A ocupação promovida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na madrugada desta quinta-feira (17) nas terras da empresa Araupel, entre os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu, na região Centro-Sul do Paraná, deixou o clima tenso no campo. Mais de duas mil famílias, boa parte composta por filhos de assentados, invadiram a área de 35 mil hectares e cobram a desapropriação do espaço para fins de reforma agrária.
A ocupação teve início por volta das 23h30 de quarta-feira (16) e se estendeu durante toda a madrugada. Segundo a Araupel, a área invadida é a mais produtiva e as árvores já estão prontas para o corte e comercialização. Caminhões com toras que abasteceriam a empresa ficaram retidos junto com outras máquinas e tratores. Os acessos foram bloqueados e os funcionários que estavam no local só conseguiram deixar a área quando o dia amanheceu.
O MST começou a montar um acampamento próximo a Araupel no dia 1 º de maio com famílias de várias partes do estado. No dia 30 de maio, moradores de Quedas do Iguaçu realizaram uma manifestação contra as ameaças de invasão que colocam em risco o emprego de 1.050 trabalhadores. A Araupel já havia manifestado que uma nova invasão em sua área inviabilizaria o trabalho.
A Associação Comercial e Industrial de Quedas do Iguaçu (Aciqi) antecipou para o final da tarde desta quinta-feira (17) sua reunião semanal que aconteceria na sexta-feira (18). Segundo Reni Felipe, presidente da associação, eles irão decidir um posicionamento sobre a ocupação. "Estávamos preocupados, agora estamos mais ainda", afirmou. Pelas redes sociais internautas já falam em manifestações de rua.
Uma entrevista do senador Roberto Requião (PMDB) a uma emissora de rádio local foi considerado pela Araupel como o estopim para a ocupação. O senador acusou a empresa de usurpação de terra, questionou se ela possui os documentos da área e defendeu a ocupação do local. "A população não pode ser prejudicada, mas você não pode defender uma invasão. E eu não estou falando da preocupação de uma pessoa que desesperadamente procura um pedaço de terra para produzir, estou falando de invasão de terra pública. É um assunto delicado, mas o Estado tem condições de intervir nisso", disse Requião.
Um helicóptero da Polícia Militar (PM) sobrevoou a área e dezenas de policiais de vários batalhões do estado foram deslocados para Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu. A PM informou, no entanto, que está apenas monitorando o local já que o governo espera mediar o impasse por meio de diálogo.
A Araupel elaborou tem um dossiê com documentos provenientes de cartórios públicos do Paraná contendo toda a cadeia sucessória do título dominial daquelas áreas desde o tempo imperial até a compra de 1972. "A Araupel está no centro de uma discussão, que é a questão agrária, servindo de ferramenta para fomentar o discurso de senadores e outros políticos que estão usando uma suposta ilegalidade - sem sequer nos perguntar se existe a documentação - para promoção própria em época eleitoral", informou a empresa.
Esta é a quarta vez nas últimas duas décadas que a Araupel é alvo de ocupação do MST. A empresa já teve dois terços, o que correspondem mais de 50 mil hectares, desapropriados para a reforma agrária. Os assentamentos Ireno Alves, Celso Furtado e Marcos Freire saíram de terras pertencentes a empresa e juntos formam a maior área de assentamento da América Latina.
O MST se pronunciou através de sua página na internet e acusou a Araupel de grilagem de terras. "Essas são uma das melhores terras do Brasil, e a Araupel apenas produz madeira para exportação. Queremos produzir alimentos nessas terras e, por causa das ilegalidades, elas devem sim ser destinadas à reforma agrária para que possamos trabalhar e produzir alimento de qualidade ao povo brasileiro", disse Antônio Miranda, da direção nacional do MST.
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