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O médico Marcio Nogarolli socorreu os feridos na boate Kiss: “a tristeza atingiu a todos nós” | Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
O médico Marcio Nogarolli socorreu os feridos na boate Kiss: “a tristeza atingiu a todos nós”| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Relembre o caso

A madrugada do dia 27 de janeiro ficou marcada como a data do pior incêndio do Brasil em 50 anos:

• Enquanto acontecia uma festa promovida por estudantes de vários cursos da Universidade Federal de Santa Maria, a banda Gurizada Fandangueira acendeu um artefato pirotécnico durante o show na boate Kiss. A espuma de isolamento acústico pegou fogo e os extintores usados para apagar o incêndio falharam.

• Na boate estariam mais de mil pessoas, lotação acima da capacidade. O alvará do Corpo de Bombeiros estava vencido. Uma rota de fuga difícil, a demora em perceber o fogo, a resistência dos seguranças em liberar a saída (eles queriam que os clientes pagassem a conta) e a toxidade da espuma de isolamento acústico agravaram as consequências do incêndio.

• O número de mortos chega a 238. A grande quantidade de vítimas em estado gravíssimo superlotou hospitais do Rio Grande do Sul. A chamada pneumonia química, reação do pulmão que recebeu produtos tóxicos, torna a recuperação dos feridos complicada.

• Os donos da boate e dois integrantes da banda foram presos. A tragédia desencadeou uma varredura em casas noturnas Brasil afora, resultando em várias interdições por falta de segurança.

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Quando os brasileiros foram surpreendidos com a notícia da tragédia em Santa Maria (RS) há duas semanas, muitos tiveram vontade de ajudar a população da cidade gaúcha. No entanto, poucos realmente conseguiram. Doze servidores da prefeitura de Curitiba, integrantes da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), levaram auxílio profissional e solidariedade às vítimas. O grupo passou cinco dias tentando aliviar a dor de algumas famílias.

O médico Marcio Luiz Nogarolli, a enfermeira Maria Aparecida Bueno e a fisioterapeuta Karin Juliana Cherobim Rugilo receberam a notícia da tragédia pela tevê, com a mesma reação. "Quando vi, liguei para minha chefia e me coloquei à disposição", comenta Nogarolli. Membro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ele já havia trabalhado no atendimento às vítimas da queda de um prédio em Guaratuba, em 1995.

Momentos marcantes

Na terça-feira pela manhã, dois dias após o incêndio na boate Kiss, o grupo chegou a Santa Maria para viver um dos momentos mais marcantes de suas vidas. Maria Bueno levou consigo a experiência de voluntária na Guerra Civil, em Angola, na década de 70. "Era um cenário atípico. Não estamos acostumados com tantos jovens em UTIs. Foi uma experiência que nenhuma universidade ensinaria", conta a enfermeira.

Além do atendimento às vítimas, ela correu os hospitais da região colhendo informações sobre feridos e necessidades para que o gabinete de gestão de crise pudesse tomar as providências necessárias para melhorar o trabalho. Para a fisioterapeuta Karin, foi a primeira vez em um local de tragédia. "Eu fui com muito medo, mas foi gratificante. Várias pessoas que atendemos estão evoluindo rápido", lembrou.

Os profissionais vindos de todas as partes eram recebidos com atenção e carinho. "Ofereciam a casa para dormir, almoço, não deixavam nem a gente pagar o táxi. Foi uma lição de vida, de profissionalismo, não existia a palavra cansaço ou reclamação", conta Maria Bueno. Segundo Nogarolli, as pessoas ainda estavam perplexas e não acreditavam que todo aquele sofrimento fosse real. "Estavam todos consternados. A tristeza atingiu a todos. Quando fomos ao shopping para almoçar, todas as vitrines estavam com laços de tecido preto colados nos vidros", relata.

Sala de crise está sendo montada em Curitiba

Curitiba começa a se preparar, nos próximos dias, para estruturar um gabinete de gestão de crises. Os primeiros integrantes da equipe serão os profissionais que já participam da Força Nacional do Sistema Único de Saúde. Caso aconteça uma eventualidade, haverá um grupo especializado em agir para solucionar problemas. A estruturação do gabinete está em planejamento. Em abril, 80 profissionais de saúde devem passar, em Brasília, por um curso para atuar em situações de crise. Em seguida, haverá um treinamento no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

De acordo com o Mi­­­­­nistério da Saúde, a Força Nacional do SUS é uma estrutura humanitária, baseada na rede de atenção às urgências no país. Ela tem o objetivo de prestar assistência rápida, em todo território nacional, para reduzir danos. Em alguns casos, os profissionais chegam a ser enviados em missões especiais a outros países também. A Força Nacional do SUS é composta por servidores ou empregados públicos de hospitais sob gestão federal e hospitais universitários federais, além de outros servidores públicos ligados aos municípios ou estados. Eles se predispõem e são requisitados em situações de urgência. Cerca de 200 profissionais auxiliaram nos trabalhos emergenciais em Santa Maria. (DR)

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