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Programa reduz morte por sepse no Paraná

Um programa adotado em quatro hospitais da rede pública no Paraná conseguiu reduzir em 25% a mortalidade por infecção generalizada (adquirida fora ou dentro do hospital). Também chamada de sepse, a infecção generalizada é uma resposta inflamatória do organismo a uma infecção que pode evoluir para disfunção de múltiplos órgãos, levando o paciente à morte.

De acordo com o coordenador do programa, Álvaro Rea Neto, o Programa de Otimização do Tratamento da Sepse foi criado a partir de duas constatações: no Brasil o reconhecimento da doença é tardio e a mortalidade é maior do que em países do mesmo nível. Segundo ele, isso acontece porque em muitos casos o paciente chega tardiamente ao hospital, demora para ser atendido e tem dificuldades para ser transferido a uma instituição especializada. Além disso, Rea considera que muitos médicos não estão preparados para identificar os sintomas e dar o diagnóstico correto. "Percebemos que os hospitais têm recursos para reconhecer e tratar a infecção, mas não os usam de forma correta", afirma.

Com o programa, profissionais de saúde dos hospitais de Clínicas e do Trabalhador (em Curitiba), Hospital Universitário de Londrina e Hospital Regional de Cascavel receberam treinamento para aplicar o protocolo à risca. A medida fez com que os índices de mortalidade por sepse fossem reduzidos de 64% para 48%, equiparando-se aos da rede particular. Segundo Rea, por conta dos bons resultados, o programa está sendo implantando também no Hospital Universitário de Maringá e no Hospital Ministro Carlos Cavalcanti, em Foz do Iguaçu. (CV)

A cada ano, aproximadamente 15 milhões de pessoas são internadas nos cerca de 8 mil hospitais brasileiros, segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Embora não existam estatísticas oficiais, estima-se que entre 5% e 15% dos pacientes internados contraiam algum tipo de infecção hospitalar durante o período de internação. Apesar da gravidade do problema, um levantamento feito pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com 4.148 hospitais, no ano passado, mostrou que 51% deles não desenvolvem programas de controle de infecções, 56% das instituições não treinam seus profissionais para prevenir e controlar infecções e 67% não adotam medidas de contenção de surtos.

Pelo menos 40% dos medicamentos prescritos dentro dos hospitais são administrados de forma intravenosa, por meio de catéteres, uma das principais vias de contaminação. Para tentar diminuir os casos de infecção relacionados a esses dispositivos, a Anvisa publicou uma resolução que determina uma série de medidas a serem adotadas pelos fabricantes e estabelecimentos de saúde no que diz respeito à distribuição, armazenamento, preparação e administração dessas soluções.

Entre as determinações estão o treinamento dos profissionais que lidam com esses dispositivos e a troca dos recipientes plásticos em que são colocadas as soluções por um sistema de infusão que impede o contato dos líquidos com o meio ambiente. Atualmente, cerca de 80% das soluções em uso no país são injetadas por meio do sistema aberto (que permite o contato com o ar). Com a nova legislação, os hospitais terão de começar a utilizar o sistema fechado, que consiste em uma bolsa flexível que murcha sem a necessidade de ar externo. O prazo para que os serviços de saúde se ajustem às novas regras termina em março de 2008.

Para a presidente da Associação Paranasense de Controle da Infecção Hospitalar, Heloísa Giamberardino, a medida deverá contribuir para a redução dos casos de infecção. "Será uma barreira a mais na prevenção", afirma. Um estudo feito no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, com 1.127 pacientes, mostrou que a adoção do sistema fechado reduziu os casos de infecção em 55%. Apesar de mais seguro, o sistema fechado custa em média 50% a mais do que o aberto.

Segundo o levantamento da Anvisa, as infecções respiratórias, urinárias e as da corrente sanguínea são as mais comuns. Essas últimas, geralmente ligadas ao uso de catéteres, são as mais fáceis de prevenir, pois estão relacionadas aos cuidados na realização de determinados procedimentos.

Além do aperfeiçoamento de procedimentos e materiais utilizados nos hospitais, algumas medidas bastante simples, como a correta higiene das mãos, têm um impacto decisivo na ocorrência de infecções hospitalares. Segundo o infectologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Eduardo Medeiros, apenas com a lavagem das mãos seria possível reduzir em até 70% os casos de infecção. Apesar de simples, a adesão dos profissionais de saúde a esse cuidado está longe da ideal. Em média, apenas 40% deles lavam as mãos com freqüência e de maneira adequada. "A explicação para isso pode estar no esquecimento, na falta de tempo ou nas falhas de estrutura, pois às vezes não há pias por perto", observa o médico.

Embora vistas como negativas, as taxas de infecção nem sempre revelam a qualidade do atendimento. Medeiros explica que é preciso levar em conta o tamanho do hospital, o perfil do paciente e o tipo de procedimento. "Hospitais universitários, em que os residentes ainda não têm muita prática, geralmente têm taxas de infecção maiores, mas isso não significa que o serviço seja ruim", afirma.

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