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Moema Zucharelli comprou um flex para contribuir na diminuição das emissões de gases de efeito-estufa e agora está confusa com as revelações das pesquisas | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Moema Zucharelli comprou um flex para contribuir na diminuição das emissões de gases de efeito-estufa e agora está confusa com as revelações das pesquisas| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo
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Em setembro, o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) lançaram dois instrumentos para medir as emissões de poluentes e de gás carbônico dos carros de passeio produzidos em 2008: a Nota Verde e o indicador de CO2. Os indicadores deveriam servir para que os consumidores pudessem comparar os níveis de emissão dos automóveis comercializados no Brasil e fazer uma escolha consciente. En­­tretanto, a divulgação desses instrumentos deu origem a um ranking que confundiu, e muito, a cabeça de motoristas que escolheram comprar um carro com motor flex por questões ambientais.

Isso porque, entre os 15 carros mais poluentes do país apresentados pelo ranking, oito são movidos a álcool, combustível considerado, até então, o mais limpo e o menos danoso à atmosfera. A relações públicas Moema Zucharelli, 47 anos, optou por comprar um carro flex em 2008, justamente por acreditar que estaria contribuindo para diminuir as emissões de gases de efeito estufa. "Depois de ver o ranking, fiquei em dúvida do que fazer. Faço o que for preciso para poluir menos, até trocar de carro novamente. Mas, por enquanto, vou continuar abastecendo o carro com álcool por entender que é a melhor alternativa", explica.

Os instrumentos lançados pelo Ibama medem emissões diferentes. A Nota Verde, criada pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve/ Ibama), calcula as emissões de três poluentes: monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio. Estes gases não têm efeito sobre o aquecimento global, mas podem comprometer o sistema respiratório humano.

O ranking dos carros mais poluentes é ba­­sea­­­do apenas no cálculo da Nota Verde, ou seja, as emissões de dióxido de carbono – estes, sim, responsáveis pelas mudanças climáticas – não foram incluídas nas medições gerais.

O levantamento das emissões de CO2 foram feitas separadamente pelo ministério e apenas com carros movidos a gasolina. "O indicador não considera a emissão de CO2 dos carros a álcool, porque o etanol é um combustível vegetal e renovável, ou seja, as próprias plantações de cana-de-açúcar capturam o carbono da atmosfera, zerando a emissão de gás carbônico", explica o engenheiro mecânico da Honda Alfredo Guedes Júnior.

Resultados controversos

A União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) criticou a metodologia usada pelo governo. De acordo com a entidade, se as emissões de CO2 fossem incluídas com os demais poluentes, a classificação seria diferente. As montadoras também protestaram contra o resultado. Tanta controvérsia forçou o ministério a criar um grupo de trabalho com a participação da Unica e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) para aprimorar e padronizar a metodologia de divulgação dos valores de emissões.

Para Guedes, o ranking avalia números sem levar em conta a qualidade das emissões. "Os hidrocarbonetos do álcool são de origem vegetal e recicláveis, ao contrário dos emitidos pelos combustíveis fósseis, de origem mineral. Já o óxido de nitrogênio não é tão prejudicial ao meio ambiente quanto os outros gases. Ele pode provocar a chuva ácida quando evaporado em grandes quantidades. Entretanto, isso só poderia acontecer se a frota mundial fosse 20 vezes maior do que é hoje", argumenta.

Já o professor de Engenharia Mecânica da PUCPR José AntonioVelásquez, especialista em motores e combustíveis, acredita que o estudo realizado pelo Ibama é coerente. "Além de ensaiarem os automóveis usando o ciclo urbano, conforme a norma sugere, eles levaram em conta, na avaliação da Nota Verde, os poluentes regulamentados mais importantes. Já quando falamos de gases de efeito estufa a discussão recai, principalmente, sobre o gás carbônico. Nesse caso o indicador de CO2 ganha importância e, como é de se esperar, mostra claramente que a preferência deve ser pelos motores movidos a etanol", argumenta.

Tecnologia

Segundo Velásquez, o mau resultado dos carros movidos a álcool no ranking da Nota Verde ocorreu porque a maioria dos motores flex são fabricados com parâmetros típicos para operar com gasolina. "A taxa de compressão é um exemplo claro dessa escolha que os fabricantes têm de fazer. Eles optam por otimizar o funcionamento do motor flex com um dos combustíveis, limitando-se a garantir que o funcionamento com o segundo combustível seja aceitável. Os automóveis que se mostraram mais poluentes foram ensaiados com os combustíveis para os quais não foram otimizados, pelo menos, as taxas de compressão que esses motores apresentam sugerem essa explicação."

No entanto, por mais que a metodologia do estudo não tenha sido clara, ele serviu para mostrar que o álcool conta com uma concentração de poluentes muito maior do que se imaginava e compromete a qualidade do ar que respiramos. Para as montadoras cumprirem o seu papel, não basta que elas apenas ofereçam opções de veículos flex. É preciso modernizar estes motores, diminuindo a queima de combustível e consequentemente as emissões de poluentes. A Honda, que tem seis modelos movidos a gasolina entre o grupo dos 15 menos poluentes, conta com motores de alumínio – mais leves – e comando de válvula variável – que otimiza o uso do combustível.

Segundo a Anfavea, as montadoras já se adequaram às novas regras de emissão que entraram em vigor no início deste ano. Um novo ranking com dados sobre veículos produzidos em 2009 deve ser divulgado em novembro. Vale lembrar que em 2014, todos os carros de passeio passarão por uma nova redução na emissão de poluentes, de 33%, segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Serviço:

Para descobrir a Nota Verde do seu carro, se este for modelo 2008, acesse www.ibama.org.br.

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