinaram aos curitibanos o então inovador conceito da reciclagem.

"Tinha até um placar de quantas árvores você economizava com a separação do lixo. As pessoas começaram a perceber a importância de reciclá-lo. E a Família Folhas ainda está por aí, nos parques, e até o caminhão da coleta está do mesmo jeito", constata o publicitário Bira Menezes, autor da ideia junto com Sérgio Mercer, já falecido. Para Menezes, além de atualizar a campanha para as novas mídias – como o Facebook e o Twitter – ela precisaria ser constante e não periódica, como hoje em dia. Afinal, conforme observa o publicitário, a população local sempre se renova com a vinda de pessoas de outros lugares e com as novas gerações.

Coleta

Atualmente, cerca de 22% de todo o lixo coletado (incluindo o orgânico) na capital paranaense é reciclado. Apesar de ser um dos melhores índices do país, o porcentual ainda é tímido se comparado aos do primeiro mundo: 30%. Esta, aliás, é a meta perseguida pela prefeitura de Curitiba para 2012, conforme explica o diretor do De­­partamento de Limpeza Pública da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Edélcio Marques dos Reis. De acordo com ele, uma nova campanha deve ser lançada este ano. A data, porém, não foi confirmada.

"Estamos melhorando ao longo dos anos. Começamos com 5% [índice de reciclagem] lá em 1989 e hoje estamos com 22%", revela Reis. Ele explica ainda que as campanhas de mobilização impactam imediatamente nos números da coleta seletiva, mas reconhece que nem sempre elas são constantes. "É algo a ser avaliado, mas é preciso ver se há recursos", pondera. Atualmente, Curitiba conta com 100% de coleta seletiva. Todos os dias são recolhidas 450 toneladas de resíduos recicláveis na cidade.

Para a professora de Educação Física Cristiana Romanó e o filho dela, o estudante de Arquitetura Nicolau Mäder, a separação do lixo é algo corriqueiro em casa. Além de fazer a compostagem do material orgânico (que vira adubo no quintal da família), eles separam o lixo seco e até pilhas e baterias, que são tóxicas, e entregam no supermercado.

Cristiana também procura conscientizar o marido, Fer­nando Malschitzky, e o outro filho, Rodrigo, sobre a importância da reciclagem. "Canso de mostrar a eles o que produz uma casa que se preocupa com isso. Ainda assim, é uma monstruosidade", observa. "No supermercado, a gente evita pegar sacolas plásticas. E quando pega, reaproveita elas", explica Nicolau. Para ambos, falta conscientização da população quanto à separação do lixo doméstico. "Difícil é começar, depois é só ter disciplina para continuar", diz Cristiana. Nicolau completa: "E não custa nada."

Exemplo

Central de reciclagem em casa

A mesa que Regina Saraceni e o marido dela, José Conte, têm no quintal de casa no bairro Santa Felicidade, em Curitiba, mais parece uma central de reciclagem de lixo. O casal de empresários mostra com orgulho o que separam diariamente para a coleta seletiva. Vidros, lâmpadas, plásticos: cada material tem uma sacola ou caixa adequada. "As latinhas de alumínio a gente dá para uma senhora aqui da comunidade. Ela vende e com o dinheiro faz festas para as crianças", explica José. Além disso, as sobras de comida viram adubo para as plantas do jardim.

Mesmo morando só os dois, eles se surpreendem com a quantidade de lixo gerado. "Faça uma experiência: separe por uma semana e veja a quantidade de lixo que você produz", sugere Regina. "As pessoas reclamam muito, mas poucos têm atitude. Você sempre pode fazer mais." A empresária reclama também de alguns vizinhos, que ainda não separam os recicláveis. Além disso, muitos descartam materiais que o caminhão da coleta não leva, como móveis velhos, materiais de construção e tapetes, entre outros.

Por outro lado, José, que nasceu em Rolândia, no interior do Paraná, e Regina, natural de São Paulo, afirmam que Curitiba é mais eficiente na separação e coleta do lixo seco se comparada a outras cidades brasileiras. Mas ela também sente falta de campanhas permanentes de conscientização. "Ninguém veio aqui me pedir para separar o lixo", reitera José. Para ele, a educação das novas gerações para temas como a reciclagem é o melhor caminho para incentivar atitudes ecologicamente corretas.

Participação

De acordo com Edélcio Marques dos Reis, diretor do Departamento de Limpeza Pública da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o cidadão não precisa de muito esforço para separar o lixo. "O importante é que ele separe o orgânico do seco. Não é necessário separar plástico de vidro ou papelão. Basta apenas que separe. Queremos facilitar ao máximo", justifica.

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