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A rua que virou rio - Na frente da casa da família Sperber passava um riacho no qual, dependendo do dia, podia-se pular nas pedras sem molhar o pé. Desde sábado o riachinho estava enchendo de uma maneira nunca vista, por causa da chuva forte. “Até fomos deitar porque nunca nos preocupamos com o rio”, conta a mãe Ana Maria Sperber. A chuva ficou mais forte e era um tormento ouvir o barulho das pedras. O filho que morava na casa ao lado acordou à meia-noite e viu que a garagem da casa dos pais estava alagada. A estrada tinha virado rio. Mãe, pai, dois filhos, nora grávida de três meses e casal de primos fugiam da chuva. Foram resgatados pelo helicóptero na quarta-feira |
A rua que virou rio - Na frente da casa da família Sperber passava um riacho no qual, dependendo do dia, podia-se pular nas pedras sem molhar o pé. Desde sábado o riachinho estava enchendo de uma maneira nunca vista, por causa da chuva forte. “Até fomos deitar porque nunca nos preocupamos com o rio”, conta a mãe Ana Maria Sperber. A chuva ficou mais forte e era um tormento ouvir o barulho das pedras. O filho que morava na casa ao lado acordou à meia-noite e viu que a garagem da casa dos pais estava alagada. A estrada tinha virado rio. Mãe, pai, dois filhos, nora grávida de três meses e casal de primos fugiam da chuva. Foram resgatados pelo helicóptero na quarta-feira| Foto:
  • Tragédia na casa nova - Depois de meses de construção, a nova casa da família de Daniel Galdino da Silva estava pronta. A noite de domingo era a primeira que a família passava na residência. Pai, mãe e filhos dormiam quando a chuva começou a engrossar e a levar árvores e parte da terra das montanhas. Logo em seguida, começaram a aparecer familiares das casas vizinhas que pediam auxílio, já que a casa de Daniel era longe da encosta. Estava escuro e chovia muito. A terra do morro cedeu um pouco mais e o barro caiu sobre a casa, o picador de madeira e o alambique de Daniel, que desabaram. Juliano Baiher, o seu irmão e quatro amigos correram para socorrer as pessoas presas sob os destroços. Juliano conseguiu salvar dez e logo mais gente começou a ajudar. Um dos melhores amigos de Juliano estava debaixo dos destroços, o Paulinho, 17 anos, mas o grupo não conseguiu tirar mais ninguém. Juliano perdeu o amigo e Daniel, o irmão de 62 anos; o neto de 1 ano e 8 meses; e duas netas de 9 meses. Os sobreviventes choravam muito, mas tinham que deixar o local e ir para outro mais seguro. Os corpos do irmão e das duas netas ainda não foram localizados.
  • Preocupação com os pais - Paulinho, 17 anos, estava em Gaspar com os amigos. Começou a chover forte e ele ficou preocupado com os pais e os dois irmãos que moravam no Morro do Baú. Então, decidiu voltar para casa e ver como estava a família. Amigos pediram para ele ficar em Gaspar. Paulinho chegou ao Morro do Baú e encontrou a casa dos pais destruída. Eles tinham fugido para a casa do empresário Daniel Galdino da Silva, que era mais segura. Paulinho foi até a casa de Daniel, encontrou os pais e ficou com eles até que um deslizamento atingiu a casa. O jovem morreu soterrado, enquanto a família sobreviveu
  • Falsa segurança - A casa do dono de uma fábrica de conservas, Braz Martendal, encheu de lama no domingo e ele percebeu que tinha que sair de lá o mais rápido possível. Ele e a família foram para a casa do filho, onde passaram a noite em vigília. O filho orientou a irmã que morava em outra casa de que seria melhor ela ir para a casa dele também. O marido da irmã disse que o local era seguro e o casal e a filha de 11 meses permaneceram na casa. No dia seguinte, a construção desabou. Os três não conseguiram sair a tempo
  • 62 pessoas num ranchinho - A fábrica de caixas de banana de Lauro Rosa desabou por causa dos deslizamentos de terra que por pouco não atingiram a casa onde morava. A família teve que sair de lá. Foram para a casa da sogra e acabaram ficando ilhados. Lauro teve que derrubar eucaliptos para construir uma passagem por cima do rio inundado. A família chegou à casa do vizinho em cima do morro, onde 62 pessoas dividiam, um ranchinho improvisado. A esposa de Lauro, Rose Mari, diz que todos choravam e estavam desesperados.
  • Sem culto - O culto do domingo à noite foi cancelado na Igreja Protestante do Alto Baú. Uma barreira já tinha destruído parte da igreja e do salão paroquial, onde a comunidade se reunia para

As roupas estão nos varais que ficaram de pé, os carros nas garagens, os móveis dentro da casa. A vida no Morro do Baú, localidade rural de Ilhota, em Santa Catarina, parou na noite de domingo, dia 23. Depois disso, o que se viu foi dor, fuga e destruição, quando os deslizamentos de terra e as cheias do rio atingiram as casas. Trinta e sete pessoas morreram no local e cerca de 700 tiveram de ser resgatadas por helicóptero. São centenas de histórias, vivenciadas por moradores que hoje dormem em colchões nas escolas, vestem roupas doadas e não sabem para onde ir. As histórias têm nome e endereço. A reportagem da Gazeta do Povo percorreu os abrigos de Ilhota atrás delas. Um dia antes, o repórter fotográfico Rodolfo Bührer havia registrado com exclusividade, a bordo de um helicóptero da Aeronáutica, a destruição que a chuva causou no Alto Baú, região de risco máximo. Mas a imagem da destruição não dizia tudo. Escondia o heroísmo que ficou nos escombros e a esperança da reconstrução, que são relatados em cada foto ao lado.

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