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Curitiba – A região amazônica, onde ocorreu o acidente que resultou na morte dos 154 ocupantes do Boeing 737-800 que fazia a linha Manaus – Rio, no último dia 29, é a mais insegura do Brasil para a aviação civil. Nos últimos 20 anos, seis das 13 ocorrências com morte envolvendo aviões de carreira ocorreram na Região Norte do país – 46%, um índice que se torna ainda mais desconfortável quando se leva em conta que apenas 11,5% dos vôos domésticos partem dessa área, as estatísticas do setor levam em conta a quantidade de acidentes por milhão de decolagens. O Norte também é campeão em perda de vidas: 59% das 417 mortes registradas no período ocorreram ali, uma sangria que tem entre as causas um sistema de controle de tráfego aéreo deficiente.

Pilotos e controladores de tráfego ouvidos pela Gazeta do Povo ao longo da semana passada dizem que os problemas são antigos embora aponte melhoras a partir de 1997, quando começaram a entrar em funcionamento as estruturas do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), um investimento de US$ 1,4 bilhão dos cofres públicos. Em 2002, o Sivam ficou pronto e seu setor de monitoramento foi rebatizado como o quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta IV) do país. Hoje ele responde pelo monitoramento do tráfego aéreo no Norte do país. Segundo os profissionais envolvidos na operação, os radares funcionam muito bem, mas o contato por rádio é ruim.

O resultado disso é uma mancha nas estatísticas de segurança de vôo no país, que estão entre as melhores do mundo. As estatísticas comprovam a boa reputação brasileira: o número de acidentes por ano caiu de 421, em 1983, para 56, no ano passado. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Flight Safety Foundation, ONG com sede nos Estados Unidos que se dedica ao estudo e prevenção de acidentes aéreos, o país tem uma média de 1,05 acidente por milhão de decolagens. O número fica abaixo da média mundial, que é de 1,2 ocorrência por milhão.

A Anac não divulga estatísticas por região, mas relatos de pilotos permitem imaginar que a situação no Norte do país não é tão favorável. "É um mar verde", resume um comandante que conduz turbo-hélices em vôos de carreira pela região – os pilotos preferem não se identificar porque temem a perda da habilitação, problemas com as companhias para quem trabalham e com os militares, que dirigem a aviação civil brasileira.

O choque entre o Boeing da Gol e o Legacy, nesse contexto, é visto como algo perfeitamente possível. Embora ainda persistam muitas dúvidas sobre o caso, uma das hipóteses mais comentadas é a possibilidade de uma ou até ambos os aparelhos estarem em uma área onde o sinal de rádio ou a cobertura dos radares é ruim. Essas áreas têm sido chamadas de "buracos negros" pelas pessoas ligadas à aviação. Os pilotos também não descartam uma falha no procedimento dos controladores de vôo.

A presença de 32 radares a serviço do Cindacta IV e a melhora dos sistemas de busca faz com que, pelo menos, o socorro às vítimas de acidentes seja mais rápido. Em março de 1989, o vôo 254 da Varig fez um pouso forçado em São José do Xingu – não muito longe de São Félix do Xingu, onde caiu o avião da Gol. Foram necessários dois dias para que as equipes de resgate localizassem o Boeing 737-241 e resgatassem os 41 sobreviventes. Treze pessoas morreram. Na ocasião, a sucessão de falhas humanas que levou a aeronave a tomar o curso errado foi agravada pelos problemas de comunicação via rádio.

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