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A Rua Dr. Goulin, em Curitiba, passou a ter mão única desde a última terça-feira: mudança revoltou moradores e comerciantes | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
A Rua Dr. Goulin, em Curitiba, passou a ter mão única desde a última terça-feira: mudança revoltou moradores e comerciantes| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Augusto Stresser

Mudança pode ser prenúncio de novo binário

A preocupação dos moradores por causa das mudanças na Doutor Goulin baseiam-se no receio da formação de um futuro binário na região. O projeto é antigo e há tempo está engavetado. Reportagem da Gazeta do Povo, de abril de 2008, mostra que a ideia inicial do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) era a formação do binário Augusto Stresser/Goulin. Segundo a prefeitura,

o projeto foi deixado de lado no momento por conta da oposição dos moradores.

Na época, em vez de implantar o binário, decidiu-se por medidas paliativas, como o alargamento da Augusto Stresser e a proibição de conversão à esquerda. A Doutor Goulin permaneceu com mão dupla e passou a ter preferência nos cruzamentos desde a José de Alencar até a Presidente Rodrigo Otávio. Dois anos depois, ocorreu o inevitável: a Doutor Goulin passou a ter mão dupla.

Para o coordenador do curso de Gestão Urbana da PUCPR, Fábio Duarte, "o Ippuc tem uma obsessão em fazer o binário Stresser/Goulin. E, quando fizer, vai selar a política de privilégio escancarado do carro". Duarte encara com desconfiança as últimas mudanças. "A transformação da Doutor Goulin em mão única é quase como se houvesse uma segunda intenção", diz. De acordo com a Diretran, não há nenhuma programação para a implantação de um binário formado entre a Goulin e a Stresser.

Mudanças

Confira as ruas que ganharam trechos em mão única neste ano

- Rua Lysimaco Serapião entre as ruas Waldemiro Ry e Maria Trevisan Tortato;

- Rua Lucio Razera entre as ruas Alvaro Albuquerque e Candido Hatmann;

- Rua Cel. Augusto Garret entre as ruas Nicolau Abage e Victor Ferreira do Amaral;

- Rua Natal Cecone entre as ruas Pedro V. P. de Souza e Francisco Juglair;

- Rua Travessa Luiz Gama entre as ruas Julia da Costa e Princesa Izabel;

- Rua Ceilão entre as ruas Lourival Wendler e Eng. Benedito Mario da Silva;

- Rua Des. Otavio do Amaral entre as ruas Pe. Anchieta e Saldanha Marinho;

- Rua Candido Hartmann entre as ruas Cap. Souza Franco e Pe. Anchieta;

- Rua Presidente Taunay entre as ruas Pe. Agostinho e Carlos de Carvalho;

- Rua Marcos Moro entre as ruas Lysimaco F. da Costa e Dr. Roberto Barroso.

Para evitar que a cidade pare, a receita está na ponta da língua dos especialistas: investir em transporte público e em modais não motorizados (caminhada e bicicleta), e restringir o uso do transporte individual. Mas Curitiba parece estar indo na contramão desse conceito com a implantação de mão única em várias vias e a formação de binários (ruas paralelas com sentidos opostos). Para especialistas, medidas como essas privilegiam o motorista, tornando vias antes pacatas em vias rápidas. Foi o que ocorreu na Rua Dou­tor Goulin, no bairro Hugo Lange. Desde as 11 horas da última terça-feira, a via passou a ter sentido único entre a Rua Almirante Tamandaré, no Juvevê, e a Rua Presidente Rodrigo Otávio, no Alto da XV, sentido Centro-Bairro. A novidade irritou participantes do Bicicletada, movimento de ciclistas curitibanos que defende a adoção de mais ciclovias. Mora­do­res e comerciantes da região também se dizem inconformados – principalmente com o fim das vagas de estacionamento.

Esta já é a 11.ª via a ganhar sentido único só nesse ano em Curitiba. "É uma política que privilegia o transporte individual e não é uma boa estratégia do ponto de vista da sustentabilidade", sentencia o doutor em Desenvolvimento Econômico e professor da FAE Centro Universitário, Lafaiete Neves. "Isso contraria uma tendência mundial de restringir o uso do carro e priorizar o transporte coletivo e da bicicleta", concorda o membro do movimento Bicicle­tada Fernado Rosenbaum.

Yuri Damnasceno Schultz, 36 anos, morador da região há cinco anos e também participante da Bi­­cicletada, defende que alterações como essa são medidas paliativas e fazem o trânsito fluir apenas no início. "Se você pega uma pessoa infartada e, em vez de mudar seus hábitos, coloca uma ponte de safena, um tempo depois terá de fazer isso novamente. Essas vias rápidas e binários são pontes de safena".

O coordenador do curso de Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Fábio Duarte, também critica a política da prefeitura. "A Doutor Goulin era um excelente exemplo de rua que comportava os três modais: bicicleta, carro e pedestre. Como era toda interrompida, os carros tinham de reduzir a velocidade, o que permitia que fosse usada também por pedestres e ciclistas", opina.

De acordo com Duarte, ao contrário da política adotada por Curitiba, as cidades em todo o mundo têm buscado medidas de "acalmamento de tráfego". A interrupção, estreitamento das vias, colocação de trechos em paralelepípedos são algumas das opções, segundo ele. "Curitiba fez isso durante muito tempo. Por isso, sempre foi considerada uma cidade de vanguarda".

Para o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, Orlando Ribeiro, a política aplicada pela prefeitura é necessária, mas deve vir acompanhada de medidas que beneficiem outros tipos de modais. "Uma coisa não descarta a outra. A implantação deveria vir acompanhada de calçadas bem pavimentadas para os pedestres e locais destinados às bicicletas", explica. "O problema é que essas coisas acabam não acontecendo de forma coordenada".

Outro lado

Segundo a gestora de operação do trânsito da Diretoria de Trânsito de Curitiba, Guacira Civolani, a intenção das mudanças na região é justamente priorizar o transporte coletivo e o pedestre em detrimento do carro. "O carro terá que dar mais volta. Com mão única, fica mais seguro para o pedestre atravessar e dá fluidez para o transporte coletivo". Com a mudança, a linha Cabral/Portão passou a trafegar pela Doutor Goulin, em vez de usar a Rua Augusto Stresser.

De acordo com Guacira, ainda, em outros pontos da cidade, não se verificou o aumento da velocidade nas vias que sofreram alterações semelhantes. "Se ocorrer isso, nós podemos implantar fiscalização eletrônica", assegura.

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