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Meu filho diz que eu não escolho bem os temas para esta coluna, que assim nunca farei sucesso, nunca serei popular. De vez em quando ele me pergunta sobre o que escrevi. Diante da resposta, invariavelmente balança a cabeça com expressão de desânimo: mais uma escolha errada. Tiago acha que eu devo escrever sobre o fim do mundo. Este, sim, um tema que chamará a atenção dos leitores. "Fim do mundo" também deve aparecer no título para agarrar os desavisados, mesmo quando o assunto for outro. Por exemplo: "O fim do mundo de Kleiton e Kledir" ou "O fim do mundo nas eleições".

O problema é que eu não me interesso pelo fim do mundo. Sou da turma que acredita que se, durante a nossa existência, o planeta Terra acabar (é dessa partezinha do universo que estamos falando, não é?), não poderemos fazer nada. Acabamos junto com ele. Ponto. Será penoso passar pela destruição em si, mas, se estiver claro que não há saída, só nos restará tomar providências práticas para as últimas horas: combinar uma boa refeição, beber um bom vinho, convidar amigos e familiares mais queridos para ficar por perto. Depois de uma prolongada refeição em que eu, particularmente, serviria uma carne com molho pesado, talvez um ossobuco ou uma rabada, jogaríamos a louça suja pela janela, deixaríamos o cachorro entrar e devorar o resto do assado e, quem sabe, sentaríamos para assistir a um filme antes que o maremoto chegasse ou que o meteoro provocasse o grande incêndio.

Uma opção é sentar em torno das fotos guardadas, no papel ou no monitor do computador, e repassar a vida. Para se despedir de tudo que há de bom, deixamos uma musiquinha inspirada tocando lá no fundo. Tudo menos John Lennon cantando Imagine. Além de ser uma canção chorosa, tem aquela história de "imagine que não existem países...". Realista demais para uma hora dessas.

Pense comigo, leitor: seria difícil escolher a trilha sonora, o último filme, o último trecho de livro, a última oração. Isto é um bom sinal, um lembrete de que tem muita coisa bonita por aí. O ser humano faz muita bobagem, mas também cria coisas bonitas.

Ocorre-me agora que a proliferação de produtos que compilam recomendações, do tipo "1.000 músicas para ouvir antes de morrer" ou "1.001 lugares para conhecer antes de morrer", são um reflexo da crença no fim do mundo. Encontrei até um site com "501 pagodes para ouvir antes de morrer"... Mas esses números são exagerados. Não dá tempo para ouvir mil canções naquelas horas finais, pouco antes de a galáxia Andrômeda se chocar com a Terra. Minha sugestão: faça sua própria lista e não subestime a possibilidade de que você venha a faltar um dia... O fim do planeta pode ser só um boato espalhado pelo Steven Spielberg, mas o meu e o seu fim, este podemos dar como certo.

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