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O IPK é o índice-chave para o aumento ou a redução do custo do transporte coletivo | André Rodrigues/Gazeta do Povo
O IPK é o índice-chave para o aumento ou a redução do custo do transporte coletivo| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Manifestações

Impacto dos protestos no número de usuários foi pequeno

No ano em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra o preço das tarifas de transporte coletivo em diversas cidades, o impacto dessas manifestações no número de usuários se revelou pequeno. Curitiba teve crescimento no número total de passageiros transportados e na região metropolitana, apesar de leve queda, a quantidade de usuários se mantém estável há pelo menos quatro anos.

Para Otávio Cunha, presidente da NTU, elas foram positivas por colocarem o assunto do transporte público na ordem do dia da política brasileira. "Foi um golpe certeiro para mudar o foco e visão política, e investir em transporte de massa", pondera. Cunha também avalia que as razões para as pessoas deixarem de usar o ônibus não estão ligadas diretamente aos atos, mas sim a fatores como trânsito lento, passagem mais cara e facilidade para comprar o carro próprio.

Os investimentos que estão sendo feitos em várias cidades – Belo Horizonte e Rio de Janeiro estão implantando dois corredores de BRT, além de Recife e Fortaleza, que estão fazendo as suas linhas – devem reverter em aumento de usuários. Cunha comenta que em Brasília, os corredores de ônibus tiveram um aumento de 12% na demanda por passageiros. "As pessoas estão vendo que ônibus é um bom negócio", diz.

O índice de passageiros transportados por quilômetro rodado (IPK) na Rede Integrada de Transporte (RIT), de Curitiba e região metropolitana, chegou ao menor valor da série histórica: 1,9918 em fevereiro de 2014, segundo os cálculos da Urbs, gestora do sistema. Qualquer variação no IPK impacta o custo do transporte: o índice é usado para definir a tarifa técnica, que é a divisão entre o custo do transporte por quilômetro pelo IPK. Por isso, quanto menor for o valor do índice, mais alto o custo do sistema.

INFOGRÁFICO: Veja a queda do índice de passageiros transportados por quilômetro rodado (IPK)

Embora o cenário de queda no IPK venha se consolidando nos últimos anos – essa é a primeira vez que o índice ficou abaixo de 2 –, o ano de 2013 revelou uma surpresa: houve crescimento do número total de passageiros transportados. O aumento é tímido, 2,1% na RIT, e não altera o IPK porque as distâncias percorridas no sistema integrado crescem em uma proporção maior.

O aumento é o mais significativo desde 2009, ano que registrou uma grande queda no número de usuários do sistema, muito por conta da pandemia de gripe A. Desde então, o sistema nunca se aproximou do patamar de passageiros que transportava antes da doença.

Quem mais aderiu ao transporte coletivo foram os usuários da rede urbana, que circula apenas em Curitiba, e isso ocorreu justamente em um ano de muitos protestos principalmente em relação ao preço da tarifa. Já o número de passageiros metropolitanos teve uma queda acentuada em 2007 e desde então permanece sem muita variação. "O número de passageiros cresceu, mas o divisor, que é a quilometragem, aumentou mais por conta da ampliação do serviço. Há muita demanda por extensão de linhas, o que amplia o custo", pondera Roberto Gregório da Silva Junior, presidente da Urbs.

Para Gregório, a análise dos motivos que levaram a essa redução passa por vários pontos, da identificação de modais concorrentes ao transporte coletivo até a desconcentração industrial de Curitiba. Ele pontua que a frota de ônibus, pouco representativa frente ao grande número de carros que circulam na capital, é responsável pelos deslocamentos de quase 40% da população.

Por outro lado, o uso de carro particular e também de ônibus fretados por grandes empresas para o transporte de funcionários também são fenômenos que afetam o transporte coletivo e demandam mais análise. A Urbs, por exemplo, mantém o registro de 2.396 mil vans, ônibus e micro-ônibus de empresas da capital, que realizam serviços de transporte privado. Para comparação, as linhas de ônibus que circulam apenas em Curitiba somam 1.360. Na RIT, 1.930.

Para identificar os modais mais usados pelos curitibanos, o Ippuc deve realizar uma pesquisa de origem e destino em duas fases, embarcada e com contagem de veículo e domiciliar. Paralelamente, a Comec, do governo do estado, também fará sua pesquisa, com os passageiros da região metropolitana.

Análise

Mesmo em queda, IPK da RIT é maior que a média nacional

O IPK da Rede Integrada de Transporte (RIT) em queda ainda é maior que a média nacional. De acordo com dados de pesquisa feita pela Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU), o índice médio nacional está na casa de 1,65. Na RIT, esse valor é 20% maior. Para Roberto Gregório da Silva Junior, da Urbs, comparar o índice da RIT com o de outras cidades é complicado porque aqui há o fator integração, que não funciona desse modo em nenhuma outra cidade do país. Mesmo com essa particularidade, o resultado local é muito positivo.

Na avaliação de Otávio Cunha, presidente da NTU, esse fenômeno do pouco uso do transporte coletivo é reflexo de uma política voltada para o incentivo ao transporte individual, implantada no Brasil desde a década de 1960, com o incentivo à indústria automobilística. "O setor de transporte começou a ser afetado mais fortemente a partir de 1999, um marco dos índices mais baixos de IPK brasileiros, que chegou a 1,75. Em 1994, o índice médio nacional era de 2,50 e veio caindo até que se estabilizou agora", analisa.

Cunha ainda analisa a situação do trânsito nas grandes cidades, que está chegando ao limite dos congestionamentos. "Se não forem tomadas outras medidas, essa situação vai ficar caótica", resume. Reverter esses dados não é simples. "Não tem uma recuperação muito rápida. Levamos 14 anos com essa demanda de passageiros em queda livre, e agora está mais ou menos estabilizada em um patamar muito baixo. Isso encarece muito o custo do serviço", pondera. Para ele, o cenário começou a mudar a partir de 2007, com grandes investimentos do PAC em mobilidade. A mudança de panorama deve ocorrer a partir de 2016, quando as obras de infraestrutura estiverem finalizadas e começarem a apresentar bons resultados.

Adesão

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