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Ponta Grossa – Haroldo Voigt não usa fantasias coloridas, nem tem um ponto de interrogação pintado no rosto. Mas é mestre em charadas, como o personagem criado por Bill Finger e Dick Sprang, em 1948, para ser inimigo do Batman.

O homem-charada do Paraná é um senhor de 76 anos que já criou quase 2 mil enigmas. Aposentado como auditor fiscal da Receita Federal, ele passa o dia lendo jornais, conversando com os amigos e criando novas pegadinhas para colocar em xeque a esperteza de quem o rodeia.

Voigt mora em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e foi no fim da década de 40 que começou a se interessar pela arte da charada. Era leitor assíduo de revistas como "A Recreativa", que promovia competições nacionais do passatempo. Apesar de nunca ter ganhado um torneio, ele entregou-se à paixão pelo hobby.

Coleção

Em 60 anos de atividade, Voigt adquiriu livros e dicionários que hoje lotam sua estante. Possui pelo menos 40 edições especializadas, as quais manuseia para ter inspiração no dia-a-dia. Entre as raridades estão enciclopédias de charadistas, livros de fábulas, de mitologia e dicionários de monossílabos. "Tenho também dicionário inverso, onde primeiro você procura o significado para depois descobrir a palavra", comenta.

Para não ficar só na técnica, Voigt também se interessou pela história da charada e descobriu que ela teve origem um milênio antes da era cristã, com o personagem bíblico Sansão. A partir do enigma "Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura", Sansão contou aos filisteus que matou um leão que tentava atacá-lo e, tempos depois, encontrou o cadáver do animal numa estrada com a boca cheia de abelhas e um favo de mel. O mel, inclusive, serviu de alimento para Sansão.

Esfinge

A charada mais famosa, de acordo com Voigt, veio do Antigo Egito, com o enigma da esfinge, que satirizava as fases de desenvolvimento do homem: "Qual é o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três de tarde?", referindo-se à fase de engatinhar, à idade adulta e à velhice do ser humano, quando somos apoiados por bengalas. A partir daí, conta o aposentado, surgiram charadistas que se tornaram famosos na literatura brasileira e mundial por meio de outros atributos, como Olavo Bilac e Edgar Allan Poe.

Para se tornar um especialista na modalidade, Voigt recomenda apenas "força de vontade". Ele afirma que, além da leitura especializada, o bom charadista deve prestar atenção nos macetes presentes em cada enigma e se entregar integralmente ao hobby. Ele dá exemplos simples. "A placa do meu carro é uma charada: AMO 2571. É uma homenagem à minha esposa", diz. Além da palavra amo, que vem do verbo amar, a seqüência de números, em numeração ordinal, remete às letras do alfabeto, que formam a palavra Bega – apelido de Abegail – o nome da mulher do homem-charada.

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