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"Nossa, como você está magrinha!" Ganha um doce (light) a mulher que for capaz de negar que não sonha em ouvir essa frase todo santo dia. A modelo paulista Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, e a estudante de moda Carla Sobrado Casalle, de 22, levaram esse desejo às últimas consequências. Ana Carolina morreu na terça-feira, pesando 40 quilos em seus 1,74m. Carla também media 1,74 e pesava 55 quilos quando faleceu em Araraquara (SP), na última quinta-feira. Ambas sofriam de anorexia.

O padrão andrógino/subnutrido criado nos anos 60 pela modelo britânica Twiggy Lawson – e cristalizado a partir dos 80 por tops internacionais como Kate Moss, que aos 26 anos pesava 43 quilos – transformou magreza em sinônimo de beleza no imaginário feminino. A mulher que usa manequim 40 quer entrar no 36, e a que já usa o 36 sonha que criem o 32. E essa idéia é transmitida de mãe para filha. "Quase todos os casos de anorexia nascem de um conflito na relação da mãe com a filha", explica o psiquiatra e psicanalista Géo Marques Filho. "Ela tem dificuldade de enxergar a filha como outro ser, e transfere para ela questões suas, busca realizar desejos seus como se fossem da menina." Assim a equação fica infalível: modelos esquálidas + fama + dinheiro pela admiração unânime das mulheres "comuns" x expectativa das mães = anorexia, desnutrição e morte.

A ironia é que a beleza, que desencadeia o doloroso e arriscado processo de emagrecimento radical, se esvai à medida que o quadro da anorexia se agrava. "O padrão de beleza de hoje continua sendo o de uma mulher magra, o que estimula que as meninas persigam este modelo", acrescenta Marques Filho. "Mas a beleza é apenas a justificativa inicial, o quadro subjacente já é mais grave. Elas passam a ter uma distorção do corpo e da própria imagem. Por mais magras que estejam, elas se enxergam gordas, deformadas, feias."

Mesmo porque a ausência de nutrientes decorrente da renúncia à alimentação acabam consumindo o que havia de belo nessas garotas. "Elas ficam horríveis, cadavéricas, começam a perder cabelo, as unhas ficam fracas, a pele flácida, e também desenvolvem mau hálito, em decorrência dos vômitos constantes", descreve a psiquiatra especialista em transtornos alimentares Carmen Lúcia Schetini.

A degradação física da anorexia também se manifesta no amolecimento dos dentes, fragilidade óssea, interrupção do crescimento e da maturidade sexual, amenorréia (interrupção da menstruação), baixo rendimento intelectual, vulnerabilidade a infecções, pressão baixa, lesões renal e cardiológica. Carla, por exemplo, teve duas paradas cardíacas enquanto se tratava no Hospital Beneficência Portuguesa.

Na cabeça da anoréxica, porém, tudo isso é apenas o preço a pagar pela busca da "perfeição". "Eu via que eu tinha mau hálito, meu cabelo estava cada vez mais fraco, a unha escamava, não tinha mais ciclo menstrual, minha pele parecia pele de velha, mas eu achava que tinha que passar por isso para chegar à perfeição", conta a estudante e ex-modelo internacional Laryssa Terres, 19 anos, 1,72m, que chegou a pesar 35kg. "Ainda bem que hoje eu sei que a perfeição não existe."

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